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Felipe Zmoginski

Felipe é ex-head de marketing do gigante tech chinês Baidu e fundador da Inovasia, consultoria de negócios Brasil - Ásia.

Transporte "limpo"

Shenzhen, na China, realiza utopia de metrópole com carros elétricos

13/02/2020 18:27
Por décadas acusada de ser um poluidor impiedoso, a China é hoje o país que mais produz energias renováveis e a nação que lidera a substituição das frotas de carros movidos a gasolina e diesel por veículos elétricos.
A maior fabricante mundial de veículos movidos a energia elétrica, por exemplo, é a chinesa BYD, responsável por realizar a utopia perseguida por muitas metrópoles no mundo: substituir toda a frota de ônibus urbanos e táxis movidos a combustíveis fósseis, por veículos elétricos. Em algumas paradas de ônibus, o piso sobre o qual estaciona o coletivo é capaz de recarregar a bateria do veículo, em um engenhoso processo que permite uma espécie de recarga "on the road”.
Há uma década, quando o céu de Pequim era escuro como noite, a venda de veículos do tipo ocorria graças a generosos subsídios. Hoje, no entanto, o processo é inverso. Não há vantagens fiscais na fabricação dos carros elétricos, mas emplacar um veículo a gasolina está ficando progressivamente mais caro nas cidades chinesas, o que, na prática, empurra muitos consumidores para a matriz limpa.
Recentemente, a Xpeng
Motors, outro player chinês de carros elétricos, anunciou investimentos na
TELD, maior empresa local de estação de recargas. O investimento permitirá
levar a mais 30 cidades pontos públicos de acesso aos “superchargers”,
equipamentos capazes de dar carga de 80% em um automóvel (o suficiente para
eles rodarem por 200 quilômetros) em apenas 50 minutos.  É o tempo de almoçar, por exemplo.
A expansão das estações públicas de recarregamento, que são opções às recargas noturnas que os proprietários de carros elétricos realizam em suas casas, contribuem para maior adoção deste tipo de veículo. Em muitas cidades chinesas, o maior investimento para ter um carro não é a compra do veículo em si, mas a aquisição de uma licença para emplacá-lo.
A lógica local é
tributar o uso e propriedade dos carros, incentivando a população a usar
alternativas públicas de transporte. Exceção é feita aos carros elétricos, como
os BYD, Xpeng ou os estilosos NIO, espécie de versão chinesa da Tesla.
De acordo com a Aliança Chinesa para a Promoção de Veículos movidos a energias renováveis, os investimentos das empresas privadas a cima já tornam, com larga vantagem, a China o país com maior infraestrutura para carros elétricos, bem à frente do segundo e terceiro colocados, Estados Unidos e Japão.
Não à toa, soluções de compartilhamento de transporte, lideradas pela Didi, que no Brasil controla a 99, são super populares no país, como bike sharing, eletric-bike sharing ou o clássico carro compartilhado por aplicativo. Recentemente, as grandes cidades chinesas como Pequim, Xangai e Shenzhen, vivem um boom também de compartilhamento de automóveis, graças a sérvios como o GoFun, um app que permite desbloquear um carro estacionado na rua e usá-lo como usamos uma patinete ou uma bicicleta. Paga-se por hora.
A solução busca
atender aqueles  usuários que se viram
bem com metrô e ônibus no dia a dia, mas, às vezes, querem usar o carro por uma
hora, para ir fazer compras no supermercado, levar o cachorro ao petshop ou
mesmo ter autonomia de visitar um parente que vive em alguma localidade
remota.  Os carros compartilhados, claro,
são também elétricos.
Para além da inegável emergência em reduzir as emissões de dióxido de carbono, o esforço chinês tem um objetivo também perseguido pelas potências ocidentais: diminuir sua dependência da importação de petróleo.