Leticia Dami*
Capacitação
Precisamos do protagonismo feminino na tecnologia (de novo)
Ada Lovelace. Frances Allen. Katherine Johnson. Algum desses nomes soa familiar? Talvez, se você estuda sobre a área de tecnologia, tenha esbarrado em alguns deles, mas ainda são bem pouco conhecidos em comparação com o impacto que tiveram no mundo. Estou falando de mulheres que tiveram papéis centrais na história da tecnologia — Lovelace, por exemplo, é considerada a “mãe da computação” por ter tido a ideia do primeiro programa computacional, ajudando assim na criação do primeiro algoritmo.
Frances Allen também atuou com computação, na otimização de compiladores e com criação de sistemas de segurança digital. Foi a primeira mulher a receber o prêmio Turing. Já Katherine Johnson trabalhou na NACA (que se tornaria NASA futuramente) e foi responsável pelo cálculo de trajetória que permitiu que o famoso Apollo 11 pousasse na lua.
Essas são apenas algumas das mulheres da tecnologia que eu poderia citar aqui, mas é curioso pensar que a maioria das mais famosas são do século passado e retrasado. Se elas já estavam quebrando paradigmas há tantos anos, por que é que, hoje, parece ser tão difícil encontrar mulheres na área?
Não é impressão que elas estavam aí no passado e então “desapareceram”. Um estudo feito pelo podcast Planet Money, da National Public Radio (NPR) nos Estados Unidos, mostrou uma queda brusca na quantidade de mulheres em cursos de Ciências da Computação em meados da década de 1980. Elas eram maioria e, então, passaram a ser minoria, cada vez mais.
A USP publicou um estudo similar mostrando que o mesmo cenário foi visto no Brasil. Em 1974, a primeira turma de Ciências da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME) era composta em 70% por mulheres. Na classe de 2016 do mesmo curso, elas ocupavam 15%.
Mais pesquisas investigaram a razão para essa mudança e chegaram à mesma conclusão: meninas são desestimuladas a investir nas áreas de tecnologia (e exatas de forma geral), fazendo com que desistam antes mesmo de começar. É o que dizem relatórios do Journal of Computing Sciences in Colleges e também da Microsoft.
Coincidentemente — ou não —, a partir dos anos 80, os nomes mais conhecidos atualmente da tecnologia começaram a surgir. Bill Gates e Steve Jobs receberam muito mais atenção do que qualquer uma das pioneiras que citamos acima. A participação feminina na área, por mais impactante que tenha sido, nunca foi reconhecida da mesma maneira e seguiu cada vez mais invisibilizada.
Essa falta de representatividade afastou meninas dos cursos de exatas, computação e afins. E é por isso que, atualmente, vemos iniciativas buscando resgatar o legado daquelas mulheres e incentivar que outras entrem nessas carreiras.
Além disso, é inegável que o mercado precisa de mais profissionais. Estamos superaquecidos e com déficit claro nas equipes de inúmeras empresas. Mais mulheres se capacitando significa uma baita melhora nos números da área.
O trabalho para alterar essa realidade é conjunto e longo, mas, felizmente, já está surtindo resultados. Na Raccoon.Monks, vimos um aumento de 16% de mulheres nos processos seletivos do último trimestre, o que fez com que a participação feminina no recrutamento chegasse a 46%. Isso não aconteceu do nada: tivemos ações de incentivo a candidaturas femininas e projetos de formação específicos para esse público, como o Mulheres no .
Espero que o mercado siga entendendo o potencial e a importância de termos mais mulheres trabalhando com tecnologia. É preciso mostrar e provar que a tecnologia é lugar de todas nós.
*Leticia Dami é Gerente de Data Analytics na agência de soluções digitais full service Raccoon.Monks. A empresa se fundiu, em 2021, ao grupo S4 Capital, holding de publicidade digital fundada por Martin Sorrell, passando a se chamar Raccoon.Monks