NRF 2025: o varejo do futuro começa agora

Todo começo de ano, Nova York se transforma no epicentro do varejo global com a NRF Retail Big Show. Para quem trabalha no setor, estar presente nesse evento é uma oportunidade única de enxergar o que está por vir e como a tecnologia está moldando o comportamento do consumidor e a experiência de compra. Este ano, mais uma vez, tive a chance de participar e absorver insights que vão redefinir a forma como operamos.

Já estive na NRF em outras edições, mas, desta vez, a presença e o domínio da inteligência artificial ficaram evidentes. Estamos diante de um momento no qual a IA não é apenas uma tendência, mas uma necessidade urgente. Para os varejistas que ainda não começaram a utilizá-la, a grande questão é: por onde começar? A resposta é simples: pelos desafios. Qual problema precisa ser resolvido? Atendimento, eficiência operacional, experiência do cliente? A tecnologia está aqui para responder a essas demandas.

A palestra de abertura, com John Furner, presidente do Walmart, e Azita Martins, VP da NVIDIA, deixou claro que o varejo está em plena transformação. Os chamados "agentes de IA" vão revolucionar desde a organização dos centros de distribuição até a personalização da experiência de compra. Vemos, por exemplo, gêmeos digitais de lojas e centros de distribuição que permitem testar operações no ambiente virtual antes de qualquer investimento físico. Isso reduz custos e aumenta a precisão das decisões.

Outro ponto forte é a personalização. A IA aplicada ao varejo não significa apenas eficiência operacional, mas também previsibilidade de consumo, melhoria na experiência do cliente e otimização de estoques. Como ficou evidente na NRF, quem não estudar e dominar IA, inevitavelmente, trabalhará para ela.

Apesar do crescimento do e-commerce, as lojas físicas continuam sendo um pilar essencial do varejo. Hoje, 80% dele ainda acontece presencialmente. Mas, para se manter relevante, a loja precisa ser mais do que um espaço de transação – ela deve oferecer experiência e entretenimento. Os consumidores estão dispostos a pagar mais por uma jornada de compra diferenciada - e o varejo precisa entender que a conexão emocional é um ativo tão valioso quanto o preço.

Esse pensamento está alinhado ao que foi discutido nas palestras da Nordstrom e da Burberry, que reforçaram a importância da autenticidade. As marcas que se sustentam ao longo do tempo são aquelas que evoluem sem perder sua identidade. Manter o consumidor no centro da estratégia continua sendo a chave do sucesso.

Outro tema bastante debatido foi a relevância dos dados. Eles são a base para a tomada de decisão estratégica. Empresas que sabem coletar, analisar e interpretar dados conseguem criar ações mais assertivas e personalizadas, otimizando seus resultados.

Além disso, o propósito foi um fator amplamente abordado. Ter clareza sobre a missão da empresa é essencial. A estratégia pode mudar, mas a missão precisa ser consistente, pois ela conecta colaboradores, consumidores e parceiros. No varejo, a autenticidade se tornou um valor inegociável.

Percebi que o gap entre o Brasil e os Estados Unidos no acesso à informação nunca foi tão pequeno. Estamos cada vez mais globalizados e conectados. Um reflexo disso foi a presença massiva de brasileiros na NRF, representando 30% dos participantes do congresso. Isso mostra que estamos atentos às transformações e buscando soluções que se adaptem ao nosso mercado.

Outro destaque foi a representatividade feminina. A maioria das apresentações foi conduzida por mulheres, reforçando que o protagonismo das mulheres no setor está mais forte do que nunca. Quem ainda duvida que lugar de mulher é no comando, precisa rever seus conceitos.

Além das palestras, a exposição de soluções tecnológicas foi um show à parte. Vi de perto como a tecnologia está sendo aplicada para otimizar processos e aumentar a rentabilidade dos negócios. Desde pulseiras e braceletes inteligentes que facilitam a logística, até sistemas de self-checkout que automatizam trocas e devoluções. O avanço da IA em e-commerces também chama atenção, com agentes virtuais que entendem melhor as necessidades dos clientes e oferecem recomendações mais precisas.

Outra inovação que chamou minha atenção foram os robôs de entrega, já uma realidade em países como a China, e os scanners de corpo, que ajudam a reduzir trocas de roupas ao indicar a modelagem correta. São soluções que, em breve, estarão mais acessíveis globalmente.

A NRF não é apenas um evento de tendências, mas uma construção em camadas. O que discutimos nas edições anteriores agora faz parte da realidade do varejo. Por isso, é essencial sair da nossa bolha, olhar para o futuro e alinhar a estratégia do negócio com essas transformações. O varejo não será o mesmo nos próximos anos – e quem não acompanhar essa revolução, certamente, ficará para trás.

A NRF 2025 reforçou que inovação, autenticidade e propósito são os pilares para o sucesso. E, mais do que nunca, precisamos estar preparados para liderar essa mudança.