Entrevista
Com 50 anos de atuação na área florestal, Grupo Index lança startup
MapForest 4.0 é o nome da primeira startup do Grupo Index, companhia quinquagenária e com expertise na área florestal. E o que eles buscam? “Mais 50 anos. E para isso acontecer a resposta é a inovação”, declara o sócio-diretor do Grupo, Rodrigo de Almeida.
Segundo Almeida, a MapForest 4.0 surgiu de uma ideia simples, de um algoritmo que a equipe criou há algum tempo para identificar florestas no Brasil. A partir daí, o trabalho foi de aperfeiçoamento do produto com toda a bagagem que a companhia de mais de cinco décadas carrega.
O Grupo Index é uma empresa de abrangência global, mas que começou em Curitiba. No seu guarda-chuva abraça a Confal, empresa boutique; a Index Florestal, que atende a demandas da silvicultura; a Index Ambiental, voltada à engenharia florestal e ambiental; e a Forest2Market, que realiza estudos de mercado e de preço, além de assessoria para empresas internacionais que desejam investir no Brasil. Agora, com a MapForest 4.0 o conglomerado busca ser reconhecido como um agente democratizador da informação sobre o setor. “É um novo olhar para a expertise que temos”, falou Rodrigo.
De maneira prática, a startup unifica, em uma plataforma geoespacial, informações públicas e privadas de mercado em um único sistema. Isso facilita o acesso de produtores florestais, investidores e outros players do mercado ao know-how e conhecimento da área. Também é uma ferramenta de gestão, que traz agilidade ao mercado de florestas plantadas.
A startup foi uma das escolhidas, entre mais de 100, para ser acelerada pela Incubadora Santos Dumont, no Parque Tecnológico Itaipu (PTI-BR).
A MapForest 4.0 é o pontapé inicial para um plano ainda maior do Grupo Index: ser um hub de inovação e tecnologia para pensar o mercado florestal. “O setor florestal é extremamente poderoso e está escondido dentro do agronegócio. É um mercado com muito potencial”, provocou Rodrigo.
O Brasil conta com mais de 300 mil produtores florestais. Destes, 220 mil estão localizados na região Sul, sendo que 47 mil estão no Paraná. O GazzConecta conversou com o executivo sobre os desafios e novos caminhos da área.
Vendo em retrospectiva a trajetória do Grupo, como enxerga esse novo passo?
Nossa história começou em 1971, com a Confal – uma consultoria na área florestal – e com o objetivo de contribuir com o desenvolvimento do Brasil. E isso continua. Nosso modelo de negócio, historicamente, tem por característica absorver outras empresas. Desenvolvendo e seguindo nesta linha, acabamos criando e agregando inteligência. Acreditamos que a grande inteligência está nas pessoas e, assim, convidando quem se destaca para ser sócio, nos tornamos o Grupo de hoje. Atuamos desde a cadeia de base - as florestas - até a ponta dos negócios internacionais - aquisições, fusões, entre outras movimentações.
Toda essa trajetória nos dá alguns indicativos: US$ 6 bilhões em ativos florestais avaliados; 1.750.000 hectares de áreas monitoradas (SIG); 45 mil hectares de gestão florestal; US$ 3 bilhões em apoio a transações florestais; 750.000 hectares preparados para a certificação, entre outros números que nos levam a ser uma das maiores empresas na área. Claro que isso tudo é muito bacana, mas a gente chegou aos 50 anos e queremos mais 50 anos. E para isso acontecer a gente precisa ter uma visão de futuro, o que nos leva o assunto de hoje, a inovação. A MapForest 4.0 é o mais novo desafio.
Para você, o que é inovar?
Eu acho que todo o mercado, não importa qual, precisa de um processo de inovação e o Grupo Index vem pensando nisso há mais de um ano. Orgulhosamente, agora, surge a nossa primeira startup, como uma primeira spin-off do Grupo.
E o que isso significa? Que estamos olhando todos os nossos serviços e pensando como a gente traz isso para a Era 4.0. Estamos avaliando de que forma a gente traz isso para uma era digital. Temos um grupo de pessoas internas, com o apoio de pesquisadores, que estão na Argentina, no Uruguai, nos Estados Unidos, e que estão pensando a inovação dentro dos serviços que nós prestamos. Esse é o nosso desafio constante.
Nosso plano de inovação não envolve só a startup. Esse grupo de trabalho que estamos desenvolvendo também é o embrião de um hub florestal.
“Estamos olhando todos os nossos serviços e pensando como a gente traz isso para a Era 4.0."
Quais os desafios do mercado?
São alguns. A primeira coisa que eu vejo é que é preciso destacar o setor florestal, além do agro. O agro, sem dúvidas, é um grande setor e dentro dele existem outros compartimentos. Hoje, por exemplo, se formos olhar, o desafio começa com as startups. Temos no Brasil mais de 13 mil que estão inovando. Dessas, aproximadamente 5% são startups voltadas para o agro – o que dá cerca de 600 startups. Mas quando vamos ampliando o recorte para setor florestal – que representa 5% de toda a exportação do agro, quando falamos de Paraná representa 11% – a gente vai reconhecer, se reconhecer, cerca de 10 startups focadas no setor e suas demandas. O que é muito pouco.
Existe o desafio que é a gente direcionar o olhar para algo que vem crescendo e vai crescer cada vez mais. Nós temos 9 milhões e meio de hectares plantados de florestas no Brasil. E dentro disso começam a aparecer muitas oportunidades.
ESG [Environmental, social and corporate governance] é uma delas?
Na área das mudanças do clima a gente passou por inúmeros momentos, mas finalmente parece que começamos a chegar aonde precisamos que, ao meu ver, é quando passamos a falar de meio ambiente como business.
Aí entra a ESG. Parece que, hoje em dia, a gente só escuta essas três letrinhas. Mas antes falávamos de sustentabilidade corporativa, sustentabilidade como processo socioambiental, empreendedorismo de impacto, e qual é a diferença hoje? E que eu vejo com muito bons olhos. É que, finalmente, a gente bateu no setor financeiro. E não é possível ter lucro infinito com um recurso finito. A gente começa a entender que não existe só demanda neste processo, existe resíduo, existe matéria-prima, existe descarte, e isso vai entrar no modelo de negócio das companhias. Entende como começam a surgir vários desafios?
A gente para de pensar no poluidor pagador, da obrigatoriedade. Eu vejo que, finalmente, a gente começa a entrar numa nova forma de enxergar, que seria o conservador recebedor. Porque hoje a lei obriga a fazer e, na visão geral, isso é um grande problema. Porque o empresário trata o meio ambiente e toda a carga socioambiental como um custo. Esse é um desafio para inovação, dar um olhar diferente.
Falando sobre a atuação da startup, pode dar um exemplo concreto de uma dor que a MapForest 4.0 resolve?
O primeiro produto que vamos lançar é para atender o mercado. Por exemplo: hoje há uma competição de área para a agricultura, pecuária e para a floresta. Então, empresas que dependem da matéria prima das florestas plantadas – celulose, painéis, MDF, entre outros – precisam garantir o seu fornecimento. E, para isso, precisam de acesso a estudos deste universo – que envolve entender onde estão as áreas viáveis e quais destas não estão competindo nem com a agricultura e nem com a pecuária. E essa conta é um pouco complicada de fechar porque o problema maior está na liquidez. Eu explico: um proprietário que tem a possibilidade de investir na agricultura, nunca vai plantar floresta porque a agricultura permite uma liquidez todo o ano, já que ele pode ter duas safras no mesmo ano, por exemplo. A pecuária também segue nesta linha.
Então, a startup vem para resolver isso. Criar uma forma, uma base de dados, onde os clientes acessam essa informação em tempo real, na palma da mão. É um estudo que a gente já realiza hoje, na forma tradicional, mas vamos promover o acesso.
Depois, vamos começar a atender parte dos produtores florestais, que são a grande maioria, apesar de possuírem florestas pequenas. Atualmente, são 340 mil produtores no Brasil. Desses, aproximadamente 300 mil são pequenos produtores, com menos de 100 hectares de florestas plantadas. Essas pessoas hoje não têm acesso a consultoria, informação, muitas vezes estão plantando sem saber o valor real das suas florestas e acabam ficando reféns. Isso é muito ruim para o setor como um todo, porque esses pequenos poderiam ser os grandes fornecedores de matéria prima, como acontece nos países mais desenvolvidos.