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Como CEO do iFood, Diego Barreto quer ser uma alavanca de vendas para restaurantes parceiros, além de ajudá-los a reduzir custos. Crédito: Inove.

Entrevista exclusiva

Do online para o offline: futuro do iFood é ser "uma solução de ponta a ponta" para os restaurantes, segundo o novo CEO

Fernando Henrique de Oliveira
Fernando Henrique de Oliveira
21/06/2024 18:40
Na quinta-feira (20), o iFood anunciou o lançamento do iFood Pago, seu banco digital para restaurantes. No seu perfil do LinkedIn, Diego Barreto, CEO da empresa desde maio, disse estar empolgado com o novo momento, fruto de anos de testes "em vários pontos de contato com os restaurantes". O novo banco oferece soluções financeiras completas, como conta digital, linhas de crédito específicas para os restaurantes e a maquinha do iFood - a "maquinona" como a empresa a tem chamado.
Com o iFood Pago, a plataforma de delivery chega definitivamente ao mercado de serviços financeiros percorrendo um caminho aparentemente desenhado desde quando ela passou a expandir seu ecossistema com a oferta de crédito para os restaurantes parceiros há poucos anos. Na postagem no seu perfil no LinkedIn, o CEO reforçou a ideia de que o iFood é mais que delivery. "Somos um ecossistema", escreve.
Antes do anúncio do iFood Pago, Barreto esteve em Curitiba para participar do ConectaPR, iniciativa do Sebrae/PR voltada para startups. O CEO fez a palestra de abertura do evento na sexta-feira (14). Nela, ele destacou que, para um negócio crescer, é necessário se antecipar aos movimentos do mercado. "O iFood é bom e grande no que faz porque muda de comportamento. Temos 12 anos de história e, somente no ano passado, entregamos um bilhão de pedidos", disse.
Em entrevista exclusiva ao GazzConecta, Barreto não sinalizou para o anúncio do iFood Pago, mas falou sobre sua visão de futuro para o negócio, a de ser, cada vez mais, "uma solução de ponta a ponta para os estabelecimentos em que o iFood opera" de forma a fortalecer o seu ecossistema que também, segundo ele, cada vez mais se expande para o offline. A maquininha, que até então estava em fase de teste, é um dos exemplos de como a empresa espera colaborar com os seus restaurantes parceiros. 

Você chega à presidência do iFood depois de a empresa atingir resultados significativos no ano passado, com faturamento de R$ 7,1 bilhões, um crescimento de 40% em relação a 2022. Como você avalia essa transição?

Diego Barreto: Eu chego de uma forma tranquila. Primeiro, porque estou no grupo Movile há oito anos. Especificamente como VP do iFood, eu estava nos últimos seis anos. Em geral, a liderança da empresa também está nela por volta disso, seis ou 8 anos em média. Nesse sentido, você já tem um nível de conexão, de relação que já está estabelecida. Segundo, porque a empresa vai bem. Estamos crescendo. Então, é diferente de você entrar em uma empresa e falar: "putz, tem um problema aqui, preciso achar a solução para esse negócio". Por isso digo que é uma transição calma, simples. Tem desafios novos pra mim, mas para o iFood é uma transição simples, uma vez que tudo já está no lugar.

Quando foi anunciada a transição, você disse que ela daria continuidade à visão estratégica do iFood, mas, agora, fala de desafios para você na gestão do negócio. Quais seriam eles?

Assim, a continuidade é a real, é a tônica. Os desafios de agora são os mesmos que já existiam. Por isso, eles estão encapsulados nessa continuidade. De novo, como a empresa vai bem, como a empresa tem uma visão que vem se materializando, estratégias que vêm dando certo, a pergunta é: "por que mudar o negócio?". Não faz sentido. Os desafios já são grandes. O ponto é saber se as estratégias estão conseguindo superar os desafios. Se sim, eu devo continuar com elas. eu deveria continuar, então esse é o ponto. Mas o que eu tenho de desafio aqui? Bem. é um desafio interno que se chama cultura. O iFood é o que é por causa da sua cultura. Não temos aqui um Professor Pardal, alguém que é mais inteligente que a média. Nós somos pessoas que nos comportamos de um jeito que a gente acredita que é o que gera o resultado. Nós nos comunicamos de um jeito que simplifica muito o processo de troca de informação e temos um nível de agilidade e energia muito alto. Se eu não mantenho isso, o desafio fica maior que a minha capacidade de execução, minha capacidade de inovação. Esse é um desafio contínuo e está encapsulado nessa discussão sobre continuidade. 

Você fala em estratégias para superar desafios. Poderia citar algum exemplo?

Vamos lá. Acho que, primeiro, a gente já vem de um processo de olhar cada vez mais para a realidade de comida e dizer: "cara eu posso ir além da venda online". Então, a gente, cada vez mais, está colocando o pé no offline; cada vez mais eu tenho ferramentas para o restaurante gerir o dia a dia offline dele, o salão dele; cada vez mais eu tenho uma capacidade de gerar tráfego no ambiente offline do restaurante. Um exemplo? A maquininha que a gente está testando nesse momento e que tem tido resultados muito bons. Ela é uma maquininha que captura a transação, como as demais. Até aí, ela não tem nada demais. Mas onde está a beleza? Está na inovação que a gente conseguiu fazer para chavear a informação que você coloca na maquininha usando o cartão (físico ou digital) com a minha base de dados online. Isso permite dizer que um cliente A ou B não costuma vir ao restaurante, mas que ele costuma comprar pela plataforma online. Com essas informações, o restaurante pode desenvolver estratégias de atração de clientes, por exemplo. A mesma coisa de forma contrária, um cliente A ou B nunca consumiram online, mas estão sempre no offline. o restaurante pode estimulá-los ao consumo pela plataforma. Em resumo, é uma maquininha que, ao capturar a transação, consegue compreender padrão do usuário e, portanto, sugerir algo para o restaurante. É uma extensão do online para o offline. Essa é uma das estratégias, uma das mais importantes no momento. 

Em locais e em quantos restaurantes a maquininha está sendo testada? 

A gente está testando primeiro na região da Grande São Paulo por uma questão de simplificação, já que o iFood está em São Paulo. Hoje, temos operando quase mil maquininhas e conseguimos acompanhar os resultados. Já sabemos que o nível de satisfação é maior em relação às maquininhas que já existem no mercado - e o preço é o mesmo. Também sabemos que o volume de vendas dos restaurantes que estão testando o produto já tem crescido comparado ao período pré-maquininha; Ou seja, é uma ferramenta de CRM que está funcionando. 

É uma maquininha inteligente então, diferente das demais. Como ela faz para interligar informações e funcionar como uma ferramenta de CRM? 

Isso. Na verdade, ela não tem nada das outras. Ela parece. Se você olhar fisicamente, você vai falar: "nossa, é igual às outras que eu conheço". Só que o que ela tem ali embarcada é uma inteligência de dados com IA que eu já tenho na minha plataforma. Você só consegue olhar para uma pessoa e dizer que ela já conhece esse restaurante se você tiver o dado. Pensa: hoje, a quantos restaurantes ou comércio de forma geral você já foi, passou seu cartão e ninguém falou nada com você? Na maioria das vezes, ninguém nunca falou "ah, você vem sempre aqui" quando você está passando o cartão. Com a maquininha, eu tenho essa capacidade de falar coisas como "ah, você não conhece minha marca" e fazer algo com isso. Ela é uma ferramenta de geração de vendas, porque eu consigo olhar para o cliente A ou B e dizer que são dois clientes totalmente diferentes, apesar de os dois estarem no mesmo momento passando o cartão no meu restaurante. 

A maquininha é um passo em direção ao futuro do iFood, cada vez mais offline, como você diz. O que mais você vê nesse futuro? 

Cara, a visão de futuro é ser uma solução de ponta a ponta para os estabelecimentos em que o iFood opera, com os quais ele trabalha. Então, quando eu falo do restaurante vender no online com a gente, quando eu falo do restaurante poder vender via WhatsApp com a gente, quando eu falo do restaurante podendo fazer o seu sistema de pagamento de CRM lá no salão com a gente, quando eu falo do restaurante usando já as nossas tomadas de pedido nos garçons ou operações de gestão da cozinha, eu estou dizendo que estou abraçando tudo isso. Esse é o iFood, este é o ecossistema do iFood. 

E para onde você está olhando com isso? 

Eu estou olhando para a simplificação dos processos do restaurante, para a redução de custo da operação dele enquanto eu vendo. Eu quero ser alavanca de vendas e quero reduzir o custo da operar. Quero essa simplificação. É isso que torna o iFood essa grande cola desse ecossistema. 

Algum exemplo de como isso já está acontecendo?

Tenho. A maquininha é um. Também desenvolvemos um tomador de pedidos no nível do restaurante, isto é, o garçom já tem um tomador de pedidos todo integrado com nossas outras ferramentas. A gente já desenvolveu ponto de venda (POS) no balcão, de onde você consegue controlar a parte da operação do restaurante ali pelo balcão mesmo. Assim a gente está caminhando. O que estamos testando agora, também, é um totem pra tomada de pedido. Então, a soma dessas mecânicas aqui é o que vai definindo a realidade das estratégias que estamos tomando. No fim, são várias ferramentas no mundo offline. E se pegamos a utilização de uma ou duas, estamos operando em quase 40 mil restaurantes no Brasil inteiro.

Como você definiria a sua missão no iFood já que a empresa está olhando, agora, para além do delivery, com essa presença maior também no offline?

A minha missão ali é continuar o processo de dar concretude pra uma empresa que se organiza como um ecossistema e que, portanto, efetivamente, cria esses pontos de conexão que precisam estar juntos. Essa vinda do online pro offline é um ótimo exemplo. Eu estou adicionando novos pontos de contato com o mesmo restaurante. Você vê que, no final, o restaurante pode não vender comigo no app, mas ele pode usar a minha ferramenta lá para a operação dele. Ele pode não me usar como um sistema de pagamento online, mas pode usar no offline, porque ele quer a base para poder gerar tráfego. Você vê como existe um processo agora de ir dando concretude para essa filosofia aqui do ecossistema que é muito muito grande. Então isso é uma parte da missão. A outra é com impacto. A gente precisa continuar fortemente trabalhando na valorização do entregador e trazendo aí educação como pilar central, tanto aqui para quem trabalha no restaurante, o garçom, quanto para o próprio entregador para ter um efeito muito maior nesse ecossistema aqui. 

As ações são muitas, certo? 

São muitas, mas são focadas. O grande foco é na educação. Hoje, o grande foco nosso é formar pessoas no ensino médio. Por quê? Porque o grosso dessa turma aqui que está trabalhando no restaurante, trabalhando dentro da logística, é de pessoas que não puderam concluir o  ensino médio. Então, o que eu faço é trazer essa opção e aí eu subo essa barra, eu deixo a pessoa mais preparada para o mercado trabalho, com mais flexibilidade e me escolhendo, portanto, se ele quiser ficar e não porque infelizmente ele teve dificuldades para concluir o ensino médio. Por ano, a gente está formando 5 mil pessoas no ensino médio, um número relevante. 

Falamos no início do crescimento da receita no último ano. A empresa está operando no azul há dois anos. O que esperar para o futuro?

Crescer mais, crescer mais. Senão, não estou gerando proposta de valor. Se cresci 40% no ano passado, tenho que crescer, neste ano, pelo menos 40%. Depois é mirar em 50%, em 100%. Eu tenho que ter essa ambição, porque essa ambição é resultado da combinação de dois fatores: o restaurante vender mais e o entregador gerar mais renda. Então, você vê, o meu crescimento é um resultado de dois efeitos que são muito importantes. Eu preciso continuar crescendo, senão eu não vou ter esse impacto aqui. 

E vem aí o GazzSummit Agrotechs

O GazzSummit Agrotechs é uma iniciativa pioneira do GazzConecta para debater o cenário de inovação em um dos setores mais relevantes do país. O evento será realizado no dia 15 de agosto de 2024 com o propósito de conectar e promover conhecimento para geração de novos negócios, discussão de problemas e desafios, além de propor soluções para o setor.
O GazzSummit promove a disseminação de tecnologias e práticas de inovação que possam levar a cadeia produtiva ainda mais longe. Uma programação intensa de 12 horas de conteúdo, e mais de 25 palestrantes, espera os participantes que poderão interagir com players importantes do ecossistema como grandes empresas, cooperativas, produtores, entidades públicas, startups e inovadores. Garanta já a sua vaga.

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