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Tiago Dalvi, CEO e fundador do Olist. Crédito: Divulgação.

Serviços para mais de 40 mil PMEs

Olist fintech? Unicórnio curitibano inaugura frente financeira e quer ser banco do pequeno varejo

Maria Clara Dias
Maria Clara Dias
06/05/2024 11:53
Conhecida por conectar pequenos lojistas a grandes marketplaces e auxiliar varejistas a venderem online, a startup curitibana Olist agora também está se alçando ao universo financeiro. A empresa anunciou o lançamento de uma nova vertical de serviços que irá oferecer, entre outras coisas, contas bancárias a PMEs usuárias da plataforma.
Com a conta digital, que será plugada diretamente aos sistemas das mais de 40 mil PMEs clientes, será possível fazer cobranças e pagamentos a clientes e fornecedores, além da geração de boletos e conciliação. A novidade foi anunciada durante o Web Summit, uma das principais conferências de tecnologia do mundo, em edição que se passou no Brasil.
A incursão no universo das fintechs não aconteceu da noite para o dia, conforme explica o CEO e fundador Tiago Dalvi. Segundo ele, a estruturação dessa nova frente levou em torno de seis meses, e o período serviu para testes de usabilidade e aceitação pela base de clientes. “Estamos testando a tecnologia desde o ano passado e agora estamos confiantes para afirmar que os clientes estão confiando em nós para gerir os recursos, e que estamos sendo ousados, mas conseguindo entregar o melhor serviço possível”, disse, em entrevista ao GazzConecta.
Nesse período, o share of wallet (termo que descreve o valor transacionado por cada cliente dentro da plataforma) saltou de 0,5% para 30%, diz o fundador. “Vimos que em um período curto de tempo, já tivemos uma grande parte de empreendedores confiando a nós a missão de gerir até 30% de toda a volumetria bancária. Isso é muito positivo”, afirma o CEO.
Os resultados, que saltam aos olhos de todo pequeno negócio ousado o bastante para lançar MVPs e testá-los em tempo real, levam a startup a ampliar as expectativas em relação à sua nova roupagem de fintech.

Fim da confusão das maquininhas

A proposta de valor para os empreendedores, segundo Dalvi, é clara: reunir todo tipo de informação em um único sistema é a solução para lidar com a complexidade financeira das empresas de pequeno porte, e também com o gasto de tempo em funções operacionais e manuais.
De acordo com o fundador, as PMEs — diferente de grande parte das empresas — são constantemente prejudicadas pelo desencontro de informações, resultado das inúmeras fontes de dados e de recebimentos. “Por trás do funcionamento de uma PME mora uma complexidade absurda do ponto de vista financeiro, o que torna tudo mais desafiador”, diz.
“O empreendedor tem mais de uma maquininha, mais de um local de entrada de dinheiro. Isso gera confusão e atrasos. Horas de trabalho são perdidas nisso. Com uma rotina mais automatizada e informações concentradas, tudo fica mais fácil”.

Marketplace ou banco?

Fato é que a proposta de Olist, ao lançar essa nova vertical, busca não apenas otimizar a jornada burocrática causada pela multiplicidade de fornecedores (segundo Dalvi, uma PME, hoje, usa entre 10 a 12 fornecedores, entre marketplaces, sistemas para controle do PDV, ERP, entre outros), mas também solucionar uma dor cara a essas empresas, e que persiste há tempos: a relação complexa entre o varejo e o sistema bancário tradicional.
“Queremos ser o principal sistema operacional dos nossos clientes, o pode significar que seremos um banco no futuro”, argumenta Dalvi. Para o fundador, há uma diferença elementar entre as definições de bancos e fintechs — essas, mais ligadas à uma proposta de valor e experiência do consumidor, enquanto os bancos carecem de meios para atender necessidades específicas das PMEs, ainda que se criem verticais para atender pequenas empresas (como as contas PJ, por exemplo).
“Mesmo com algumas inovações, a integração entre varejo e bancos não mudou nos últimos vinte anos. Ela não é simples ou eficiente o bastante para tornar a vida da PME muito melhor, e é por isso que, hoje, nossa próxima alavanca de crescimento está em ser, para elas, esse banco integrado e inteligente", diz. “Não há problema algum em sermos taxados como fintech a partir de agora. Desde que o Olist, como novo banco do varejo, não replique os erros dos bancos do passado”, afirma.

A jornada do Olist

O curitibano Tiago Dalvi faz parte de um grupo de empreendedores que criam seus próprios negócios motivados pela oportunidade de mudar drasticamente a realidade de um setor. Com o Olist, startup de e-commerce para pequenos negócios fundada por ele, Dalvi buscou solucionar parte dos desafios de pequenos lojistas dispostos a vender produtos online, mas sem infraestrutura para tal.
Com diferentes tecnologias, a startup se propõe a ajudar esses comerciantes a criar, do zero, seus próprios e-commerces, registrar o volume de pedidos e lançar campanhas para impulsionar vendas e se conectar aos grandes marketplaces.
A proposta de negócio da startup chamou a atenção do mercado — e de gente disposta a injetar dinheiro ali. Em 2021, às voltas de umas das crises mais severas do capital de risco — e uma pandemia —, a empresa curitibana alcançou o status de unicórnio após aporte de US$ 186 milhões de firmas como SoftBank e Goldman Sachs.
Nesse mesmo período — e com tanto dinheiro em caixa — a startup ligou sua máquina de aquisições. Com isso, adquiriu as empresas gaúchas Tiny e Vnda, ambas do nicho de e-commerce, com a intenção de criar um ecossistema completo de soluções para o varejo digital. A tese de aquisições serviu para que a startup fosse além dos marketplaces e avançasse em frentes como ERP, CRM, faturador e gestão do ponto de venda.
Agora, segundo Dalvi, o lançamento da unidade de negócios voltada a serviços financeiros era o passo mais óbvio para fazer com que a fidelidade do cliente fosse ampliada para além do uso das ferramentas de venda, e para reforçar a tese de “ecossistema” capaz de trazer toda e qualquer solução para lojistas.
“Por cinco anos, desde a fundação, não olhamos para nenhum outro lado além de focar na solução das dores dos lojistas, mas agora, além da digitalização e da necessidade de vender mais, queremos também ajudá-lo com a segunda principal dificuldade: o acesso a serviços financeiros”, avalia o fundador.

O futuro pós-fintech

Para o futuro, além da conta digital, a ideia é oferecer serviços financeiros complementares, criando um ecossistema de soluções financeiras próprio, aos moldes do que a startup já oferece ao varejo. Alguns exemplos de recursos a serem lançados são os pagamentos por aproximação e link de pagamento no ponto de venda e online, a inclusão de contas a pagar automatizada e a conciliação automática de pagamentos e cobranças.
O desafio nisso tudo está, segundo Dalvi, na junção entre todas as partes. Ou seja, fazer com que as diferentes soluções do Olist “conversem” entre si, com integrações que permitam o trânsito de dados e informações entre diferentes ferramentas, da conta bancária ao sistema de ERP. “Não acredito que uma empresa possa funcionar sem conexão e convergência. Além disso, quando olhamos para o futuro, não vemos diferença entre jornada online e offline. A jornada de compra será única e isso deve ser reconhecido e levado para nossa tese financeira ao cliente”, diz.
Em outra frente, a startup também espera usar desse diálogo entre diferentes fontes de dados sobre a saúde do negócio para também oferecer linhas de crédito aos empreendedores, com base em históricos obtidos pelas próprias ferramentas do Olist. “Seremos, em breve, uma alternativa para se ter capital de giro, o que é quase como um catalisador para que uma empresa continue crescendo e expandindo”, diz Dalvi. A ideia é começar a oferecer o serviço por intermédio de parceiros já no próximo ano.
Diante de todas as inovações, o otimismo da startup está em alta: o unicórnio estima transacionar mais de R$ 18 bilhões até 2026, o que representaria um salto de R$ 14 bilhões em comparação ao resultado esperado para 2024. “Ninguém nunca fez o que estamos fazendo. É um desafio gigantesco e que não se materializa em um ou dois anos. Vamos transformar o varejo e vemos que já estamos no caminho certo”, diz.

E vem aí o GazzSummit Agrotechs

O GazzSummit Agrotechs é uma iniciativa pioneira do GazzConecta para debater o cenário de inovação em um dos setores mais relevantes do país. O evento será realizado no dia 15 de agosto de 2024 com o propósito de conectar e promover conhecimento para geração de novos negócios, discussão de problemas e desafios, além de propor soluções para o setor.
O GazzSummit promove a disseminação de tecnologias e práticas de inovação que possam levar a cadeira produtiva ainda mais longe. Uma programação intensa de 12 horas de conteúdo, e mais de 25 palestrantes, espera os participantes que poderão interagir com players importantes do ecossistema como grandes empresas, cooperativas, produtores, entidades públicas, startups e inovadores. Garanta sua vaga no site.

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