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Passamos tanto tempo no ambiente digital que interações presenciais simples já nos esgotam, aponta Allan Costa. Crédito: DimaBerlin.

Allan Costa

Allan Costa

Allan Costa é empreendedor, investidor-anjo, mentor, escritor, motociclista e palestrante em dois TEDx e em mais de 100 eventos por ano. Co-fundador do AAA Inovação, da Curitiba Angels e Diretor de Inovação da ISH Tecnologia. Mestre pela FGV e pela Lancaster University (UK), e AMP pela Harvard Business School.

Você, amanhã

Quem não é visto, não é lembrado 

25/07/2025 13:05
Vivemos conectados o tempo todo. Respondemos mensagens, participamos de reuniões por vídeo, curtimos publicações, mandamos emojis de palminha… isso, por si só, não é necessariamente ruim. Mas tem gerado um efeito colateral silencioso e preocupante: uma fadiga social crônica. 
Passamos tanto tempo no ambiente digital que interações presenciais simples já nos esgotam. Uma conversa rápida ou um encontro casual no elevador exigem tanto de nós que, depois, precisamos de dias de isolamento para nos recuperar.
Não cabe aqui debater em profundidade as causas dessa exaustão generalizada, meu ponto é outro. E ele é má notícia, principalmente para os introspectivos: sua avó estava certa. Quem não é visto, não é lembrado.
No mundo corporativo, essa lógica se intensifica. Muitas vagas nem chegam a ser anunciadas, mas circulam em grupos de WhatsApp, em conversas de corredor, em indicações entre colegas. 
Se você espera que o LinkedIn toque um sino mágico te avisando da próxima grande oportunidade, pode esperar sentado. E quando se trata de promoção, o critério quase nunca é puramente técnico. A decisão muitas vezes recai sobre quem se faz notar, quem participa, quem aparece. 
Ou você nunca viu um colega menos competente que cresceu na empresa? 
Não estou dizendo que isso é justo nem certo. Só estou dizendo que é assim que funciona. E uma vez que você entende isso, só restam dois caminhos: você pode escolher reclamar ou pode escolher se movimentar e ser lembrado.
Movimentar-se, nesse contexto, não tem nada a ver com bajulação. Não significa puxar saco de chefe ou se tornar arroz de festa (aquela pessoa que está em todos os lugares só para marcar presença). 
Movimentar-se é agir com intenção de ocupar os espaços que fazem sentido para a sua carreira. É manter a rede de contatos ativa e oferecer ajuda mesmo quando não há promessa de retorno imediato. É participar de eventos relevantes para o seu setor, buscar oportunidades para contribuir, conversar, aprender e se fazer lembrado.
Isso dá um baita trabalho, mas custa muito pouco perto das oportunidades que podem se abrir. 
Mas se você tem preguiça de eventos corporativos, tudo bem. Saia para uma cerveja com os amigos. Chame um stakeholder para tomar um café e saia para  reencontrar colegas antigos. Puxe conversa com alguém que você admira sobre alguma pauta em comum… não importa. O que importa é não se esconder.
Alguns dos negócios mais relevantes surgem justamente fora dos ambientes formais. Quantas ideias brilhantes e parcerias duradouras não nasceram em mesas de bar?
Dar movimento à vida profissional não exige um roteiro muito complexo. Exige disposição para sair. Levantar do sofá, tirar a cara da tela do celular e ter conversas reais com pessoas reais.
Em terra de cansaço generalizado, quem é socialmente disposto é rei
A capacidade de interagir, criar e manter laços genuínos ainda é uma das poucas características que a tecnologia não conseguiu — e talvez nunca consiga — replicar com perfeição. 
E se você teme ser substituído por uma inteligência artificial, aqui vai um alerta: o relacionamento é um diferencial humano que continua valendo muito. Talvez mais do que nunca.
Sim, trabalhos mecânicos estão sendo substituídos por IA. E isso é ótimo. Automatizar o que é repetitivo abre espaço para o que exige empatia, intuição e vínculo. Nenhuma ferramenta, por mais sofisticada que seja, consegue construir confiança, escutar com atenção ou criar conexão emocional verdadeira. Isso ainda é papel nosso.
Valorize seus momentos de solitude, claro, mas não transforme isso em regra. O mundo ainda acontece fora da tela. E seu crescimento profissional também. Construa presença, crie vínculos e participe da vida real.
Faz bem para a mente. E faz ainda melhor para a carreira.