Eu tenho certeza de que você já trabalhou com um “super-herói” corporativo.
Visualize a cena: a pessoa que anda de um lado para o outro, celular grudado no ouvido, voz projetada para o andar inteiro, gesticulando como se a ONU dependesse dele.
A expressão no rosto é de quem está conduzindo um delicado acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, quando, na prática, está apenas tentando reagendar uma reunião de meia hora.
Na cabeça desse personagem, cada ligação vale a sobrevivência de um cliente, cada e-mail é uma bomba-relógio, cada planilha tem o poder de salvar (ou destruir) a humanidade inteira. A encenação é tão convincente que, se você passar desatento, acredita que o destino do planeta está realmente em jogo.
Quase sempre, o enredo não passa de tarefas comuns de qualquer escritório: um documento que falta assinatura, um atraso de fornecedor, um pedido de orçamento. Tarefas importantes, claro, mas nada que justifique a performance de novela mexicana às três da tarde.
Paradoxalmente, esses tipos de super-heróis sem capa criam um ambiente de trabalho mais cansativo do que produtivo, porque espalha um senso de urgência artificial e acaba drenando a energia de todos ao redor. E, obviamente, esgota a si mesmo: porque é impossível (e exaustivo) passar anos interpretando o papel de quem está sempre prestes a impedir o estalo de dedos do Thanos.
A teatralidade quase nunca vem acompanhada de resultados proporcionais. Os super-heróis são personagens que trabalham para parecer ocupados, não para entregar o que precisa ser feito, o que me leva a pensar que, de duas, uma: ou a pessoa entrega pouco e precisa compensar com um teatro barulhento para parecer indispensável, ou tem um ego inflado a ponto de achar que o mundo gira em torno de sua planilha.
Seja qual for o caso, o resultado prático é o mesmo: em vez de parecer produtivo e indispensável, soa apenas como uma pessoa insegura.
E a insegurança contamina o time, cria atritos desnecessários, aumenta a ansiedade de quem está por perto e sabota a qualquer possibilidade de colaboração. Afinal, quem trabalha ao lado de um “herói” desses dificilmente consegue manter a sanidade por muito tempo.
Os super-heróis confundem o mero movimento com progresso, mas geralmente não conseguem sair do lugar.
Veja, ambiente corporativo tem, sim, personagens. Todo escritório é uma espécie de novela com seus tipos caricatos, mas existe uma linha entre ser reconhecido pelos pares e virar piada entre eles. Quem realmente é competente não se porta como figurante da Loucademia de Polícia.
Existe um equilíbrio delicado entre ser visto para ser lembrado e ser lembrado pela coisa certa. É ótimo quando alguém tem presença, energia e movimento, mas, convenhamos, ninguém sai de casa para ver stand-up ruim no escritório.
Nenhum profissional verdadeiramente excepcional precisa fingir que é bom. E, sinceramente? Ninguém precisa se levar tão a sério o tempo inteiro.