Allan Costa é empreendedor, investidor-anjo, mentor, escritor, motociclista e palestrante em dois TEDx e em mais de 100 eventos por ano. Co-fundador do AAA Inovação, da Curitiba Angels e Diretor de Inovação da ISH Tecnologia. Mestre pela FGV e pela Lancaster University (UK), e AMP pela Harvard Business School.
Um aspecto ainda subvalorizado dentro de companhias que tentam se tornar mais inovadoras tem me chamado a atenção. Lemos por aí à exaustão a importância de uma cultura de inovação e buscamos cases de sucesso para fundamentar nossas mudanças. A grande questão é que existe um aspecto fundamental que é, muitas vezes, deixado de lado por muitas empresas: a estrutura.
Uma cultura de inovação depende diretamente de uma estrutura de inovação.
Criar comitês ou departamentos de inovação e derrubar as paredes do escritório é apenas aquilo que está acima da superfície. Assim como em um iceberg, abaixo da água existe muito mais. A estrutura que permite a inovação é a base para que ela aconteça. É justamente aquilo que existe quase que de forma silenciosa, mas fundamental.
Uma companhia com um comitê de inovação com especialistas consagrados que, no fim das contas, não modifica seus processos para que informações e testes corram de forma mais livre pela organização, está apenas se enganando ao tentar se tornar mais inovadora.
A mesma coisa acontece em empresas com departamentos de inovação, mas que continuam sendo super hierarquizadas e sem espaços para testes e formulação de hipóteses de suas equipes e colaboradores. E o que falar dos sistemas de recompensa? O discurso é “inovar”, mas o reconhecimento só vai para quem faz mais do mesmo. É como se fosse uma linha de produção fabril do século passado, mas com confetes e balões com a palavra “inovação” ao fundo.
Esta é uma verdade inconveniente: na maioria dos casos, as empresas já possuem os ativos que precisam para se tornarem mais inovadoras. Não é uma questão ferramental ou de tecnologia, mas sim de estrutura, de como funciona o sistema da organização.
Por diversas vezes conversando com gestores, me deparei com casos em comum: as companhias possuem, de fato, profissionais criativos e que pensam fora da caixa. Mas o próprio sistema, a própria estrutura criada pela empresa, impede que a inovação aconteça. As companhias que criam comitês de inovação ou que colam centenas de post-its nas paredes, não raro, são exatamente aquelas nas quais processos demoram meses para andar e onde boa parte das decisões ainda são top-down.
Pense na estrutura da sua organização como a fundação de uma casa. Se a estrutura for ruim, não importa o quão bonita seja a sua sala de estar, ela não vai aguentar por muito tempo. O mesmo acontece nas empresas. Para inovar, as mudanças devem ser muito mais profundas e, muitas vezes, menos glamourosas do que parecem. Tem muito menos a ver com post-its e muito mais em como pessoas e processos se comportam na empresa.
Mudar a forma de trabalhar talvez seja a parte mais difícil de qualquer processo de inovação. Afinal, muitos dos colaboradores estão acostumados a trabalhar daquela forma há décadas.
O segredo, se é que existe algum, é se preocupar muito mais com modificar a estrutura de como as coisas funcionam, ao invés de se distrair por coisas como posts bacanas em mídias sociais enaltecendo a companhia ou mesas de ping-pong e escorregadores com piscinas de bolinha no escritório. Essas coisas tem sim o seu valor, mas serão inúteis se a estrutura não mudar.
Como modificar a estrutura para criar uma cultura de inovação? Isso fica para um próximo artigo!