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Autoritarismo, negligência e insegurança são marcas de líderes que não lideram — muitas vezes protegidos por cargos que jamais deveriam ocupar. Crédito: g-stockstudio.

Allan Costa

Allan Costa

Allan Costa é empreendedor, investidor-anjo, mentor, escritor, motociclista e palestrante em dois TEDx e em mais de 100 eventos por ano. Co-fundador do AAA Inovação, da Curitiba Angels e Diretor de Inovação da ISH Tecnologia. Mestre pela FGV e pela Lancaster University (UK), e AMP pela Harvard Business School.

Você, Amanhã

Guia prático do pior líder do mundo

15/04/2025 19:45
Muito se fala sobre as qualidades necessárias para se tornar um bom líder - e com razão. Liderar não é tarefa simples. Na verdade, é, provavelmente, um dos maiores desafios enfrentados por qualquer profissional. Não basta dominar o conteúdo técnico, cumprir metas ou entender do negócio. Liderança exige algo mais: habilidade de lidar com pessoas, construir ambientes de crescimento e elaborar estratégias que façam sentido não só nos números, mas nas relações.
Mas, se liderar bem é difícil, liderar mal é quase uma arte popular. Basta olhar em volta: quem nunca teve o desprazer de trabalhar com um líder que parecia ter feito um curso intensivo de tudo o que não se deve fazer? São figuras que oscilam entre o autoritarismo, a negligência e a insegurança, frequentemente escondidas atrás de cargos que nunca deveriam ocupar.
Como já falamos anteriormente sobre boas práticas para líderes iniciantes, hoje a proposta é diferente: um exercício prático, voltado à reflexão. Vamos listar algumas atitudes que definem o pior líder do mundo. Se você se reconhecer em algum ponto, talvez seja hora de repensar o estilo de liderança que está praticando.

Foque no cargo

O pior líder do mundo acredita que autoridade vem do crachá. Suponha, por exemplo, que basta o título para que os outros o sigam - e ignore completamente que liderança real se constrói com atitude, não com organograma. Os líderes ruins não se interessam pelo que realmente significa liderar; não estudam, não observam, não se desenvolvem. Limitam-se ao status.

Seja um exemplo ruim

É o clássico "faça o que eu digo, mas não o que eu faço". O líder que cobra pontualidade, mas se atrasa para todas as reuniões. Exige ética, mas age com oportunismo. Cobra resultados, mas entrega pouco. Em muitas empresas, a “laranja podre” do ambiente é justamente aquela que deveria representar os valores da organização.

Apegue-se à técnica

Muitos líderes chegam ao cargo por mérito técnico - o que não é, em si, um problema. O problema surge quando o técnico tenta gerir como se estivesse lidando com sistemas binários. Pessoas não funcionam com lógica de máquina. Há subjetividades em jogo: tom de voz, repertório cultural, histórico emocional. O pior líder do mundo ignora tudo isso e tenta resolver complexidades humanas com gráficos e planilhas.

Seja o amigão da galera

Na tentativa de evitar conflitos, surge o líder que confunde gestão com popularidade. Quer ser amigo de todos, evita cobranças, não dá feedbacks duros e foge da responsabilidade de tomar decisões difíceis. No curto prazo, parece um ambiente harmônico. No longo prazo, o time fica perdido, sem rumo, sem liderança e, principalmente, sem segurança para pensar em soluções.

Seja o sabichão

O líder que acredita ser o dono da verdade é, quase sempre, alguém inseguro. Se a humildade fosse um crime, ele seria inocente. Ele não tolera ser contrariado, menospreza ideias alheias e se sente ameaçado pelo brilho dos outros. As boas ideias, claro, foram todas dele; os erros, sempre de alguém da equipe. A rotatividade é alta, mas ele nunca se pergunta o motivo.

Fiscalize tudo

Outro personagem recorrente é o micromanager. Aquele que exige ser copiado em todos os e-mails, aprova cada pequena tarefa, desconfia de cada passo. Nada escapa ao seu crivo. Essa liderança controladora - que muitos ainda confundem com zelo - sufoca a autonomia e mata a criatividade do time.

Aposte na agressividade

E, por fim, mas não menos importante, temos o perfil mais extremo - e, infelizmente, não tão raro. O líder agressivo acredita que a única forma de alcançar resultados é pelo medo. Grita, humilha, constrange. Age sem empatia, mas exige disciplina. No limite, flerta com o assédio moral. Seus times, quando não pedem demissão, adoecem.

Liderança se aprende, não se impõe

Infelizmente, é provável que você já tenha esbarrado com algum desses perfis ao longo da sua trajetória. Não há uma fórmula mágica para evitá-los. Mas há algo que podemos controlar: a liderança que exercemos.
Ser um bom líder exige escolha deliberada, esforço consciente e aprendizado constante. É uma habilidade que se constrói ao longo do tempo - e que, diferentemente do cargo, não pode ser delegada nem imposta. 
A má notícia é que isso dá trabalho. A boa é que é possível começar agora.