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A telemedicina é uma das áreas que ganhou uma agilidade na implantação por conta da crise do novo coronavírus

Allan Costa

Allan Costa

Allan Costa é empreendedor, investidor-anjo, mentor, escritor, motociclista e palestrante em dois TEDx e em mais de 100 eventos por ano. Co-fundador do AAA Inovação, da Curitiba Angels e Diretor de Inovação da ISH Tecnologia. Mestre pela FGV e pela Lancaster University (UK), e AMP pela Harvard Business School.

A crise como potencializadora de mudanças que já deveriam ter acontecido

21/04/2020 11:00
Estamos todos sendo impactados diretamente pela crise do novo
coronavírus. Esse impacto se dá em maior ou em menor medida,
levando-se em conta uma série de fatores. Contudo, é loucura dizer
(como alguns têm argumentado), que estamos no mesmo barco, quando
algumas pessoas têm perdido sua fonte de renda e não sabem como
pagar o aluguel ou levar comida para casa. Mesmo assim, o fato é que
o novo Coronavírus atinge a todos nós, seja em maior ou em menor
nível.
Ao longo das últimas semanas tenho refletido bastante sobre os
impactos que ela vem causando. Alguns deles são muito mais óbvios
do que outros. Muito mais visíveis. Os impactos na saúde e na
economia, por exemplo, são de conhecimento geral (mesmo que não
seja um conhecimento lá muito profundo). Nos últimos dias, tenho me
dedicado a observar alguns outros impactos que, por estarmos no olho
do furacão, podem não soar tão óbvios agora, mas que, nas
entrelinhas, mandam mensagens muito fortes.
Pare para pensar, por exemplo, na telemedicina. É seguro dizer que
já temos a tecnologia para fazer esse tipo de modalidade médica
acontecer há, pelo menos, 10 anos (e estou sendo conservador nesta
conta). Nos últimos meses, legisladores e conselhos de classe
correram atrás para regularizar a modalidade diante da pandemia.
Minha pergunta é… Será que isso não poderia ter sido feito
antes? Qual era o grande impeditivo (além das burocracias e
corporativismos que já conhecemos)?
Qual era o grande impeditivo para empresas serem tão avessas a
deixar que seus colaboradores tivessem horários mais flexíveis ou,
em última instância, pudessem trabalhar de casa? Foi preciso o medo
global sobre o novo coronavírus para que departamentos inteiros, de
repente, percebessem que podiam, de fato, funcionar de forma remota?
Estendo este pensamento aos tribunais. Sei de casos em que eles foram
veementemente contra colaboradores prestarem seus serviços à
distância. O porquê? Só eles sabem. Agora, estão tendo de
aprender “na marra” a gerir funcionários, processos e resultados
dessa forma.
Outro exemplo me chamou atenção esses dias: governos estaduais e o
governo federal estão, pasmem, aprendendo que podem utilizar a
internet (essa tecnologia tão nova...) para agilizar processos dos
cidadãos. De repente, eles não precisam agendar um horário, chegar
no órgão governamental às 6 da manhã e, algumas horas depois,
saírem de lá frustrados por não terem conseguido resolver o que
precisavam.
Todos sabemos que a crise provocada pelo momento atual é uma tragédia. Minha pequena ponta de esperança é que ela sirva, dentre outras lições importantes, para mostrar que muitos dos processos que mantemos até hoje poderiam ter sido extintos ou otimizados há décadas.
Vamos torcer para que esse aprendizado perdure.