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Allan Costa

Allan Costa

Allan Costa é empreendedor, investidor-anjo, mentor, escritor, motociclista e palestrante em dois TEDx e em mais de 100 eventos por ano. Co-fundador do AAA Inovação, da Curitiba Angels e Diretor de Inovação da ISH Tecnologia. Mestre pela FGV e pela Lancaster University (UK), e AMP pela Harvard Business School.

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Consequências não óbvias da crise

05/05/2020 14:30
Você provavelmente se deparou com diversos artigos e matérias relatando como as relações de trabalho vêm mudando nas últimas semanas em decorrência da crise provocada pelo novo coronavírus.
De um dia para o outro, milhões de empresas e profissionais tiveram que se adaptar ao home office. Relações de trabalho foram modificadas e novos processos tiveram de ser implementados quase que do dia para a noite.
É razoavelmente seguro dizer que muitas dessas mudanças irão perdurar para além da crise. O home office? É inevitável que irá ganhar cada vez mais espaço e tornar-se mais importante na estratégia das empresas. O que gostaria de chamar atenção hoje é para um lado “não óbvio” da crise: as oportunidades escondidas.
Trazendo como exemplo, lembremos da crise do subprime, de 2008, nos Estados Unidos.
Depois do que aconteceu, as consequência óbvias eram: mais cuidado de
instituições financeiras em termos de critérios para empréstimos, maior
responsabilização para recomendações de investimento feitas por agentes e
diminuição da euforia e do efeito manada no mundo dos investimentos. Você pode
argumentar que muitas dessas consequências nem chegaram a acontecer… Mas isso é
assunto para outro dia.
Algumas das consequências que ninguém era capaz de prever sobre a crise de 2008, por exemplo, foi o surgimento de alguns dos negócios mais presentes em nossas vidas na atualidade. Uber e Airbnb surgiram e ganharam tração justamente em um momento pós-crise nos Estados Unidos, quando milhões de pessoas precisavam de uma renda extra e começaram a utilizar ativos que já tinham (seus carros ou quartos em suas casas) para suprir essa necessidade.
Da mesma forma, outras crises trouxeram consequências
não-óbvias. Na Itália pós Segunda Guerra, os campos de cacau
estavam devastados. Esse foi o gatilho para que um confeiteiro chamado Pietro
Ferrero produzisse um creme mais barato, feito com menos cacau e com a adição
de avelã e açúcar. Aquele produto acabou se transformando na Nutella, uma das
marcas mais conhecidas do mundo e um dos produtos mais emblemáticos do Grupo
Ferrero.
A Vespa, outro produto italiano mundialmente
conhecido, também surgiu no período pós crise provocada pela Segunda Guerra. A
Piaggio, empresa italiana que fez fortuna produzindo aviões, viu seu
faturamento praticamente desaparecer no período pós-guerra. A companhia
resolveu então apostar em um meio de transporte que estivesse de acordo com as
condições econômicas e o estilo de vida dos italianos naquele momento.
Utilizando boa parte do maquinário que era usado para a produção dos aviões, a
Piaggio desenvolveu a Vespa, motoneta que se tornou um símbolo italiano
mundialmente conhecido e um sucesso de mercado.
Fica então a pergunta no ar: Quais serão as
consequências não-óbvias trazidas pela atual crise que estamos vivendo? Quais
negócios revolucionários nascerão a partir desse momento tão delicado?
Ter essa visualização neste momento é praticamente
impossível. Mas é interessante imaginar que em 10 anos, estaremos lendo artigos
ou reportagens do tipo “10 empresas que surgiram por causa da crise do novo
Coronavírus”.
É esperar para ver.