Acesso Digital se auto financiou durante 12 anos para manter quadro societário.
Thiago Maceira
Thiago Maceira é Managing Director no Banco de Investimentos e Head do Núcleo Tech do Itaú BBA. Com 20 anos de experiencia no mercado financeiro e no Itaú BBA desde 2013, o executivo já trabalhou na Goldman Sachs no escritório de Nova Iorque e no Citigroup em São Paulo. Thiago é bacharel em Economia pela Universidade de São Paulo e possui MBA pela Columbia Business School (prêmio Beta Gamma Sigma Alumni). Na coluna “Investimentos e Startups”, falará sobre as tendências do ecossistema de tecnologia sob o ponto de vista de investimentos.
Convidei Diego Martins, fundador da Acesso Digital — maior IDTech do Brasil, com mais de 400 clientes —, para dividir conosco um pouco da sua trajetória que seguiu um planejamento de estrutura de capital vencedor e diferente de boa parte das startups brasileiras. Falamos sobre estratégias de captação de investimentos, opções de funding, papel dos bancos no apoio ao ecossistema e projetamos as perspectivas para o setor pós pandemia.
Diego, nos primeiros 12 anos de existência vocês optaram por se auto financiar, evitando a diminuição do equity da companhia. São poucos os casos de startups que conseguem crescer e se desenvolver por tantos anos sem o aporte de investidores. Como foi a avaliação de cenário e timing para captarem os R$ 40 milhões com a e.Bricks no começo desse ano?
Acompanho muito de perto os porquês de China e EUA terem suas maiores empresas no setor de tecnologia, enquanto no Brasil as maiores estejam entre os bancos, cervejarias e petroleiras. Cheguei à conclusão que um dos fatores é que nesses países as techs têm dono/controlador, como por exemplo, Facebook (Zuckerberg), Google (Lary Page e Sergey) e Alibaba (Jack Ma), que garantem as decisões de longo prazo no dia a dia das empresas.
Meu sonho é criar também uma gigante de tecnologia no Brasil, e acompanho muito de perto toda a operação. Decidimos captar e diluir pouco a nossa participação depois de muita paciência e resiliência, afinal o ecossistema brasileiro infelizmente reconhece os empreendedores pelas suas "rodadas de captação" e não pelo impacto da empresa no tempo.
Estamos crescendo rápido, seguimos fazendo aquilo que acreditamos e essa captação fortaleceu nossos times de tecnologia e produtos, dando início a um processo amplo de aquisições que queremos fazer. Recentemente, adquirimos a Meerkat, startup gaúcha de soluções de biometria facial, por exemplo.
Ao longo desses anos, quais foram as principais estratégias de funding da Acesso Digital e como você equaciona o equilíbrio entre investir para crescer mais rápido e foco em geração de caixa?
Sempre crescemos gerando caixa para empresa. De qualquer forma, poderíamos ter nos arriscado mais em algumas áreas para ter crescido com velocidade. Não me arrependo da decisão que tomamos de crescer com recursos próprios, pois nos trouxe até aqui com mais de 90% da empresa e com espaço para captar mais até o nosso IPO (futuro próximo), mantendo os fundadores como controladores, que é a base para que as decisões de longo prazo continuem presente no nosso dia a dia, conforme acreditamos.
Durante a pandemia, ficou popular o termo “startup camelo”, como referência às empresas mais resilientes durante a crise. Você acha que o ecossistema tech vai passar por uma mudança de mindset, privilegiando as companhias que geram mais receitas logo no início e com pouco cash burn?
O mercado tem memória curta e logo voltará a reconhecer as startups que mais captam dinheiro, influenciando as startups a serem sempre vendidas em algum momento. Infelizmente os empreendedores acabam sendo diluídos e, no fim, não têm condições de controlar as decisões de longo prazo, como citei anteriormente. Além disso, os fundos iniciam os processos de saída da operação e, na maioria das vezes, as empresas são vendidas.
Os bancos têm participado dos processos de IPO das empresas tech, mas sabemos que esse é praticamente o último capítulo de uma jornada. Como você vê a participação das instituições financeiras em toda a “life journey” das startups?
Os bancos conhecem todo o ecossistema de investidores e o que estão buscando, isso ajuda nas conexões das startups com os investidores certos e também facilita o caminho de uma captação, que pode levar anos para acontecer.
O outro ponto relevante é a experiencia em negociações mais complexas e que acaba ajudando em pontos decisivos, como nos acordos de acionistas que acabam servindo de base para governança pós-investimento. Acredito que essa experiência para as startups é muito relevante, pois muitas vezes são jovens sonhadores que começam um negócio e nesse mundo do capital muita coisa é nova para os empreendedores.