
Rucelmar Reis
Rucelmar Reis é empreendedor, com vasta experiência em tecnologia e negócios digitais. Fundador e sócio de diversas empresas, atua como mentor e conselheiro de startups. Formado em ESADE Barcelona e MIT, une visão estratégica e prática no desenvolvimento de negócios.
Na Veia
Tempestade em Lisboa!
O Web Summit 2025 não foi só um evento; foi também um fenômeno meteorológico.
Enquanto o Parque das Nações fervilhava com 70 mil pessoas, lá fora, a cidade era a metáfora perfeita para o que estava acontecendo: chuva forte, ventos que te carregavam e um caos logístico que refletia a tempestade de aceleração que vivemos.
Mas a verdadeira tempestade que se anunciava em Lisboa não era a do Atlântico. Era a tempestade geopolítica que pode mudar a dominância tecnológica do Ocidente.
Nova Rota
A história é cíclica. Há séculos, a Rota da Seda original ligava o Oriente ao Ocidente, e o fluxo de riqueza e conhecimento era ditado por quem controlava essa rota. O Web Summit 2025 deixou claro: uma nova rota de conhecimento está sendo aberta, a Rota da Inteligência Artificial, e o Ocidente pode estar perdendo o controle sobre ela.
O Web Summit foi o funeral da ilusão de que a tecnologia ocidental é superior e que o Oriente só sabia copiar o que era desenvolvido em centros como o Vale do Silício. O jogo mudou completamente. Primeiro começamos a depender do hardware e agora a tecnologia toda parece explodir por lá, enquanto aqui no Ocidente ficamos perdidos com tantas mensagens conflitantes de um GPS Político, que não sabe se vira para a direita ou para a esquerda, e quando vira, nunca é uma curva suave. Enquanto isso, vemos foco e projetos claros sendo desenvolvidos no Oriente.
A Crise dos Jatos Privados: O Símbolo da Bolha
O contraste mais gritante do evento não foi a diversidade de nações e de etnias. Foi algo inusitado: crise dos jatos privados.
Enquanto a maioria dos 70 mil participantes mortais enfrentava o caos do metrô e a chuva, os executivos de elite eram forçados a pousar na Espanha ou em aeroportos distantes por falta de vagas em Lisboa. Esse é o símbolo perfeito da bolha: um problema de "primeiro mundo tech" que mostra o interesse por essa nova Rota da Inteligência Artificial e quem vai dominá-la. O poder está se movendo para onde a infraestrutura e a ambição são ilimitadas. Já existem rumores fortes de que o Websummit terá a sua edição na China, já em 2026. Dado o investimento e projetos gigantes que vemos por lá, não seria um exagero imaginar que poderia ser a maior edição de todos os tempos.
Resumo dos Achados no Websummit Lisboa
Os destaques mais impactantes não estavam em algum keynote de CEO americano, mas na estreia oficial do Governo Chinês com um pavilhão dedicado a eles.
1. O Dragão Dançante e a Declaração de Domínio
O momento mais impactante do evento foi a estreia oficial do Governo Chinês com um pavilhão dedicado – o "China Summit".
- O Fato: Pela primeira vez, o Ministério do Comércio da China comandou 90 minutos de palco exclusivo, com a plateia lotada.
- A Declaração: O CEO Paddy Cosgrave foi explícito: "O declínio da Europa Ocidental no ecossistema de startups" é real, e os robôs humanoides mais avançados do mundo não são americanos nem europeus. "Em vez disso, eles são chineses".
- A Metáfora: O robô humanoide chinês da Unitree, fazendo break dance nos corredores, não era apenas uma atração; era uma declaração de domínio. A China não está mais apenas competindo; ela está materializando o futuro da IA e da robótica.
2. O Gargalo do Megawatt: A Nova Moeda da Rota
A IA exige um "novo petróleo" – hardware eficiente e data centers sustentáveis. O trending topic que domina os bastidores é a energia.
O Paralelo Histórico: Assim como na Rota da Seda original, onde o controle dos recursos (especiarias, seda) ditava o poder, a próxima dependência do Ocidente não será apenas de chips, mas de energia limpa e abundante para alimentar a IA. A Europa, com seus data centers sendo racionados, está sendo forçada a olhar para o Oriente e para o Sul Global em busca dessa nova moeda. É um novo jogo, que muita gente está de olho, tentando aprender a jogar.
3. Vibe Coding: A Democratização que Ameaça o Programador
Para mim, a maior novidade técnica do evento foi o Vibe Coding.
- O Que É: Plataformas de IA aonde você descreve o que quer em linguagem natural, e a IA cria o aplicativo completo. A Collins Dictionary elegeu "vibe coding" como a palavra do ano de 2025.
- O Impacto: Startups como a Lovable e Manus, demonstraram a capacidade de criar software completo sem escrever código. Isso significa que a barreira de entrada para a criação de software foi eliminada. A pergunta que fica é: Qual o futuro do programador tradicional? A IA não vai roubar o emprego do programador, mas o programador que não usar IA será substituído por quem usa. É inegável que a aceleração tecnológica vai ser regida por essa nova capacidade. É como se Deus antes tivesse que fazer o homem do barro e soprar o fôlego da vida, e agora, ele só precisasse dizer – Haja humanidade! E houve humanidade.
4. O Open-Source: A Última Caravela Ocidental
O Ocidente está perdendo a corrida do hardware e da escala, mas tem uma última chance: o Open-Source.
Empresas estão migrando de modelos proprietários (GPT-4o) para soluções abertas (Llama + fine-tune interno) por dois motivos brutais: custo e privacidade. O Open-Source é a tentativa desesperada do Ocidente de manter a soberania tecnológica, mas é uma defesa, não um ataque. É a última caravela que tenta reverter o fluxo da Rota.
A Escolha que Define o Século
O Web Summit 2025 foi o funeral da ilusão de que a tecnologia ocidental é inerentemente superior.
A verdadeira questão não é se o Ocidente vai perder, mas o que ele vai fazer para se tornar relevante novamente. A resposta não está em mais startups de apps de nicho, mas em colaboração global e investimento maciço em infraestrutura e energia.
A pergunta final que fica é: Você está pronto para que a sua próxima grande inovação venha de um país que você mal consegue localizar no mapa? Antes ouvíamos de nossos pais que precisávamos aprender inglês para progredirmos na vida. E agora, a pergunta é: como está o seu Mandarim?
A notícia maior do evento é: Nova Rota da IA já começou, e o Ocidente está em vantagem.



