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Em fevereiro, a Microsoft lançou o Majorana 1, primeiro chip quântico do mundo, um marco que pode inaugurar uma nova era da tecnologia. Crédito: Reprodução/Microsoft.

Cris Alessi

Cris Alessi

Cris Alessi é consultora de inovação e transformação digital, conselheira, palestrante, investidora-anjo e autora do livro "Gestão de Startups: desafios e oportunidades”.

Jornadas de Inovação

O salto quântico da Microsoft na nova era da computação quântica

06/03/2025 17:11
A computação quântica deu um novo salto importante quando a Microsoft anunciou o lançamento, no dia 19 de fevereiro, de um novo chip que pode inaugurar uma era completamente nova na tecnologia. Satya Nadella, CEO da empresa, compartilhou a novidade com uma afirmação que reflete a grandiosidade desse avanço: “Imagine um chip que cabe na palma da sua mão, mas que é capaz de resolver problemas que nem mesmo todos os computadores da Terra poderiam solucionar!”.
O impacto dessa inovação é difícil de subestimar. Durante décadas, a computação quântica foi um campo restrito à pesquisa teórica e experimentos em laboratório. Agora, ela começa a se tornar uma tecnologia aplicável, com potencial para transformar setores inteiros da economia e redefinir o que entendemos como capacidade computacional.
Já tratei esse assunto em outros artigos aqui, explicando que o grande diferencial dos computadores quânticos está na forma como eles processam a informação. Enquanto a computação tradicional se baseia em bits que assumem valores de 0 ou 1, os qubits da computação quântica operam em superposição, podendo representar múltiplos estados simultaneamente. Isso significa que cálculos extremamente complexos, que levariam anos ou até séculos para serem realizados por supercomputadores convencionais, podem ser resolvidos em questão de minutos.
A chave para esse avanço reside em um fenômeno da física quântica: o Majorana Zero Mode (MZM). Teorizado pelo físico Ettore Majorana em 1937, esse estado da matéria só foi demonstrado empiricamente em 2012. Atuando praticamente como um novo estado, que não se enquadra como sólido, líquido ou gasoso, o MZM é menos suscetível a perturbações externas, tornando-se uma solução promissora para um dos maiores desafios da computação quântica: a estabilidade dos qubits. Como Satya Nadella destacou em seu comunicado: “A maioria de nós cresceu aprendendo que existem três estados principais da matéria: sólido, líquido e gasoso. Hoje, isso mudou.”
O desenvolvimento do chip da Microsoft representa um avanço significativo porque pode permitir que a computação quântica finalmente supere a barreira da instabilidade e dos erros frequentes, tornando-a mais viável para aplicações reais. Isso abre um leque imenso de possibilidades para diversas áreas.
Na segurança cibernética, por exemplo, a computação quântica tem o potencial de quebrar os sistemas de criptografia atuais em questão de segundos, ao mesmo tempo em que possibilita a criação de novas formas de proteção baseadas em princípios quânticos, como a criptografia quântica. No setor de saúde, a capacidade de simular interações moleculares com precisão inédita pode acelerar a descoberta de novos medicamentos e tratamentos, revolucionando a indústria farmacêutica. Em logística e planejamento, problemas de otimização que hoje exigem bilhões de cálculos sequenciais poderão ser resolvidos de forma instantânea, reduzindo custos e aumentando a eficiência de cadeias de suprimentos globais.
O anúncio da Microsoft também evidencia uma corrida global pela supremacia quântica. Além da empresa de Nadella, gigantes como Google, IBM e diversas startups especializadas estão investindo pesadamente na área. O que torna esse momento tão marcante é que, pela primeira vez, um chip quântico é anunciado como um produto viável, aproximando-se da comercialização em larga escala.
E quando o mundo nem havia se acostumado com a ideia de um chip quântico tão avançado, a Amazon entrou na disputa. Menos de dez dias depois do anúncio da Microsoft, a empresa lançou o Ocelot, seu próprio modelo, focado em um dos maiores desafios da computação quântica: a correção de erros quânticos. Diferente do Majorana 1, que busca qubits mais estáveis desde a sua concepção, o Ocelot aprimora as técnicas para detectar e corrigir falhas nos cálculos quânticos, tornando os processadores mais confiáveis e escaláveis.
É, quando a Microsoft deu o start, a corrida avançou rapidamente. É a velocidade da inovação. Mas o que é importante notar é que o que torna o momento atual tão marcante é que, pela primeira vez, chips quânticos começam a ser anunciados como produtos viáveis, aproximando-se da comercialização em larga escala.
O Brasil, que já possui centros de pesquisa avançados em física quântica, precisa acompanhar esse movimento de perto. Como sempre reforço aqui, a inovação não acontece de forma isolada. Ela depende de um ecossistema robusto, no qual empresas, universidades e governos atuam juntos para criar um ambiente favorável ao desenvolvimento e adoção de novas tecnologias. O avanço da computação quântica pode representar uma oportunidade única para o país posicionar-se como protagonista em áreas estratégicas, como inteligência artificial, segurança de dados e inovação na indústria.
Assim como aconteceu com os transistores na computação clássica, que passaram de uma curiosidade científica para o pilar de toda a revolução digital que vivemos hoje, o chip anunciado pela Microsoft pode marcar o início de uma nova transformação tecnológica.
A pergunta que fica não é apenas o que essa revolução trará, mas quem estará preparado para aproveitá-la. Governos, empresas e profissionais precisam começar a entender o impacto da computação quântica hoje, para que, quando ela se tornar realidade comercial, estejamos prontos para liderar e não apenas seguir.
Bora?

Lideranças do agro e food no GazzSummit Agro e Foodtechs

GazzSummit Agro e Foodtechs vem para ocupar um lugar de destaque nas discussões sobre inovação no agronegócio e no setor de food, conectando especialistas, empresas e startups para debater tendências, tecnologias e os principais desafios desses segmentos, fortalecendo o debate em torno da cadeia produtiva que leva os produtos do campo à mesa do consumidor.
Entre os palestrantes já confirmados estão Dilvo Grolli, presidente da Coopavel; Paulo Maximo, diretor de planejamento e operações de vendas LATAM da CNH Industrial; Mirella Lisboa, head AgroStart LATAM da BASF; Pedro Henrique Ferroni, sócio-diretor da gestora de investimentos Quartzo Capital; Rafael Malacco, gerente de novos negócios da Syngenta Digital; Claudio Nessralla, sócio e head equities da Ceres Investimentos; Giovani Ferreira, diretor-proprietário da afiliada Sul do Canal Rural; e Michell Longhi, gerente executivo de arquitetura tech e Digital Lab da BRF.
O evento também contará com três grandes nomes do setor supermercadista paranaense: Carlos Beal, sócio-proprietário do Festval; Everton Muffato, diretor do Super Muffato; e Pedro Joanir Zonta, fundador da Rede Condor e presidente do Grupo Zonta.
Promovido pelo GazzConecta, o GazzSummit mantém seu pioneirismo ao abordar, conjuntamente, o agro e o setor de food service, tendo as agrotechs e foodtechs como norteadoras das discussões.
Apresentado pela Gedisa, referência em geração distribuída de energia, e com o patrocínio da ESPMJarilo e Urso Consultoria Empresarial, o GazzSummit será realizado nos dias 26 e 27 de março como parte do Smart City Expo Curitiba, segundo maior evento sobre cidades inteligentes do mundo. Os ingressos já estão disponíveis no site oficial do GazzSummit Agro e Foodtechs.