Acompanho o lançamento do relatório Future Today desde 2018. Por vezes, à distância, como neste ano; por vezes, em Austin, no Texas (EUA), durante o SXSW, quando ele é lançado anualmente. Desde 2018, incluo seus dados em minhas falas, palestras e planejamento - quem me acompanha já ouviu falar muito sobre isso. E também tenho a Amy Webb como uma liderança a seguir na área de futuro e tecnologia.
Então, minha coluna dessa semana não poderia deixar de trazer os principais insights do lançamento do relatório de 2025. E, meus amigos, preparem-se para "a pedra nos sapatos" ou "sentar-se sob um bloco", que foi o que Amy fez a plateia experienciar durante a uma hora e meia de sua fala.
Ela começou citando uma frase de Vladimir Lenin, o político, teórico e líder da Revolução Russa, que deixou uma profunda marca na história do país e do mundo e determinou em grande medida os rumos do mundo no século XX: "Há semanas em que décadas acontecem."
Assim como aconteceu no ano passado, as principais áreas em destaque foram inteligência artificial, sensores avançados e biotecnologia. Porém, neste ano, Amy trouxe fatos que aconteceram nos últimos 12 meses e que provam que o que era tendência nessas áreas já é uma realidade concreta - e, o mais importante, que mostram como a convergência dessas tecnologias em uma plataforma está criando situações que quebram regras e protocolos que conhecemos e que estão nos levando para aquilo que Webb chama de "Beyond" (ou "o além", em português). Um mundo criado a partir da união da ciência, da tecnologia e das decisões que estamos tomando.
Aí se explica "sentar-se sob um bloco", isto é, estar em uma posição em que algo passa a nos incomodar tanto ao ponto de ser capaz de tirar nosso foco de coisas mais importantes e fazer com que não percebamos os sinais de grandes mudanças até que elas impactem direta e definitivamente nossas vidas. O incômodo e a falta de conhecimento mais aprofundado sobre o que está acontecendo no mundo sob o ponto de vista da corrida tecnológica faz com que muitos líderes, empresas e governos permaneçam paralisados pelo medo ao invés de traçar um plano que os prepare para a realidade que bate à nossa porta.
"O futuro virá apesar de nosso desconforto, independente de como nos sentimos", diz Amy. Se permanecermos parados, lentos e perdermos o foco, não teremos habilidades necessárias para lidar com ele.
Todos os dias, falamos, ouvimos ou até discutimos sobre inteligência artificial. É uma febre. Ou melhor, uma onda - mas há muita espuma. Isso pode nos distrair e distorcer nosso entendimento. Não porque a IA seja uma "onda" no sentido de ser passageira - pois definitivamente ela não é -, mas sim porque podemos estar nos apegando ao "como" sem entender o contexto, "o porquê" da coisa. Podemos estar tomando decisões erradas e banais apenas para "surfar" essa onda. Sem plano, sem o propósito correto.
O que é, hoje, uma plataforma nova, uma empresa emergente ou uma ação incrível de inteligência artificial pode se tornar notícia antiga antes mesmo de acabar o dia.
Para quem tiver curiosidade e tempo para se aprofundar, a 18
a edição do relatório TECH TRENDS do Future Today Institute, de Amy Webb, é gratuito para
download, são mais de 1000 (sim eu disse mil) páginas com tendências às quais precisamos ficar muito atentos - a elas e seus exemplos e cenários. Compartilho, aqui, alguns pontos que considero principais.
Agentes de IA
Hoje, estamos criando e experimentando agentes de IA - e eles estão se tornando realmente relevantes em nossa rotina. Se você ainda não está se relacionando com eles, recomendo fortemente que o faça. Mas o que vem adiante é a convergência entre IA e novas maneiras de gerir e interagir com dados. Quando os agentes começarem a trabalhar em times, isso será o "Beyond".
Para que isso aconteça, muitas empresas estão investindo em novas linguagens que melhoram o entendimento da inteligência artificial sobre o contexto da vida no mundo físico. Temos que admitir: nossa vida não é linear ou previsível. Vivemos em um mundo caótico e nos entendemos nele. Mas as máquinas não entendem. Então, para que esta tecnologia avance, eles precisam criar um modelo de contexto. E é isso que vamos ouvir bastante nos próximos meses: as empresas de tecnologia investindo fortemente no estudo de modelos e protocolos que ensinem a IA sobre o mundo físico por meio de equipamentos, sensores ou produtos para que ela possa interagir com este mundo.
E, atenção: ecossistema de sensores irão transformar a IA de observadora em controladora.
Metamateriais
A combinação de inteligência artificial e biologia. Algumas empresas já estão trabalhando em modelos que podem prever estruturas e interações de moléculas biológicas - como proteínas, DNA e RNA - e criando um enorme banco de dados dessas combinações aberta para toda a comunidade científica. O que é bom, já que qualquer um poderá fazer combinações e previsões biológicas em minutos. Mas pense bem, qualquer um poderá criar novos materiais com estruturas totalmente novas, em minutos. Roupas, telas, comida - tudo poderá ser recriado. Então, o "o que podemos criar no futuro?" não é a pergunta. A pergunta é: "O que acontece quando começamos a criar coisas e materiais que não seguem as regras?"
Esses são os chamados metamateriais - os "materiais" com materiais que não existem na natureza. Ou seja, materiais super inteligentes.
Ao combinar metamateriais com IA, o futuro pode parecer bem estranho. Estranho como termos um computador com inteligência biológica feito com neurônios humanos.
A era dos robôs
Estamos ouvindo muito sobre a construção, ou tentativa de criação dos robôs humanoides. Que se batem, caem, parecem meio desajeitados. Mas, com o avanço do aprendizado de IA no mundo físico, a era dos robôs - menos humanoides e mais úteis - está finalmente chegando. Cheguei a falar sobre isso em
alguns artigos este ano sobre o lançamento da Nvidia de supercomputadores para treinar robôs. Bem - e sim -, isto está acontecendo.
Inteligência Viva
Unindo todas essas tecnologias surge a Inteligência Viva (Living Intelligence), que Amy chama LI.
Um ponto: precisamos continuar falando sobre ética e regulações. Mas falar entendendo os cenários, se aprofundando nos pontos positivos e negativos do que nos espera neste futuro. Conversar, discutir, aprender. Ser ativo e curioso e aberto para o amanhã - e lembrando que "as decisões tomadas na próxima década irão determinar o destino de longo prazo da civilização humana."