Leandro Kuhn
Leandro Kuhn é engenheiro e CEO da L8 Group.
Segurança 4.0
Por que precisamos desenvolver tecnologia brasileira na área de segurança pública?
Com a tecnologia cada vez mais incorporada à rotina das grandes cidades, diferentes ferramentas digitais passaram a ser utilizadas na gestão pública e, claro, que na área de segurança não é diferente.
Nos últimos meses, temos acompanhado os debates em torno da adoção de equipamentos eletrônicos pelas forças de segurança, medida defendida por especialistas na área para otimizar o trabalho ostensivo e garantir a integridade tanto da polícia quanto da população.
Estamos falando aqui sobre as soluções de videomonitoramento como bodycams e tecnologia embarcada em viaturas, que há anos já fazem parte da rotina das polícias em diferentes países do mundo e, mais recentemente, passaram a ser também uma realidade aqui no Brasil - onde, inclusive, há uma forte cobrança da sociedade civil organizada para a implantação destes sistemas.
Mas, para além da boa vontade política, a promoção da Segurança 4.0 depende também do desenvolvimento de soluções de tecnologia que atendam às necessidades das nossas polícias e estejam de acordo com a realidade brasileira.
Há quase dois anos à frente da implantação do maior projeto de câmeras corporais da América Latina, fornecendo e gerenciando os equipamentos das forças de segurança do Rio de Janeiro, temos observado que são muitos os desafios que precisam ser vencidos para projetos deste porte e, neste contexto, o desenvolvimento de tecnologia brasileira tem se tornado um grande diferencial para a L8.
Com investimento de mais de R$ 10 milhões em projetos de pesquisa e desenvolvimento, criamos, nos últimos meses, soluções com tecnologia nacional para a área de segurança pública. Entre elas, o software de custódia digital das imagens que são captadas nas incursões das forças de segurança.
O programa, desenvolvido por profissionais brasileiros, possui recursos como proteção de dados e criptografia, que impedem a edição das imagens e fornecem ao gestor um controle total e automatizado de quem tem ou não acesso aos arquivos. Além disso, desde o início do projeto, já armazenamos mais de 100 milhões de horas de gravação em nossos Datacenters Tier III, localizados em território nacional por questões estratégicas de autonomia e soberania.
Além disso, investimos no desenvolvimento de novos produtos como carregadores de baterias mais eficientes para as câmeras corporais, e um modelo diferenciado de clipe, para prender de forma mais efetiva os equipamentos nas fardas dos policiais. Ainda em 2023, apresentamos na Feira Internacional de Defesa e Segurança (LAAD Defence & Security) uma solução nacional de tecnologia embarcada para viaturas policiais, que possui reconhecimento facial e leitura de placas, conectividade com outros aplicativos e com a central de operações, com autonomia de energia para não prejudicar a bateria dos veículos.
Queremos nos destacar como fornecedora global de produtos de primeira linha na área de segurança eletrônica e muito temos avançado neste caminho. Penso que é fundamental que as empresas de tecnologia se atentem para a necessidade de desenvolvimento de produtos autorais e brasileiros, para reduzirmos a dependência de insumos estrangeiros que há no setor.
Não é segredo para ninguém que após o processo acelerado de globalização vivenciado nas últimas décadas, muitos países estão adotando medidas mais protecionistas para garantir a autossuficiência e não ficar à mercê das instabilidades geopolíticas internacionais.
E com a sociedade cada vez mais conectada e dependente dos recursos digitais, o setor de tecnologia tem papel estratégico nesta jornada. Pois além de garantir a continuidade dos processos internos que dependem em algum grau da tecnologia, o investimento em tecnologia brasileira vai estimular o mercado de trabalho, criando postos para profissionais altamente qualificados. Vale lembrar que a cada real produzido na indústria são gerados R$ 2,43 para a economia brasileira como um todo, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Ou seja, o desenvolvimento de produtos e serviços com tecnologia nacional, sobretudo para a área de segurança pública, deve ser visto como um fator estratégico para fomentar o desenvolvimento socioeconômico do Brasil e garantir a soberania nacional, inclusive em relação à proteção de dados.