Diego Godoy*
Mercado de trabalho
Falta gente qualificada para as vagas ou há pouca vaga para muito desemprego?
Falta gente qualificada para as vagas? Tem pouca vaga e muita gente desempregada? As empresas exigem demais? Essas perguntas foram feitas para mim e minha sócia Suzi Carfer muitas vezes nos últimos anos por profissionais, gestores da área de recursos humanos, líderes e empresários, e sempre eram respondidas com fatos observados e dados adquiridos em publicações, artigos e notícias.
Para ter respostas mais claras e medir de forma mais próxima à nossa realidade, realizamos uma pesquisa com profissionais e gestores de recursos humanos. Foram mais de 3,5 mil candidatos (profissionais) e mais de 50 gestores respondendo a perguntas como: “Por que sua empresa não investe em qualificação? Falta tempo ou dinheiro?”.
O resultado é a pesquisa "Mercado de trabalho: o dilema sobre recrutamento, qualificação e desemprego em 2020", lançada nesta quinta-feira (5) pela Easy2Recruit em parceria com o GazzConecta.
O que acabamos descobrindo é que uma pesquisa como essa tem um papel muito mais amplo do que apenas medir percepções sobre a área de recursos humanos: ela propõe soluções que podem fazer com que o desemprego diminua, empresas tenham mais e melhores profissionais em seus times e, consequentemente, que faça a economia crescer.
O Fórum Econômico Mundial afirmou, neste ano, que em três anos 1/3 das habilidades profissionais que temos serão inúteis, e que mais da metade dos profissionais precisarão ser requalificados. Isso não se deve somente à robotização de muitas funções, mas principalmente pelas mudanças estruturais nos negócios.
Basta você imaginar a transformação que o varejo sofreu nos últimos seis meses com os impactos da digitalização de grande parte das vendas. Milhares de lojas de supermercado, por exemplo, viraram “entrepostos” utilizados por entregadores de aplicativos de delivery.
“Se você tem uma empresa que precisa de 50 programadores hoje, a tendência, se a empresa continuar crescendo, é que ela precise de dois programadores no futuro. Não faz sentido sempre precisar de 50. É uma questão a ser discutida, mas, em breve, eu acho que a gente não vai precisar de tantas pessoas de tecnologia e não existe uma solução tão rápida. Se você fosse em busca de uma solução agora, seria investir na formação da base, mas acredito que o próprio cenário econômico e a demanda de tecnologia irão se ajustar no futuro", afirmou Jônatas Cruz, CFO da Mercafácil, empresa paranaense de tecnologia com foco em supermercados, à pesquisa.
Em recente artigo, o presidente da indiana Infosys, Ravi Kumar, disse que acredita que existirão o que ele chama de “coalizões adaptativas complexas”, em que as empresas farão parceria com diferentes universidades e até mesmo escolas de ensino médio. Os alunos das universidades poderão fazer cursos de aprendizagem just-in-time. Aprendendo, ganhando e trabalhando, tudo ao mesmo tempo.
Outra percepção interessante é a visão dos profissionais sobre essas questões: 86,2% das empresas dizem que não podem contratar pessoas sem qualificação para treiná-las depois é a falta de tempo pois precisam ser rápidas. Além disso, 93% dos profissionais dizem que se comprometeriam em ficar por um tempo pré-determinado na empresa em troca de um treinamento na sua nova função.
Há um importante “porém”: muitos já descobriram que não precisam das empresas e não as querem como responsáveis por seus treinamentos.
“Tem que ser um ambiente adequado para a minha saúde mental e para o meu desenvolvimento profissional; preciso ter um plano de carreira e enxergar como a empresa está alinhada a esses meus objetivos. Por isso, um treinamento para mim é muito pouco, até porque, na minha área, boa parte das coisas que eu preciso aprender, eu consigo pela internet, então eu não vejo vantagem. Não é o que eu espero da empresa, mas claro que eu acredito em empresas que compartilham conhecimento”, disse Anne Glienke, analista de dados na Olist, que não se comprometeria sem antes conhecer a cultura da empresa.
Entendemos com toda as opiniões e dados que é necessário criar consciência em todos os envolvidos e impactados pelo problema de escassez de mão-de-obra num país que ao mesmo tempo tem tanto desemprego: governos, universidades, escolas, empresas e profissionais. A economia mudou, vai continuar mudando e é dever de todos discutir e pensar em soluções. Nosso maior problema é saber como qualificar e requalificar tanta gente, pensar em maneiras e caminhos depende de todos. Vamos pensar nisso juntos?
Clique aqui e baixe gratuitamente a pesquisa "Mercado de trabalho: o dilema sobre recrutamento, qualificação e desemprego em 2020", lançada em novembro pela Easy2Recruit em parceria com o GazzConecta.
*Diego Godoy é headhunter e sócio da Easy2Recruit – RecrutamentoFacil.com. Trabalhou em empresas multinacionais do segmento de serviços profissionais como PwC, Michael Page e Walt Disney Company. Também é fundador do Projeto Um Por Cento, reconhecido como iniciativa oficial pelo ACNUR e que trabalha na recolocação de refugiados no mercado de trabalho do Brasil.