Antonella Satyro*
Environmental, Social and Governance
O “S” de “Social” no ESG: construindo uma agenda de liderança exponencial
O futuro chegou e é HOJE. É hoje porque não temos mais tempo a perder. Um time de 40 estudiosos de todo o mundo, liderados por Johan Rockström, cientista pioneiro na quantificação dos limites para a vida na Terra, identificou que de oito limites para uma vida segura na Terra para todos nós, sete já foram excedidos. Alguns desses limites são a perda de biodiversidade, poluição, mudanças climáticas, uso de água doce, acidificação dos oceanos, mudanças no uso do solo, entre outros.
Mas por que trazer esses dados e falar sobre isso? Porque a preocupação com o “E” da agenda ESG é iminente. Não é à toa que, neste ano, no dia 26 de abril, o Pacto Global da ONU no Brasil realizou uma ação peculiar para trazer mais consciência sobre o querido planeta que habitamos, a Terra.
Pois bem, a terra tornou-se uma empresa fictícia chamada TERR4 na Bolsa de Valores (B3) para reforçar a importância de investir no futuro do planeta. A TERR4, instituição fictícia, é descrita na Bolsa como “uma empresa de bilhões de anos, única no seu segmento, com 8 bilhões de consumidores, que atualmente apresenta os piores resultados da sua história”.
Ou seja, eu e você somos parte dos 8 bilhões de consumidores desta empresa e, juntos, podemos fazer a diferença na busca por um futuro mais sustentável e responsável. O cenário corporativo está redefinindo suas prioridades, e a tríade ESG (Environmental, Social and Governance) está liderando essa transformação. Comentamos agora pouco sobre o “E” desta agenda, mas ele serviu como ponte de diálogo para gerar urgência e captar a sua atenção nesta leitura.
O foco principal hoje é o "S" de Social que, nesse acrônimo, também vem ganhando destaque como um dos pilares fundamentais para uma estratégia ESG exponencial - e não há dúvida de que as lideranças desempenham um papel vital nesse cenário.
Não se trata apenas de números e estatísticas quando falamos do “S”. O Social é o compromisso das empresas em relação às pessoas, sejam elas clientes internos (colaboradores), comunidades, stakeholders, fornecedores ou clientes externos. Enquanto as dimensões ambiental e de governança têm uma presença mais tangível em termos de regulamentações e métricas de sustentabilidade, o "S" muitas vezes exige uma abordagem mais subjetiva e centrada nas relações humanas.
Nesse contexto, as lideranças têm a tarefa primordial de serem os agentes de mudança e replicadores de um DNA cultural que priorize não apenas os lucros, mas também o bem-estar coletivo, os ambientes psicologicamente seguros e a equidade. Uma liderança comprometida com o “S” do social é prioridade para que pessoas contribuam com o seu melhor e empresas possam prosperar em um mundo em constante transformação. Afinal, a cultura de uma empresa não é composta pelos seus recursos e ativos apenas, ela é majoritariamente composta pelos seres humanos por trás das entregas e dos resultados.
Líderes humanizados compreendem que quanto mais diversificada a força de trabalho, mais perspectivas e criatividade as equipes têm, impulsionando a inovação e a resolução de problemas de maneiras singulares. Não é à toa que os países mais disruptivos do mundo são compostos, em maioria, por imigrantes e uma ampla gama de desafios que precisam de soluções diferenciadas, vide Estados Unidos, Israel, Estônia entre outros. Portanto, líderes conscientes trabalham o seu autoconhecimento, estudam sobre vieses inconscientes e julgamentos, assim como implementam práticas de recrutamento, desenvolvimento e promoção que refletem esse compromisso. O líder do futuro tem como premissa básica a ética e a justiça - e esse refinamento só é possível por meio do autoconhecimento e desenvolvimento de habilidades humanas de forma contínua.
O "S" do Social no ESG também se relaciona com a saúde e o bem-estar dos colaboradores porque temos que começar de dentro para fora. Líderes empáticos colocam a saúde mental e física de sua equipe em primeiro plano, compreendendo que colaboradores saudáveis e satisfeitos são mais produtivos e comprometidos. Eles criam um ambiente de trabalho no qual a segurança, o respeito e a empatia são fundamentais. Pesquisas da Universidade da Califórnia publicadas na Harvard Business Review mostram que colaboradores felizes são 300% mais criativos e 200% mais inovadores e que empresas positivas têm menos 55% de demissões. Além de 24% a mais de margem operacional (American Society for Training and Development).
Pois bem, o “S” engloba pessoas, lideranças e o que mais? Ele também está conectado com a responsabilidade social corporativa que vai além das portas da empresa (de fora para dentro). Líderes conscientes reconhecem o impacto que suas decisões têm nas comunidades em que operam. Eles se envolvem em projetos sociais, promovem ações de voluntariado e trabalham para mitigar potenciais impactos das suas operações. Eles compreendem que o sucesso de longo prazo está inextricavelmente ligado ao bem-estar da sociedade como um todo.
Em um mundo em que cada vez mais pessoas e lideranças prezam por transparência, incorporar a liderança humanizada nunca foi tão atual. Precisamos compreender que o sucesso não é só o lucro, mas principalmente a linha tênue entre pessoas entregando resultados que geram o lucro. Isso é o que faz a terra ser a Terra, pois o maior dom que temos é o poder da consciência individual e coletiva para construir uma sociedade cada vez mais humana. Que possamos colocar o ser humano no centro das nossas ações e decisões empresariais para que todos possamos prosperar em um mundo com 8 bilhões de habitantes. E, por último, mas não menos importante: que deixemos de ser chefes para sermos líderes humanizados (not like a boss but like a leader).
*Antonella Satyro humaniza e acelera pessoas, líderes, CEOs, organizações e startups. Ex-gestora de times ágeis globais, ela é, hoje, CEO e cofounder do Human Skills Manifesto, uma edtech de impacto social.