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Leonardo Capel*

Mercado de trabalho

O duelo incansável entre gerações

11/12/2020 14:44
Não há como falar sobre os Millennials sem falarmos sobre o conflito de gerações que existe no mercado de trabalho e no mundo. Chega a ser engraçado como as barreiras crescem ao rotularmos as pessoas por faixa etária. E como é difícil lidar com esses rótulos relacionados à idade! Duvida? Você em algum momento já encontrou uma criança de uns 10 anos e se viu sendo chamado de “tio”? Como isso dói. Com apenas uma frase inocente começamos a nos perceber “velhos” e que ainda não chegamos aonde desejamos. Vixe! Vem muita coisa em nossa cabeça como "que criança chata... acabou de estragar o meu dia".
Porém, esse sentimento de faixas etárias se estende para diversos ambientes, e o principal deles é no mercado de trabalho. Pela primeira vez na história, possuímos cinco gerações trabalhando em conjunto ao mesmo tempo.
Os veteranos, nascidos entre 1925 e 1945, são conhecidos como a Grande Geração. Viveram na época da Segund Guerra Mundial e foram marcados pelas crises econômicas. Eles são conhecidos por seu auto sacrifício, respeito à autoridade e valorização da família. Muitos já se encontram aposentados, mas os que ainda estão ativos no mercado de trabalho acreditam na construção da carreira em uma mesma empresa durante toda a sua vida.
Os Baby Boomers vieram logo após a Segnda Guerra Mundial, nascidos entre 1946 e 1960. Essa geração passou por uma transformação cultural devido à ascensão da TV, sendo um influenciador na alteração do comportamento dos jovens da época. É uma geração caracterizada pelo trabalho duro, tanto que, é nessa época que acontece o surgimento do termo workaholic. Eles apreciam a concorrência e uma comunicação direta e eficaz. Atualmente, muitos estão pensando em se aposentar, se ainda não se aposentaram. Vale destacar que foi durante esse período que surgiram e ganharam destaques movimentos como o feminismo, os ideais de liberdade e movimentos a favor dos homossexuais e negros.
Em seguida, surgiu a Geração X, nascida entre 1961 e 1979. Essa geração é a primeira a possuir uma formação acadêmica, o que era raro na época. Também é a geração que teve mais divórcios do que qualquer outra anterior. Foi a primeira geração que focou em produtos de maior qualidade e no início de uma busca por equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
E, então, veio a minha geração, conhecida como Millennials, nascida entre 1980 e 2000. Essa geração é conhecida por nunca ter vivido em um mundo sem que a tecnologia não estivesse presente em casa. Nós somos incrivelmente pragmáticos, esperançosos e determinados. Nós achamos que vamos mudar o mundo, e, na verdade, acredito que vamos fazer isso. Podemos ser um pouco idealistas, às vezes, precisamos nos sentir motivados no ambiente de trabalho e preferimos buscar experiências diferentes a construir a carreira em uma única empresa. Nos últimos anos, essa geração ultrapassou a Geração X como a geração com mais pessoas trabalhando no mundo corporativo.
E,
por fim, a Geração Z, nascida a partir de 2000, e que está
ingressando no mercado de trabalho atualmente. Eles nasceram já com a internet
disseminada no mundo e fazem da tecnologia uma extensão deles mesmos, estando
sempre conectados e antenados nas novidades.
É interessante pensar que, pela primeira vez, essas cinco gerações estão interagindo não só em suas vidas pessoais, mas também nas profissionais. O interessante é ver como elas possuem dificuldades e preconceitos umas com as outras. Basta uma busca rápida no Google e você̂ verá uma enxurrada de artigos e posts sobre “10 razões por que os Millennials são a pior geração de todos os tempos.” ou “Por que os Baby Boomers e a Geração X acabaram com o mundo?”.
Porém, se você analisar, colocar as pessoas que nasceram em determinado período de tempo em uma caixinha com tal característica é insano. Para começar, existem várias divergências sobre qual é o ano que começa uma geração e termina outra. Existem Millennials que se consideram da Geração Z e Baby Boomers que se consideram da Geração X. O ponto é que tudo isso são rótulos que nos dão a sensação de pertencimento e facilitam ou dificultam a compreensão das pessoas de como somos.
Em segundo lugar, na minha concepção, é muito difícil entender que uma pessoa nascida em 1980 e outra em 1998 possuem as mesmas características e sejam agrupadas como similares. Assim, basicamente, estamos afirmando que uma pessoa recém-nascida e uma de 18 anos compartilham os mesmos valores, querem as mesmas coisas no trabalho e possuem os mesmos estereótipos, trabalhando a favor e contra eles.
Se formos analisar o mercado de trabalho podemos nos perguntar o que os Millennials, minha geração, estão buscando? Queremos flexibilidade, autonomia, valorização, experiências enriquecedoras e um RedBull. Mas, com exceção do Redbull, nenhuma dessas coisas estão ligadas exclusivamente aos Millennials. Todos esses pontos podem ser procurados no mercado de trabalho por quem possui 24, 32, 46 ou 60 anos.
Talvez o que tenha acontecido é que as pessoas se acostumaram com os rótulos e prefiram facilitar suas vidas, assumindo coisas baseadas em um estereótipo. Sem dúvida alguma, esse é o caminho mais fácil. Esquecemos que pessoas são pessoas. Que um jovem de 25 anos pode querer estabilidade e fazer carreira em uma empresa e que outro jovem de 25 anos pode querer se aventurar e experimentar diferentes oportunidades.
Esquecemos que as pessoas buscam estar em grupos, mas são indivíduos, cada um com sua história e sua essência. Ou talvez não tenhamos esquecido, apenas nos acostumados com as nossas zonas de conforto, pois é muito mais fácil assumirmos coisas do que nos sentarmos para conversar e conhecermos realmente alguém.
Evidentemente, existem inúmeros desafios que precisamos aprender para saber navegar neste mundo multigeracional, onde existem tantas pessoas únicas trabalhando em conjunto. Porém, colocá-las em caixas pré-definidas não é a solução. Você̂ pode me chamar de um daqueles Millennials idealistas, no entanto, eu acredito que podemos juntos alcançar essa harmonia e não acho que estejamos tão longe. Basta estarmos abertos para tirarmos nossos rótulos, superarmos a vida corrida e os desafios do dia a dia.
*Leonardo Capel é autor do livro “O Dilema dos Millennials: Como superar os desafios do dia a dia, crescer na carreira e viver uma vida com propósito”. Fundador da A+ Educação e da agência de marketing digital focada em propósito, Thank You Marketing. Foi eleito Empreendedor Social do ano Brasil, pela International Youth Foundation, em 2016, e Global, em 2018.

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