Muito além de marketplaces, plataformas SaaS ou integração com inteligência artificial, tecnologias com base sólida em ciência – como biotecnologia, novos materiais e energia – estão criando vacinas, proteínas e chips, desenvolvendo baterias e reatores, e transformando setores críticos da sociedade. Nascidas de anos de pesquisa científica, elas se tornam soluções de alto impacto em inovação para os grandes desafios globais, da crise climática à segurança alimentar e às necessidades terapêuticas não atendidas.
As deep techs vêm ganhando destaque e se tornaram aposta estratégica para setores como investimento, indústria, governo e academia. Cada uma dessas esferas enxerga objetivos distintos nessas tecnologias disruptivas. O mercado de investimento, por exemplo, vê nesse segmento um potencial de alto retorno – como aponta um recente relatório da McKinsey: "
A deep tech emergiu como uma das áreas mais promissoras para investimento, com altos retornos e um perfil de risco atraente".
Já as indústrias percebem o risco de perder mercados ou, ao contrário, a chance de se manterem competitivas com base nessas inovações. Governos entendem que fomentar políticas públicas voltadas ao setor pode atrair talentos, gerar negócios globais e solucionar grandes problemas. Por fim, a academia – como celeiro potencial de deep techs – encontra nelas uma oportunidade de levar à sociedade o conhecimento produzido dentro de seus muros.
No Brasil, um estudo da Emerge identificou 875 deep techs ativas, revelando a diversidade e a escala dessa base empreendedora. Reconhecendo a importância do setor, instituições como Finep, BNDES, CNI e Sebrae firmaram, durante o Deep Tech Summit, um protocolo de intenções para construir uma política pública nacional voltada ao tema. O objetivo é criar investimentos, instrumentos fiscais, regulatórios e de compras governamentais capazes de sustentar pesquisas de alto risco tecnológico.
Casos premiados no último Summit já demonstram o potencial dessas inovações científicas. A Brain4care desenvolveu um dispositivo não invasivo para monitoramento da pressão intracraniana em tempo real. A Nintx combina inteligência artificial e biofísica para acelerar a descoberta de moléculas terapêuticas a partir da biodiversidade brasileira. Já a Decoy desenvolve bioinseticidas de alta especificidade que reduzem o uso de pesticidas na agricultura. Esses exemplos ilustram como as inovações com base em ciência podem transformar setores inteiros, gerar valor econômico e promover impactos sociais significativos.
Nos dias 29 e 30 de setembro, a Universidade de São Paulo sediará a terceira edição do Deep Tech Summit. O evento reunirá mais de 30 fundos de investimento, mais de 80 deep techs expositoras e os principais representantes da indústria, governo e academia, com o objetivo de gerar negócios e discutir o futuro das tecnologias baseadas em ciência. Delegações da Argentina, Colômbia e Chile também estarão presentes, com investidores e startups de seus ecossistemas.
O futuro da inovação tem raízes profundas. Incentivar, financiar e escalar deep techs deixou de ser uma opção – é um imperativo estratégico para países, empresas, investidores e universidades.