Thumbnail

Quem quer ser um mentor?

James Cichy

Perfil e propósito

Quem quer ser um mentor?

05/10/2022 18:23
Já compartilhei anteriormente, em texto aqui na Destrava PME, qual é o papel da mentoria – transmitir conhecimento aliado à prática – e o que é necessário possuir para ser um mentor – bagagem. “O que faz um mentor?”, afinal, talvez seja a pergunta que mais ouço. Outra dúvida bastante comum diz respeito a quem quer se tornar um mentor. Com anos de vivência conectando pequenos e médios empresários que precisam aprimorar sua gestão a executivos que desejam ajudar outros empreendedores com a sua expertise, acredito que consigo responder à questão.
Na minha experiência, observei dois perfis principais. A essência do mentor, basicamente, está ligada a propósito. E isso tem tudo a ver com o primeiro perfil de aspirante a mentor. Falo, aqui, de executivos que atingiram o ápice de suas carreiras, que provavelmente já conquistaram a estabilidade financeira.
Pense naquele multimilionário que já tem de tudo, pode comprar de tudo e que quer dar um novo sentido à vida. Envolve-se, então, com projetos sociais, entidades beneficentes, busca agregar (ainda mais) valor à sociedade. A lógica do mentor é similar. Trata-se de um profissional que já percorreu uma longa estrada de saberes, tem maturidade, alcançou um alto nível de consciência. Nesse processo, aprendeu muito, errou muito também, levou diversos tombos, e, invariavelmente, compartilhou ensinamentos. Ocorre que essas lições ficaram muito limitadas à “bolha” onde ele vivia e trabalhava.
Assim, ao atingir o topo, esse executivo percebe que ainda precisa compartilhar sua experiência, mas com um objetivo, uma contrapartida. Essa contrapartida, em grande parte das vezes, sequer é financeira. O objetivo desse profissional não é ganhar dinheiro, tanto que muitos que me procuram afirmam que poderiam realizar a mentoria de forma pro bono, sem nada cobrar.
O que ele almeja é deixar um legado, é ultrapassar os limites do universo onde se encontrava. Esse profissional quer é gerar uma marca que vai além do dinheiro, dos diplomas, dos certificados que conquistou durante a carreira. É uma “prova social”, é ajudar a evitar a derrocada de uma empresa, mudar o destino de um empreendedor que poderia estar perdido.
O valor final de salvamento de um negócio é intangível para o processo. O impacto financeiro até pode ser medido, mas o impacto emocional que se deixa na vida do empresário que foi mentorado é muito difícil, para não dizer impossível, de ser mensurado. Muitas vezes, é isso que o mentor busca: a satisfação no sentido de saber que ele ajudou outro empresário a evoluir, a se salvar.
O segundo perfil de profissional que demonstra interesse em se tornar mentor é o jovem que está em busca de status, de autoridade. O objetivo não é o legado, até porque ainda não há experiência suficiente. A vontade é de se posicionar, mas falta a expertise necessária. O que ocorre, em verdade, é que o jovem confunde ser mentor com influenciador. Mentorar é diferente de persuadir; é ensinar lições que vão além do conhecimento acadêmico – e isso muitos aspirantes jovens a mentor têm. Um mentor precisa ter trajetória, ter vivenciado situações diversas, testemunhado momentos distintos da economia. É uma história de vida que não pode ser descartada quando você vai falar de modelos de negócios e gestão de empresas.
De forma resumida, o mais jovem ambiciona ser referência, que é algo que o executivo, o mentor de fato, já é. É justamente por isso que muitos desejam trabalhar pro bono. Quando eu converso com aspirantes a mentor, a primeira coisa que eles costumam perguntar é quanto vão ganhar por sessão. Com o executivo mais velho, esse é o último ponto abordado – e quando eles perguntam, porque não raro sou eu que preciso trazer a questão. Há uma diferença nítida entre os caminhos.
Você não vai ficar rico sendo mentor, mas é um prazer ensinar, ter um propósito, ser visto como um compartilhador.