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PMEs também precisam desenvolver lideranças

James Cichy

Papel do líder e responsabilidades

PMEs também precisam desenvolver lideranças

28/10/2022 20:30
Em um dos primeiros textos que publiquei aqui na Destrava PME, falei sobre a “síndrome do topo da pirâmide” da qual muitos empresários, especialmente das pequenas e médias companhias, sofrem. Sem confiança para delegar funções, o líder – normalmente o dono/fundador do negócio – se vê sozinho no alto, inundado por questõezinhas que tomam bastante tempo e energia e tiram o foco da estratégia da organização, que deveria ser sua principal preocupação.
Assim, desenvolver lideranças não deve ser uma atitude restrita às grandes corporações. Muito pelo contrário, aliás, uma vez que os pequenos empreendedores só conseguirão se dedicar inteiramente ao planejamento estratégico, essencial para o crescimento da empresa, se houver uma ou mais pessoas com quem dividir as funções de gestão. Como, entretanto, fomentar o surgimento dessas lideranças?
Faz anos que venho testando modelos. Já testei vários modelos de trabalho individuais, com metas por colaboradores, mas constatei que a divisão em grupos é a mais acertada. Nesse modelo, sempre há um “alfa”. Pode ser uma mulher ou um homem, o gênero não importa. Falo daquela pessoa com voz ativa.
Não se trata, necessariamente, do colaborador mais competente, qualificado ou talentoso, mas é o profissional que acaba atuando como um influenciador. Isso ocorre mesmo que a divisão seja por duplas: sempre tem alguém que toma a frente. E não significa que essa pessoa apenas “manda” e pega todas as glórias para si. Em grupo, os colaboradores apoiam uns aos outros, motivam-se mutuamente, buscam cumprir o objetivo proposto de forma conjunta.
Assim, além de ser benéfico para o cumprimento de metas da empresa, o trabalho em grupo estimula o surgimento orgânico de líderes. A empresa não está forçando que as lideranças floresçam, porque elas se revelam naturalmente quando há a divisão em células. Ressalte-se que é preciso que os empreendedores tenham inteligência para perceber esses colaboradores que se destacam, que têm perfil de liderança, e invistam nessas pessoas. Foi o que eu fiz durante muito tempo: investi em cursos de liderança para esses colaboradores que se destacavam nas pequenas células e, com o tempo, eles acabaram se tornando coordenadores, gerentes, na minha empresa ou nas companhias para as quais eles foram.
O “pulo do gato” de dividir os profissionais em times é que às vezes esse perfil de liderança só vai se deixar transparecer na prática em equipe. Ele não aparece quando se trabalha sozinho – ou demora muito mais – e na entrevista para o cargo, por exemplo.
Para as PMEs, investir no florescimento de lideranças é uma quebra de paradigma, uma ruptura de modelo mental. Os donos de pequenas empresas são, de fato, muito centralizadores. Ao mesmo tempo, reclamam que não têm tempo para a família, para o lazer, que são consumidos em demasia pelo trabalho.
Claro, eles centralizam tudo, muito porque não acreditam que haja alguém dentro da empresa que possa auxiliá-los no dia a dia. Cedo ou tarde, contudo, o dono vai precisar de apoio. Se vai precisar, melhor qualificar as pessoas que demonstram ter aptidão para tal empreitada.
Eu mesmo passei por isso. Fiquei 10, 12 anos da minha vida sem tirar férias de 20, 30 dias. Era um dos principais motivos de desavença com a minha família. E conheço muitos empreendedores com essa vida maluca porque não confiam em ninguém. Por mais que a tecnologia tenha ajudado muito na questão do trabalho remoto, há situações operacionais que ainda demandam presença física, que pode ser sanada por outro líder da empresa. Destaque-se que além de ganhar mais tempo para a sua vida pessoal, o empreendedor pode focar em outras atividades que ajudem a empresa, como fazer networking.
É muito diferente contratar alguém que se diz preparado para exercer uma função de liderança e no fim não ser aquilo que você esperava do que identificar alguém diretamente no seu negócio, acompanhar seu crescimento. Trata-se, no fim das contas, da conquista natural de um novo funcionário.