James Cichy
Desenvolvimento profissional
Não tenha medo de investir no seu colaborador
A trajetória dos pequenos e médios empreendedores é repleta de dúvidas. Uma delas está ligada a investir ou não na capacitação dos colaboradores. Isso porque muitos empresários acreditam que desenvolver a equipe significa entregá-la “de bandeja” para grandes empresas. Uma vez mais capacitados, afinal, os profissionais desejarão cargos maiores, que paguem salários melhores, e as PMEs não têm condições de competir com as big corps.
É um pensamento, para dizer o mínimo, mesquinho. E não me eximo de culpa: eu mesmo já pensei assim. Em uma PME, especialmente em razão do tamanho da operação e do volume de investimentos, o plano de carreira não é tão extenso quanto o que se tem em uma grande companhia, e o mais alto salário talvez não chegue aos pés do que uma big corp paga aos seus executivos C-Level. Investir no time, contudo, é essencial, mesmo que as chances de um profissional melhor capacitado sair do seu negócio sejam consideráveis.
O que acontece é que essas pessoas nas quais você acreditou saem da sua empresa com uma espécie de gratidão e, cedo ou tarde, é provável que o investimento que você fez nesses trabalhadores se reverta positivamente.
Vou usar minha própria experiência para exemplificar o contexto. Durante muitos anos, tive uma empresa de tecnologia. Conforme os colaboradores iam se capacitando, eles saíam do meu negócio para irem para grandes companhias. Lá, cresciam e se tornavam gerentes, coordenadores, e, então, começaram a contratar minha empresa como prestadora de serviços ou chamar para concorrências. Não só porque eram gratas, mas porque sabiam do nosso potencial, dos planos de desenvolvimento dos funcionários. Pagávamos cursos, promovíamos palestras, contratávamos treinamentos de soft skills.
Se no começo eu tinha a impressão de que qualificar o quadro de profissionais era ruim, porque assim eu iria “perdê-los”, isso caiu por terra depois que o terceiro, quarto colaborador que foi para uma companhia maior nos acionou. Víamos que valia a pena e viramos uma espécie de porta de entrada para o mercado, para as grandes companhias.
Isso se tornou, inclusive, uma ferramenta para a atração de talentos: os profissionais queriam trabalhar com a gente porque sabiam que éramos uma vitrine para o mercado. Chegou num ponto em que as pessoas nos procuravam diretamente para trabalhar, não tínhamos sequer um banco de dados. Você atrai bons colaboradores para a empresa e constrói um futuro para a sua própria PME quando você investe nos seus colaboradores, portanto.
O que eu percebi nesses anos é que existe um preconceito grande nas PMEs do tipo “por que eu vou qualificar para o outro?”. Como comentei, eu mesmo já pensei assim, e só percebi que não era do jeito que eu imaginava quando as pessoas que estavam saindo retornavam em forma de clientes.
Algo interessante que nós também fizemos foi criar um mecanismo de qualificação que fosse mais assertivo para a carreira da pessoa, partindo de questionamentos sobre a área em que ela atuava e o que estava almejando para a empresa ou para a sua própria carreira. Tivemos resultados muito interessantes. Alguns trabalhadores da área operacional, por exemplo, não tinham pretensão de seguir na carreira técnica e queriam mudar de área. Deixamos, assim, o benefício de qualificação em aberto em relação ao que o profissional almejava para a sua trajetória.
Um desses colaboradores, um técnico de informática, optou por uma qualificação voltada ao setor alimentício, pois ele estava fazendo um curso de gastronomia. Um tempo depois, ele foi trabalhar em uma grande rede de restaurantes, na área de cozinha mesmo, de montagem de cardápio. Quando o restaurante precisou de um prestador de serviços de tecnologia, ele não hesitou em nos indicar.
Investir no colaborador e criar um plano de carreira, portanto, vale muito a pena. O profissional cresce, será grato e, se puder, vai lhe ajudar. Quem compreende isso consegue atingir bons resultados com os colaboradores. É preciso, entretanto, ter um plano e entender os caminhos que a sua empresa precisa percorrer para, minimamente, pensar em capacitações que façam sentido.