James Cichy
Investimento em mentoria
Mentoria precisa ser encarada como complemento à educação executiva
Nesses anos trabalhando com mentoria para pequenas e médias empresas (PMEs), foi mais de uma vez que fui questionado sobre o porquê investir numa mentoria se o empreendedor já tinha realizado um Master in Business Administration (MBA) e/ou especialização na área de administração ou negócios. A verdade é que a mentoria não deve ser encarada como uma substituta à educação executiva, tampouco como um processo inferior, mas como um complemento.
Essa desconfiança acerca da mentoria ocorre em muito por conta da percepção errônea que se tem da figura do mentor. Vários empresários acreditam que o mentor é um influenciador ou um coach, quando, em verdade, ele é um executivo com ampla experiência e que busca deixar um legado. Por mais que os cursos tradicionais tragam uma ampla bagagem de conhecimento, o lado prático não costuma ser priorizado. Obviamente, movimentos para mudar esse cenário vêm sendo realizados, mas a maioria ainda é assim.
O mentor, por outro lado, já fez faculdade, MBA, pós-graduação, testou, lançou, deu errado, voltou, discutiu, lançou de novo... Como escrevi por aqui anteriormente, é um profissional maduro que percorreu uma estrada de saberes e experiências longas e alcançou um nível elevado de consciência. Ter a oportunidade de acessar um executivo e aliar, de maneira objetiva, conhecimento à prática é muito valioso.
Há, ainda, a questão de postura, comportamento, emoção. A mentoria extrapola o conhecimento e trabalha também a postura de liderança do empreendedor. O que um líder precisa ter? Ser líder hoje é muito mais difícil do que era antigamente, porque se está mais exposto a julgamentos. Existem até portais que registram como as empresas tratam seus colaboradores. E isso reflete no desenvolvimento do empresário.
Se um líder desiste, tudo o que está abaixo dele vai ruir também. O líder é, antes de tudo, um incentivador. Não adianta ser um PhD e não ter essa bagagem de puxar o time. Isso, muitas vezes, o empresário aprende em cursos, livros, palestras e, na hora de colocar em prática, não consegue. Liderar não é apenas sobre saber organizar e delegar, mas principalmente sobre vivenciar. O convívio com um mentor, nesse sentido, é importantíssimo.
A mentoria não tem a pretensão de substituir um curso tradicional, mas ser um apoio, a continuação desse processo. Seria perfeito se fosse possível fazer um MBA ou especialização em conjunto com a mentoria, até mesmo para debater com o mentor aquilo que está sendo aprendido na formação, porque debates nos fazem evoluir. E aí, somado ao aprendizado formal, tem-se ao lado alguém para apoiar, incentivar a prosseguir, falar o que é necessário ser dito. Ao mentorado, o mentor expõe suas próprias dores, dando alicerce para que ele persista.
Temos, também, que enaltecer a praticidade da mentoria. Se a necessidade é pôr alguém com bagagem mais técnica, traz-se um mentor com essas características. Aí, no meio do processo, o mentorado percebe que o comportamento, a atitude de liderança, é outro ponto a ser aprimorado. Se o primeiro mentor não domina essa área, chama-se um profissional para trabalhar, em conjunto ou de forma separada, a questão. Sem falar na tecnologia que facilitou a mentoria. Hoje, podemos conversar com alguém que está em São Paulo, Rio de Janeiro, Estados Unidos, China. Por que não aproveitar isso?
A oportunidade de conhecer uma ou mais pessoas extremamente qualificadas é absurda. Por isso me incomoda quando tratam com descrédito na mentoria. O potencial transformador que um profissional com grande bagagem de experiência e conhecimento leva para um pequeno ou médio empreendedor é imenso. O mentorado se transforma não apenas profissionalmente, mas pessoalmente. É preciso, contudo, entrar de coração aberto na mentoria. É igual na terapia: se não abrir tudo, não vai ter o resultado esperado. E o mentor, é claro, também aprende e evolui a cada sessão com o mentorado, mas sobre isso já falei aqui. Até a próxima!