O presidente da Renault no Brasil, Ricardo Gondo, disse, nesta quinta-feira (21), que o futuro do setor automotivo será elétrico no país, com uma "transição longa e que passará por tecnologias híbridas". A fala do executivo aconteceu na abertura de um seminário promovido pela fabricante, em São Paulo, para debater a eletrificação e soluções de mobilidade.
Segundo Gondo, há mais de 450 mil veículos 100% elétricos da Renault nas ruas do mundo todo. No Brasil, onde a adoção acontece em ritmo mais lento, ele afirmou perceber o aumento na demanda pela eletrificação por parte dos consumidores, ainda concentrada nos chamados "early adopters", que buscam estar na vanguarda da inovação.
No evento, o presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Márcio Lima Leite, concordou com a previsão de um futuro elétrico, mas ponderou a coexistência da tecnologia com alternativas. "Não existe esta de carro híbrido movido a etanol ou veículo elétrico. Vamos ter uma somatória de opções que vão permitir uma transição suave, e o consumidor vai ditar regras", previu.
Para o presidente da Anfavea, o desafio no mercado brasileiro está em balancear o estímulo à adoção da eletrificação, de olho no processo de descarbonização, sem impactar a geração de empregos. "Seremos um grande player. Na transição, pedimos que a indústria tenha competitividade e que os tempos sejam respeitados", complementa.
Na visão dele, a indústria local não consegue competir atualmente com países que dominam tecnologias em larga escala, mas a lição de casa está sendo feita. "Não podemos perder esta oportunidade de sermos um país de ponta e contribuir com a descarbonização do planeta", disse Leite ao reforçar que o movimento deve ser feito com responsabilidade.
Os motivos para a transição gradual rumo à eletrificação
Até 2030, mais da metade dos veículos vendidos no mundo deverá ser elétrica. A previsão é de Masao Ukon, diretor-geral e sócio na BCG, que compartilhou dados de mercado no evento. Ele considera a transição da indústria no Brasil "inevitável" e explicou os motivos pelos quais ela será gradual, ao contrário dos Estados Unidos (onde a eletrificação já passou do ponto de inflexão e responde por mais de 10% do setor) ou na Noruega, que tem 75% dos veículos vendidos em 2021 circulando sem combustíveis fósseis.
Para Ukon, o Brasil é um caso à parte na corrida pela eletrificação, porque quase toda a frota de veículos vem de fábrica com o modelo flex, tendo o etanol como opção. Trata-se de um biocombustível que, por ser limpo e renovável, ajuda no processo de descarbonização. "Isso permite que o ecossistema local tenha mais tempo e esteja mais bem preparado para o final desta década", analisou.
De acordo com um estudo conduzido pelo BCG, o amadurecimento da eletrificação no setor automotivo brasileiro passa pela evolução de algumas etapas, a começar pela oferta de veículos, que precisa aumentar com o tempo. Outro desafio é a formação de uma cadeia local de suprimentos; e há, também, a necessidade de criação de uma infraestrutura robusta de estações de carregamento. Segundo Ukon, hoje são 3 mil espalhadas pelo país, e a expectativa é chegar a 100 mil até 2030 e a 200 mil em 2040, o que exigirá investimentos de dezenas de milhões de reais.
Combinadas, essas ações deverão levar ao aumento natural da demanda por veículos elétricos no Brasil, o que, segundo Ukon, já começou a acontecer. Nos últimos 12 meses, ele contou que as vendas subiram 100%, resultado duas vezes maior do que o observado em 2021.