
Marcelo Gripa
Marcelo Gripa é jornalista, especialista em comunicação corporativa e co-fundador da Futuros Possíveis, plataforma que gera discussões e inteligência sobre futuros.
De olho no futuro
A inteligência artificial lado a lado com os humanos: entenda a próxima fronteira da tecnologia
Maior evento de tecnologia e inovação do mundo, o Web Summit Rio reuniu mais de 30 mil pessoas durante os dias 27 e 30 de abril, no Rio de Janeiro. Com uma programação extensa que teve mais de 400 palestrantes, o evento trouxe à tona discussões que moldam o futuro da sociedade e dos negócios em esferas variadas - do impacto da inteligência artificial a transformações comportamentais, passando por tópicos como energia, ecossistema de startups e tendências de consumo.
Discussão mandatória em eventos que vislumbram o futuro, os rumos da IA ganharam destaque. O evento deixou claro que a tecnologia não se limita mais a reconhecer padrões e processar informações em alta velocidade. Uma nova era se anuncia, impulsionada pelo conceito de "IA Física" e pela ascensão de agentes inteligentes, que prometem transformar o mundo dos negócios e a interação entre humanos e máquinas.
A "IA Física" materializa a capacidade das máquinas de auxiliar os humanos em tarefas cotidianas repetitivas de forma mais eficiente. Robôs treinados com vastos conjuntos de dados poderão ser usados em diversos setores, desde a manufatura até a logística. Trata-se de uma nova etapa no desenvolvimento dessas máquinas que não apenas vão processar informações, mas atuar ativamente no mundo real, lado a lado com os humanos.
Defendido pela fabricante de chips Nvidia como o próximo mercado trilionário, o tema entrou no radar de investidores tentando capturar o valor desta nova fronteira da tecnologia. No último ano, startups ao redor do mundo levantaram rodadas milionárias de investimentos para buscar o seu “lugar ao Sol” na nova fase da tecnologia. Uma delas, a Physical Intelligence, recebeu aporte de US$ 400 milhões do fundador da Amazon e bilionário Jeff Bezos.
Enquanto este futuro não chega, especialistas alertam para a importância das boas práticas empresariais para que a inteligência artificial não fique apenas no discurso. “As companhias falham em assinar plataformas como ChatGPT e esperar todas as respostas para o seu negócio", afirmou Marcio Aguiar, diretor executivo da Nvidia. O ganho, segundo ele, estará no treinamento específico dos modelos com os dados proprietários de cada organização. Esse processo, crucial para a obtenção de insights relevantes e ações eficazes, demanda a expertise de profissionais qualificados para revisar e validar os dados, garantindo a qualidade e a confiabilidade das informações geradas.
Paralelamente ao avanço da IA no mundo físico, os agentes inteligentes também emergem como uma força transformadora. Alimentados com dados, estes sistemas são capazes de executar ações de forma autônoma ou semi autônoma e operam tanto em ambientes físicos quanto virtuais. Um agente de inteligência artificial pode, por exemplo, monitorar o entra e sai de uma fábrica para checar se os procedimentos de segurança estão sendo cumpridos. Ao identificar por meio de câmeras alguém sem os equipamentos de proteção indicados, o sistema dispara um alerta e faz a comunicação automaticamente com a equipe responsável.
Em palestra no evento, Luis Silva, CEO da CloudWalk, alertou para o cuidado no treinamento destes agentes que em breve se tornarão companheiros de trabalho e de tarefas. “Os agentes vão refletir o que sabemos. Se valorizarmos coisas ruins, eles vão aprender coisas ruins", disse. Para ele, dados enviesados são prejudiciais para a sociedade, o que exige uma ampla reflexão sobre a forma como a IA é programada e seu uso adequado, à medida que a tecnologia evoluir e se espalhar. O avanço não vai demorar e será radical, na visão dele. “Nós pensamos linearmente, mas nos próximos 5 a 10 anos vamos avançar o equivalente a 100 anos", prevê.
Para as organizações que ainda hesitam sobre como integrar a IA em suas operações, a recomendação dos especialistas é clara: investir na formação de equipes multidisciplinares, reunindo especialistas de diferentes departamentos para desenhar um plano estratégico consistente. Segundo Aguiar, além de utilizar plataformas genéricas, as empresas poderão extrair as melhores oportunidades a partir da criação de modelos de IA personalizados, a técnica que entende e gera linguagem humana.