
Marcelo Gripa
Marcelo Gripa é jornalista, especialista em comunicação corporativa e co-fundador da Futuros Possíveis, plataforma que gera discussões e inteligência sobre futuros.
Web Summit Rio
A Inteligência Artificial seria um risco ou uma oportunidade?
Assim que subiu ao palco do Web Summit Rio, um dos maiores eventos de inovação do mundo que acontece esta semana no Rio de Janeiro, o editor-chefe do site The Brazilian Report, Gustavo Ribeiro, perguntou à plateia se a Inteligência Artificial representa oportunidades ou motivos para medo. A maioria votou na primeira opção, apesar dos alertas de especialistas sobre os perigos da evolução desenfreada da IA.
Na opinião de Aline Oliveira, co-fundadora da empresa Traive, "a IA não deve ser temida, mas entendida". Ela explicou que é preciso reconhecer a tecnologia como um motor da sociedade desde a Revolução Industrial que teve início no século 18. Para Aline, mais do que discutir oportunidades ou riscos, o caminho é ensinar as pessoas como esses modelos se tornam, de fato, inteligentes (sendo treinados por dados para reconhecer padrões que se transformam em informações).
Sara Al-Hussaini, CEO da empresa alemã Ultimate, afirmou que o medo atribuído à Inteligência Artificial no que diz respeito à eliminação dos empregos é "superestimado". Atuante no setor de atendimento ao cliente, ela reconhece que os call centers serão dominados pela tecnologia, mas ressalta que isso não significa o desaparecimento imediato de profissões. "Muitos trabalhos estão mudando, mas a mudança é lenta e gradual. O desafio é treinar as nossas equipes e nós mesmos sobre como usar essas tecnologias", observou.
Além disso, Sarah responsabilizou parte da mídia pela proliferação de manchetes que, na visão dela, são "assustadoras" e geram medo nas pessoas ao destacar os efeitos negativos da IA, em vez de focar nos aspectos positivos da tecnologia.
Regulação
Um dos receios em relação à Inteligência Artificial é a replicação de vieses e julgamentos humanos que possam contaminar discussões da sociedade, por isso o tema da regulação tem sido tão ventilado no Web Summit Rio. Na visão de Sarah, é fundamental que as pessoas consigam diferenciar se determinado conteúdo é produto de IA ou não (um problema gerado pelo fenômeno das deep fakes, quando rostos são trocados e expressões simuladas para alterar a realidade de fotos ou vídeos).
Aline destaca que existem caminhos para tratar os efeitos negativos da IA sem prejudicar os benefícios. Tomando como exemplo a disseminação de fake news, ela explicou que é possível adotar medidas técnicas, como o uso de dados verificados, e também endereçar a incapacidade da tecnologia de oferecer contradições como opções a uma resposta. Nesses casos, a resposta com maior popularidade tende a ser escolhida como a melhor opção pelo algoritmo, o que pode incentivar comportamentos inadequados.
Sobre regulação, Aline recomenda que seja feita uma análise de acordo com os desafios de cada setor. Segundo ela, é fundamental que esse processo conte com a presença de pessoas técnicas capazes de apoiar o treinamento dos modelos de IA e o tratamento adequado de dados para evitar a reprodução de vieses humanos. Isso ajudaria a contornar um dos problemas do ChatGPT, que é a possibilidade de oferecer respostas erradas, mas convincentes.
*Marcelo Gripa é especialista em comunicação corporativa e co-fundador do Futuros Possíveis.