Thiago Muniz

Thiago Muniz

Thiago Muniz é CEO da Receita Previsível Consultoria, professor na FGV em todo o Brasil de marketing e vendas e mentor de negócios.

Os dados ajudam — muito. Mas não antecipam tudo.

O que os números não revelam: Por que CEOs e diretores ainda utilizam a intuição para tomar decisões?

28/04/2025 12:47

Imagine um piloto experiente que segue o GPS sem questionar. Ele ignora a própria experiência, confia cegamente na tecnologia e, de repente, se vê em um trânsito caótico. Parece absurdo, né? Mas é exatamente isso que acontece com empresas que tomam decisões 100% baseadas em dados sem considerar a intuição e a experiência.
Nos últimos anos, a obsessão por números criou um problema sério: quanto mais métricas e KPIs surgem, mais as empresas terceirizam o pensamento estratégico.
E aqui está o ponto: os dados ajudam — muito. Mas não antecipam tudo.
Eles são como um retrovisor com estatísticas. Mostram o que já aconteceu, ajudam a calcular probabilidades, mas não têm a sensibilidade para perceber uma curva inesperada na estrada.
E em um mundo imprevisível como o que vivemos hoje, confiar só nisso pode travar a criatividade, matar a ousadia e criar uma empresa que só sabe operar no modo “seguro”.
A análise preditiva avança, sim. Mas o verdadeiro desafio não é técnico. É filosófico: quando o dado vira viés? Quando, em vez de expandir a visão, começa a limitar o olhar?
O paradoxo da automação
Os dados prometeram mais precisão e menos erros. Mas a realidade é outra. A Netflix despejou milhões em "House of Cards" porque os números indicavam que daria certo. Mas foi a intuição que fez "Stranger Things" se tornar um fenômeno, mesmo não seguindo  padrões estatísticos evidentes.
O mesmo aconteceu com o Airbnb. Os dados mostravam que apartamentos em centros urbanos eram os mais procurados. Mas a intuição levou a empresa a testar algo novo: experiências autênticas, como dormir em uma casa na árvore ou em um iglu. E isso explodiu.
Nenhuma planilha teria previsto esse comportamento.
Se os dados fossem infalíveis, todo mundo teria previsto o Boom da IA: ChatGPT, Claude, DeepSeek. Mas ninguém previu.
A real? Quem só segue dados, sem usar a própria cabeça, não enxerga as oportunidades que apenas a mente criativa humana consegue prever.
Será que a IA teria pensado no McDonald's? Os dados diziam que restaurantes tradicionais funcionavam bem. Mas alguém percebeu que velocidade, padronização e marketing agressivo poderiam criar um império de fast food.
Ou no Starbucks? Os números apontavam que café era só uma bebida, mas alguém viu que podia ser uma experiência.
O iPhone? Se dependesse dos dados, a Apple teria feito um celular com teclado físico como os BlackBerrys da época. Mas foi a intuição de Steve Jobs que enxergou que uma tela inteira sensível ao toque mudaria tudo.
A Netflix? Os números diziam que as pessoas alugavam DVDs, mas alguém percebeu que o futuro estava no streaming.
E o Uber? Os dados indicavam que táxis eram o único jeito de se locomover nas cidades, mas alguém viu que motoristas comuns poderiam revolucionar o transporte.
Bebida energética com gosto esquisito, em lata pequena e cara? Nenhum dado indicaria que isso faria sucesso. Mas alguém viu uma tendência no comportamento dos consumidores e decidiu apostar na ideia da Red Bull.
Se dependêssemos só de dados, o mundo seria previsível e sem inovação. A IA analisa o que já existe, mas só a criatividade e intuição humana enxerga o que ninguém ainda viu.
Dados não são oráculos
Os dados dão segurança. Mas segurança demais gera cegueira. Se você só olha para o que já funcionou, ignora o que pode funcionar no futuro. E é aqui que muitas empresas erram feio.
Você está usando os dados para decisões melhores ou só para confirmar o que já queria? Muita empresa acha que sabe para onde ir, mas essa não é a pergunta certa. O foco não é “onde crescer?”, e sim “como testar antes de colocar grana nisso?”
E tem mais: produtividade e assertividade podem aumentar em até 30% quando integramos dados com visão humana. Só que isso exige três coisas:
  1. Analisar padrões, mas sem ficar refém deles. Dados preditivos ajudam, mas precisam ser confrontados com experiência real.
  2. Usar intuição estratégica. Os melhores insights vêm de percepções sutis, humanas, que os números ainda não captaram.
  3. Testar antes de escalar. Pequenos experimentos evitam investimentos errados e garantem que você está no caminho certo.
O jogo é outro
Empresas inteligentes não seguem relatórios cegamente, mas também não decidem no chute. Elas encontram um equilíbrio.
  1. Não viram escravas dos padrões. Tendências passadas ajudam, mas inovação nasce do inesperado. Se você só olha para o retrovisor, como vai enxergar uma curva que nunca foi feita?
  2. Fazem perguntas que os dados não respondem. A intuição é o que diferencia os grandes estrategistas dos bons analistas.
  3. Testam antes de escalar. Expandir sem um plano validado é como navegar sem bússola. Pode até dar certo, mas o custo da viagem será enorme.
O ponto não é ignorar os dados. É saber quando desafiar o que eles dizem.
Em um mundo onde 95% das decisões tomadas por dados serão automatizadas até 2025, a verdadeira arte da estratégia está em saber quando confiar nos números e quando ouvir a intuição.
E mais: segundo a Gartner, empresas que tratam a IA como "solução mágica" podem acabar reféns de modelos mal calibrados. Diretores de inteligência artificial estão sendo contratados às pressas, e se não forem orientados pela percepção dos CEOs e outros diretores, isso pode resultar em decisões ruins em um futuro próximo.
O futuro pertence a quem sabe equilibrar dados com experiência e intuição
Em vez de seguir cegamente um dashboard repleto de dados, que tal usar um mapa que leve em conta sua intuição, percepção de mundo e experiência de vida?
As empresas que dominam a inteligência de decisões combinam tecnologia com o toque sutil humano e estão à frente do mercado que está preocupado apenas com o próximo DeepSeek.
Elas não apenas extraem insights com ajuda da tecnologia, mas os transformam em estratégias que podem ser aplicadas e geram faturamento real.
E você? Vai continuar seguindo o GPS para chegar em lugares já esperados ou vai começar a dirigir com o apoio do GPS para chegar em lugares surpreendentes?