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As abordagens de inovação aberta seguem o princípio de desequilíbrio nos resultados, algo trazido pelo conceito de power law. Crédito: nndanko/Bigstock.

Luciano Döll

Luciano Döll

Luciano Döll é CEO e cofundador da inbix, professor de empreendedorismo e inovação, TEDx Speaker.

Estratégias e resultados

Inovação aberta e power law: você já entrou no baile?

26/08/2024 12:47
Antes de tentar explicar a você a relação entre inovação aberta e power law, vamos começar pelo esclarecimento destes dois conceitos. O primeiro é mais conhecido e se refere à abordagem proposta pelo professor Henry Chesbrough no início dos anos 2000. Empresas que se restringirem à inovação fechada, considerando apenas os recursos internos para inovar, terão dificuldades em se manter competitivas. Em outras palavras, além do já popular P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), é necessário se “expor” à inovação aberta, que extrapola as fronteiras do seu negócio. Lembre desta palavra: “expor”. Voltaremos a falar dela.
E a power law? Bem, este é um conceito familiar a quem trabalha com fundos de investimento em startups. É um conceito estatístico que descreve a distribuição desigual de resultados em certos fenômenos. No que diz respeito a startups, refere-se à observação de que um pequeno número de negócios emergentes gera os retornos mais significativos de um portfólio, enquanto a maioria das startups tem resultado pífio.
Ilustrando com linguagem matemática, um bom exemplo seria dizer que: se você investir em 10 startups, somente uma vai dar certo. Porém, vai dar muuuuuito certo. A power law se assemelha, em algum grau, com o famoso Princípio de Pareto, cuja premissa é de que 20% das causas são responsáveis por 80% dos resultados.
Pois bem, esclarecidos os dois conceitos, vamos para a inferência deste texto. Como especialista em inovação aberta, sinto sempre um certo nível de dificuldade em convencer uma corporação a adotar práticas de inovação aberta. É muito mais digerível pensar em P&D, que implica, sobretudo, baixa “exposição”.
Além disso, tratar daquilo que supostamente a gente já conhece é sempre mais confortável do que explorar o novo. É um pouco da diferença entre aqueles dois verbos: “exploit” e “explore”. “Exploit” significa aproveitar, usar a fundo, um recurso próprio, já conhecido. E “explore” mira no desbravamento de novos horizontes, num sentido mais horizontal, de testar novos caminhos.
Ouço muito dos executivos uma certa queixa de que “explorar” toma muito tempo e é difícil medir resultados concretos. Já ouvi depoimentos de gestores que dizem se sentir improdutivos quando “saem da caixa”.
É comum, também, a preocupação de estar deixando de focar no negócio, no core business da companhia. E, confesso, este incômodo é justo. E é exatamente neste ponto que entra a power law. É preciso entender que as abordagens de inovação aberta seguem este princípio de desequilíbrio nos resultados. Em outras palavras, você vai fazer muita coisa “diferente” até encontrar a cereja do bolo, aquela que vai “pagar a conta”.
Pode-se dizer que vale aqui o princípio da "serendipidade" (referente a "serendipity", em inglês), que fala da descoberta de coisas boas por acaso. Só discordo que seja por total acaso. Inovação aberta exige um plano e, principalmente, a capacidade de execução e acompanhamento. É fundamental a percepção de que os frutos serão colhidos com visão de longo prazo, constância e, principalmente, acompanhamento estruturado.
Inovação aberta é como um baile. Pode ser que, no começo, você se sinta um peixe fora d’agua. Em vários momentos, você pode se perguntar: “O que é que eu estou fazendo aqui?”. Pode ser também que o estilo de música que você goste demore pra tocar. Mais ainda, a pessoa com quem você gostaria de dançar não está lá. Mas, de repente, no maior estilo “serendipista”, o vento sopra a seu favor e aquele se transforma no baile da sua vida. Portanto, antes de querer que a sua empresa faça algo incrível e inovador, pergunte-se: “Estou exposto a isto? Já entrei no baile?”