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Indústria 4.0: enfim uma verdadeira Revolução Industrial?

10/12/2025 09:58
Por mais de uma década, a expressão “Indústria 4.0” me pareceu representar mais uma evolução da manufatura dos anos 90 e 2000 do que uma ruptura real. Sempre acreditei que faltavam elementos verdadeiramente disruptivos, ou tecnologias capazes de transformar estruturalmente a lógica da produção e do trabalho humano. Hoje, porém, começo a reconsiderar essa visão. Após anos de amadurecimento das tecnologias associadas ao conceito, talvez estejamos finalmente diante da mudança profunda que muitos anteciparam.

De onde veio o conceito

O termo surgiu na Feira de Hannover de 2011, em um esforço do governo alemão para responder a um desafio estratégico: como manter a competitividade industrial diante da digitalização acelerada e da pressão asiática? O documento final publicado em 2013 consolidou a narrativa das quatro Revoluções Industriais — da mecanização à inteligência artificial — e definiu os princípios da nova era: interoperabilidade, transparência da informação, assistência técnica e decisões descentralizadas. A partir de 2017, com Klaus Schwab (Fórum Econômico Mundial) e sua visão da fusão entre mundos físico, digital e biológico, o conceito ganhou projeção global. IoT, IA, robótica avançada, impressão 3D e biotecnologia foram apontadas como pilares de uma nova Revolução Industrial.

Porque não parecia uma revolução

Entre 2013 e 2020, a maior parte das tecnologias associadas à Indústria 4.0 evoluiu de maneira incremental. Linhas automatizadas, robôs industriais e sistemas de controle já existiam nas décadas anteriores. O avanço da digitalização trouxe velocidade e escala, mas não alterou de imediato a lógica fundamental das fábricas. Impressão 3D avançou menos do que se previa. Machine learning demorou a se consolidar. Robótica evoluiu, mas de forma gradual. Além disso, qualquer transformação industrial depende de um fator determinante: viabilidade econômica. Custo de equipamentos, maturidade das soluções e risco operacional sempre limitaram a adoção acelerada.

O ponto de virada recente

Algo mudou nos últimos dois ou três anos — e essa mudança pode, de fato, caracterizar uma nova Revolução Industrial. Duas tecnologias avançaram de forma explosiva e interdependente: robótica e inteligência artificial.
A robótica vive um salto sem precedentes. Robôs, cobots, manipuladores, AGVs e AMRs tornaram-se mais baratos, flexíveis e simples de programar. A entrada massiva de fabricantes chineses acelera inovação e derruba preços. Dark factories já se multiplicam na Ásia, e armazéns totalmente automatizados, como os da Amazon, se tornaram referência global. Como sintetiza uma frase que li recentemente: “Robôs seguem a Lei de Moore: a cada ano duplicam a capacidade de nos surpreender — e também de nos assustar.”
A inteligência artificial, por sua vez, está revolucionando a robótica. Mais do que análises e planejamento, o impacto imediato está na programação automática de robôs, no uso de visão computacional e em sistemas autônomos internos. A combinação IA + Robótica cria, finalmente, a possibilidade de um salto concreto de produtividade.
Essa convergência já se manifesta em dark factories, armazéns totalmente robotizados, humanoides industriais chegando ao mercado e gigantes asiáticas operando linhas quase totalmente autônomas.

A transformação do trabalho humano

Toda Revolução Industrial redefine o trabalho; e esta não será diferente. Das tecnologias listadas por Schwab, três parecem suficientes para provocar uma ruptura estrutural:
  • IoT e sensoriamento conectado
  • Inteligência artificial
  • Robótica avançada
Com custos em queda e oferta crescente, o impacto tende a ser profundo. Surge uma nova lógica: não mais justificar a automação, e sim justificar a permanência de processos baseados no trabalho humano onde ela não fizer sentido.
Este, a meu ver, é o verdadeiro ponto de inflexão: uma mudança que redistribui funções, reposiciona ou elimina profissões e redefine o papel humano na manufatura e na logística.

Enfim 4.0?

Após anos de ceticismo, acredito que a verdadeira Indústria 4.0 está, enfim, emergindo. Não pela soma ambiciosa de todas as tecnologias previstas em 2011, mas pela aceleração decisiva de três delas: Robótica, IoT e Inteligência Artificial. Essas tecnologias atingiram escala, maturidade e custos capazes de alterar a estrutura econômica das operações industriais — e de transformar profundamente o trabalho humano. Se estamos diante de uma nova Revolução Industrial, caberá à história confirmar. Mas a evidência atual aponta para uma mudança irreversível. E muito mais próxima do que imaginávamos.
*Nilo Maia – Executivo da área de Operações com trajetórias pela Tritec, Grupo Portobello, GE etc. Membro do Connect Executive Hub | Consultor

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