Um cão com traços genéticos de dobermann pode ter uma predisposição cardíaca que exige atenção especial na dieta. Uma cadela adotada, aparentemente vira-lata, pode carregar genes de border collie e reagir mal a determinados medicamentos. É nesse cruzamento entre ciência e cuidado que atua a Petgenoma, startup brasileira que vem transformando a maneira como tutores, veterinários e criadores compreendem e cuidam de seus animais.
Fundada com base em pesquisa genética de ponta, a empresa vem crescendo num ritmo sólido e promissor. A meta é atingir R$ 1 milhão em faturamento mensal até dezembro de 2025, com projeção de fechar em 2026 com R$ 18 milhões no acumulado anual. “Vai ser um grande presente de Natal para toda a equipe depois de anos de muito esforço e construção”, celebra Eduardo Lemos, cofundador da Petgenoma. “O mais bonito é que é um modelo de negócio onde todos ganham, sejam tutores, veterinários, criadores e, claro, os próprios pets”, enfatiza.
Com sede no Cietec, centro de inovação da Universidade de São Paulo (USP), a Petgenoma se diferencia por ser a única empresa na América Latina com laboratório próprio, pipeline exclusivo de análise de dados genéticos e base genética proprietária. Isso permite mais precisão nos resultados, além de gerar conhecimento local a partir da realidade genética da pesquisa brasileira.
Outro diferencial relevante é a parceria com a Illumina, multinacional americana líder mundial em genotipagem e sequenciamento, fornecedora de instituições como Einstein, Fleury, Rede D’Or e Hospital Moinhos de Vento. “A Petgenoma é um exemplo de como a tecnologia de microarray, para genotipagem de DNA em alta escala, chip de DNA pode ser aplicada de maneira inteligente, impactando diretamente o bem-estar animal e promovendo um novo patamar de cuidado veterinário”, afirma Rodrigo Benevides, Country Lead da Illumina Brasil.
O exame genético inicia de forma simples: um swab bucal coleta a amostra do animal e, a partir dela, é possível acessar uma série de informações valiosas. Os dados são divididos em dois grandes blocos: perfil genético lúdico e mapeamento de saúde.
Na parte lúdica, o tutor descobre a composição racial do animal, entendendo sua ancestralidade e características de comportamento relacionadas às raças que o compõem. Já na parte da saúde, o teste investiga mais de 300 predisposições genéticas - entre elas, doenças cardíacas, renais, endócrinas, neurológicas, oftálmicas e gastrointestinais. Também é possível conhecer o grau de consanguinidade, o perfil farmacogenético (como o animal metaboliza medicamentos) e acessar painéis específicos sobre obesidade e oncologia.
Apesar de evitar definir um foco único, a empresa estrutura sua atuação em três frentes complementares. Veterinários encontram nos testes uma ferramenta poderosa para aprimorar diagnósticos e os cuidados preventivos, personalizar tratamentos e aumentar a qualidade de vida dos animais. Já os tutores realizam o exame tanto por curiosidade sobre a origem racial do pet quanto por cuidado, buscando prevenir doenças e garantir mais longevidade e bem-estar. Criadores responsáveis se beneficiam da tecnologia para assegurar ninhadas mais saudáveis, e agregar valor ao seu trabalho ao comprovar cientificamente a genética dos pais dos filhotes.
A startup também carrega uma forte missão científica e ética. Ao fomentar o uso de testes genéticos na criação e no cuidado animal, ela atua diretamente na redução de sofrimento por doenças genéticas evitáveis. “Nosso compromisso é com a ciência feita no Brasil. Queremos transformar o país num polo de inovação para o mercado pet”, disse Eduardo Lemos.
Além disso, a empresa trabalha com princípios de bem-estar animal e inclusão científica, promovendo uma criação mais consciente e personalizada. “Muito em breve, vamos conseguir investigar com profundidade doenças como displasia coxofemoral, alopecia e até distúrbios cognitivos como ansiedade e agressividade. É um caminho sem volta”.
Já neste ano, a Petgenoma iniciou seu plano de internacionalização com um projeto-piloto no Chile. A meta é expandir, a partir de 2026, para outros mercados da região, como México, Colômbia, Peru, Argentina e Uruguai. “Temos convicção de que nosso modelo, com laboratório próprio e ciência local, pode transformar a realidade da medicina veterinária em toda a América Latina”, concluiu Eduardo.
Fundada por uma equipe de excelência, com sólida formação acadêmica e experiência em suas áreas, a empresa reúne profissionais como Fabiana de Andrade (geneticista-chefe, com doutorado e pós-doutorado em genética canina pela UFRGS), Douglas Maia (CTO e engenheiro de software formado pela USP), Paula Rohr (doutora em genética pela UFRGS) e Darilene Tyska (zootecnista, doutora em melhoramento genético animal também pela UFRGS). Com esse time multidisciplinar, a startup se compromete com o rigor científico, a inovação e a ética, incorporando ciência em cada etapa de sua atuação.