Camila Farani
Performance
Empreendedores não são super-heróis. A importância do equilíbrio emocional nos negócios
Aprendi com muito autoconhecimento saber a hora de dar uma pausa nos negócios e aliviar a mente para melhorar a produtividade. Entretanto, o movimento entre os profissionais no mercado tem sido exatamente o contrário. Vemos nos noticiários cada vez mais o aumento das taxas de funcionários e executivos com depressão e fadigas manifestadas de diversas formas, a chamada Síndrome de Burnout.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou este ano que a síndrome será incluída na Classificação Internacional de Doenças. Só no Brasil, 72% das pessoas sofrem com estresse no trabalho, de acordo com a Associação Internacional de Manejo do Estresse (ISMA). Dentre elas, 32% têm Burnout. Os sintomas são de esgotamento físico e mental, insatisfação no trabalho e ansiedade ao extremo.
O livro “Felicidade S.A” mostra um levantamento internacional, realizado em 2011, que posiciona os executivos brasileiros entre os mais insatisfeitos do mundo, por não saberem conciliar vida social e trabalho. Na média global, 27% dos homens e 29% das mulheres se dizem satisfeitos com esse equilíbrio. No Brasil, esses números caem para 12% e 13%, respectivamente.
Um levantamento realizado pela Optum, empresa de serviços de saúde, e publicado na revista "Você S.A", mostrou que profissionais brasileiros vêm buscando mais ajuda das áreas de RH para questões emocionais. Dos 32 mil atendimentos em 2018, 41% estavam relacionados a estresse e depressão.
Um problema que também é uma oportunidade
Esse cenário também representa uma oportunidade para novos negócios. A startup brasileira Hisnëk lançou este ano um robô que mapeia o comportamento das equipes nas empresas. O robô Ivi (Inteligência Virtual Interativa) usa inteligência artificial para conversar com as pessoas, analisar perfis e fazer diagnósticos.
Outras plataformas também viram multiplicar seus números. Fundada em 2016, a startup GoGood, um app gamificado que sugere atividades físicas para colaboradores, viu seu banco de clientes quadruplicar nos últimos anos. Outra concorrente, a FalaFreud, cresceu 300% nos primeiros cinco meses deste ano, comparado ao mesmo período em 2018.
Para tentar entender esse fenômeno, uma pesquisa da Aliança para a Saúde Populacional (Asap) e da Folha de São Paulo apontou a expansão da economia e a adoção de novas tecnologias como fatores que desencadeiam a questão. Isso se agrava ainda mais quando falamos de startups, do mercado de tecnologia e inovação.
Trabalhamos com tecnologia, mas não podemos parecer robôs. Empreender é extremamente desafiador e desgastante emocionalmente. Estamos o tempo todo submetidos à pressão e às rápidas mudanças do mercado. O empreendedor é um ser obcecado, apaixonado e ansioso por natureza, o que é muito bom, mas também pode prejudicar a produtividade da empresa se não for dosado.
Vejo muitos relatos de empreendedores se vangloriando em dizer: “tive que virar várias noites trabalhando no meu projeto”. Empreender com certeza tira muitas horas de sono. O problema é quando isso vira rotina. Não existe glamour em perder a saúde. E o empreendedor precisa estar em equilíbrio para performar. Isso exige questões físicas, mentais, emocionais e até espirituais. É o que efetivamente constrói histórias de crescimento exponencial.
O conceito difundido no livro “O 8º hábito: da eficácia à grandeza” ressalta a importância do desenvolvimento de quatro inteligências, ou seja, da inteligência holística: física, emocional, mental e espiritual. Se colocado em prática, isso se torna muito poderoso. Por isso, muitos executivos têm aderindo à prática de esportes, meditação e yoga, ferramentas que ajudam a nos conhecermos melhor, a conhecer nosso corpo e a refletirmos sobre nossas forças e fraquezas.
Uma boa tomada de decisão é construída por questões racionais, muito estudo e conhecimento profundo sobre o mercado, levantamento de riscos e muita sensibilidade do empreendedor. E esse feeling é justamente o equilíbrio entre razão e emoção.
Aliar saúde emocional e física com trabalho não é uma utopia. Não adianta culparmos as empresas, os chefes e o mercado predatório. Trata-se de uma busca individual e possível. Isso envolve melhor administração do tempo, para dedicar momentos na semana para atividades que nos tragam prazer, saber categorizar e priorizar compromissos de trabalho e estabelecer limites para não atrapalhar a performance. Lembre-se: a mente humana é mais virtuosa que qualquer tecnologia e as pessoas sempre serão o maior capital das empresas.