Anderson Godz
Desde 2016 Anderson Godz é investidor, conselheiro de administração e advisor para nova economia, projetos e governança corporativa. Autor de livro, criou uma comunidade de governança com mais de 12 mil pessoas. É conselheiro da Gazeta do Povo.
Ciclos
Afinal, o que é um advisor?
“advisor” invadiu o Linkedin. Basta uma busca na plataforma para observar
milhares de profissionais que adotam essa credencial. Mas será que todos
entendem o que significa ser um advisor? Ou mais, será que alguém já definiu o
que são, comem, vestem e onde vivem?
tempos: não somente os ciclos empresariais encurtaram-se como os ciclos
profissionais também. O cofundador do LinkedIn, Reid Hoffman, acredita que
atualmente as carreiras são “missões de serviço”: tanto empresas quanto
profissionais entendem que elas permanecerão apenas alguns anos. Os dias de uma
carreira estável e contínua ficaram no passado.
“ciclos”, aliás, poderia estar no título desta coluna. Estando no meu terceiro
ciclo profissional, hoje sou, entre outras coisas, um advisor. Começa aqui uma
característica desse papel: advisors não são só advisors; eles são alguma outra
coisa e, aparentemente, nas horas vagas, por hobbie, necessidade,
desenvolvimento pessoal (ou ego), apresentam-se também como advisors.
por trás de pessoas com mais ciclos profissionais, variadas competências e que
se intitulam advisor? Talvez seja melhor começar dizendo o que advisors não
são: consultores, pela perspectiva clássica dessa atuação; conselheiros de
administração formais, daqueles que tomam cafezinhos em grandes salas de
companhias listadas na bolsa; experts alocados em projetos complexos de grandes
clientes de companhias Big Four; ou ainda gente boa e experiente que arruma mentorias
ou investe pontualmente em startups - ambas ações válidas para se atualizar -,
mas que imediatamente cravam uma fábula no Linkedin.
profissionais “raiz”. Já empreenderam, faliram, investiram, ganharam e
perderam. A maioria são empreendedores, investidores ou experientes em alta
gestão. Eles vivem um Shark Tank na vida real: investem e apoiam ideias
interessantes, inovadoras, que despertam sua atenção e propósito. Isso os
lapidou a serem absolutamente diretos e, às vezes, até mal educados. Habitam um
mundo sem tempo a perder com reuniões periódicas, templates e agendas
imutáveis. Fazem parte de um universo hiperconectado, sinônimo de quebra de
formalidades mesmo na alta gestão.
livro, “Advisors: agora são outros conselhos” busco lançar luz sobre a
importância do tema tanto para empresas como para startups. Grande parte dos
advisors pode ser dividida em duas categorias: mentores práticos que criaram
suas próprias empresas do zero ou profissionais do setor com experiência e contatos
significativos no seu nicho. Idealmente, startups precisam de orientações dos
dois tipos. Já empresas estabelecidas precisam mais do primeiro.
desse tipo de papel é que ele deve ser muito personalizado: ser capaz de dar
bons conselhos requer conhecimento da empresa, bem como compactuar em certa
medida com seus propósitos e futuro. Tem que rolar um clima. É, também, crucial
capturar as nuances do mercado e a interação da companhia e de seus
concorrentes.
noção de que advisors são donos de toda sabedoria é equivocada e não
corresponde à realidade. Os advisors não têm as respostas para todas as
perguntas e desafios. Não são gurus disruptivos e messiânicos. De início, eles
podem saber o básico ou ainda saber quem indicar, mas o mais importante é
pensar a relação como uma parceria, um time trabalhando junto. Na verdade, se
um advisor disser que tem uma resposta óbvia para uma pergunta difícil, é
melhor encarar com algum ceticismo. Cada empresa é uma empresa. Bons advisors
tratam desiguais como desiguais.
advisors certos podem melhorar substancialmente uma empresa, desde questões
operacionais, passando por melhores métricas e até mesmo funding. O crescimento
inicial do Spotify, por exemplo, foi impulsionado por seu relacionamento com o
Facebook: o Spotify não apenas aproveitou a rede social para aumentar o número
de pessoas que usam o aplicativo, mas também Sean Parker, cofundador do
Facebook, atuou como advisor da plataforma de streaming musical entre 2009 e
2017.
podem fazer sua empresa ou startup alcançar muitos dos seus objetivos mais
rapidamente – este é o benefício de aproveitar outros profissionais experientes
e “hands on”; eles atendem às dores dos negócios e se esforçam para oferecer
ideias não convencionais, mas extremamente diretas e eficazes. Doa a quem doer.
Ocorra quando ocorrer.