Governança, escala e diversificação
Como tornar sua empresa mais "sexy" para os investidores
O cenário empresarial tem se mostrado dinâmico e desafiador em 2025, por conta de diversas transformações que impactam diretamente a forma como as empresas operam e são percebidas pelo mercado. Em um contexto de incerteza, marcado pela volatilidade dos mercados norte-americano, chinês e, por consequência, o brasileiro, a preparação de uma empresa para uma possível venda se torna um fator estratégico para o sucesso e longevidade dos negócios.
O ano de 2025 apresentou um início intenso para o setor de fusões e aquisições (M&A). A empresa de auditoria e consultoria PwC Brasil identificou 99 negócios apenas em janeiro, um aumento de 16% em comparação ao mesmo mês de 2024. Na grande maioria deles (80%), empresas brasileiras adquiriram outras companhias. Para este ano, a expectativa da PwC é que o número de negociações ultrapasse os resultados de 2023, com um crescimento estimado entre 10% e 20%.
Para Ricardo Urso, especialista em gestão empresarial e sócio-fundador da Urso Consultoria Empresarial e da Urso Capital, este é o momento em que grandes players do mercado se movimentam para incorporar novos negócios e para adquirir uma estrutura de sucesso já existente. “Para quem deseja isso, a primeira coisa é estar com a casa em dia”, diz.
E, para deixar a “casa em ordem”, Ricardo lista as principais características que atraem compradores. Confira.
Análise detalhada do DRE: o alicerce para uma venda bem-sucedida
Para ele, o processo de venda de uma empresa exige uma análise minuciosa de diversos aspectos, desde a saúde financeira até o posicionamento estratégico no mercado. "A gente tem que começar do básico", afirma o especialista, destacando a importância de uma análise detalhada do Demonstrativo de Resultados do Exercício (DRE). “Este documento contábil é o ponto de partida para entender a performance financeira da empresa e identificar seus pontos fortes e fracos”, revela.
Diversificação e estabilidade financeira reduzem riscos e aumentam o atrativo
O consultor ressalta a importância da diversificação da carteira de clientes, alertando para a concentração excessiva em um único cliente ou em órgãos públicos. "Empresas que possuem mais de 35% do faturamento em órgãos públicos tendem a ter mais dificuldade na parte de fusões e aquisições", explica.
A dependência excessiva de um único cliente ou setor pode representar um risco para o comprador, que busca negócios com fluxo de receita estável e previsível. Da mesma forma, a diversificação de produtos é fundamental para evitar a dependência excessiva de um único item, que pode se tornar obsoleto ou perder mercado.
Conformidade fiscal e governança: transparência e segurança para o comprador
A regularidade fiscal e a transparência na gestão são fatores determinantes para atrair compradores. "Tem que estar com os impostos em dia e quais não estiverem tem que ter a segurança jurídica, ou será retido o valor em uma conta corrente bloqueada até que se julgue a ação", resume Ricardo, alertando para o impacto negativo de passivos tributários descompensados.
A existência de dívidas tributárias ou pendências fiscais pode gerar incertezas e desconfiança por parte do comprador, que busca um negócio com histórico limpo e previsível. Além disso, a governança eficaz do resultado da empresa se comprova nos processos de due diligence, nos quais a precisão e a transparência dos números são mais que necessárias.
“A capacidade de comprovar a lucratividade e o potencial de crescimento da empresa é fundamental para o sucesso da venda. Precisamos estar com a evidência pronta para apresentar ao Auditor, caso ele questione, com velocidade e transparência mostramos para o investidor que a empresa é sólida”, enfatiza Ricardo.
Estratégias de saída diversificadas: ampliando as oportunidades de negociação
O consultor destaca a importância de explorar diferentes avenidas de saída, como a venda para concorrentes, fundos de investimento ou startups em busca de verticalização. "A empresa nunca tem uma única avenida ou um único caminho de saída", pondera. “A flexibilidade na estratégia de venda permite que a empresa explore diferentes perfis de compradores e maximize o valor do negócio. Cada comprador, de diferente segmento analisando a mesma empresa, tendem a avaliar de formas diferentes buscando a sinergia que essa aquisição reflete na sua operação. Logo podemos ter múltiplos de mercados diferentes dependendo de qual segmento é o comprador”.
Escala e potencial de crescimento: o tamanho e a visão do negócio
Empresas com faturamento acima de R$ 15 milhões começam a se tornar atrativas para compradores, devido à escala e ao potencial de crescimento especialmente se oferecerem algum diferencial. Já empresas com faturamento superior a R$ 50 milhões, Ricardo diz que a maioria delas são vendáveis e os sócios nem sabem do valor. No entanto, Ricardo ressalta que o processo de venda é complexo e exige um ciclo de um ano para se concretizar, independentemente do tamanho da empresa. A complexidade da negociação, a análise de dados e a due diligence exigem tempo e expertise.
“Em um cenário de constante transformação como o que estamos testemunhando no início de 2025, a preparação para uma possível venda exige uma visão estratégica e uma gestão eficiente”, aconselha Ricardo. “A busca por diversificação, transparência e governança são fundamentais para fundamentar uma base sólida”.