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"Somos um investidor que, além de financeiro, é um investidor estratégico, permitindo conectar a startup ao ambiente de nossas organizações", afirma Maurício Zanforlin, CEO do Grupo Marista. Crédito: divulgação.

Foco em edtechs e healthtechs

Rosey Ventures: saiba que startups busca o novo CVC do Marista

Bruno Raphael Müller
Bruno Raphael Müller
17/09/2025 12:00
Instituição com mais de 200 anos de história e uma missão profundamente enraizada na educação e solidariedade, o Grupo Marista decidiu responder aos desafios e oportunidades da era digital de forma estratégica. Com a tecnologia redefinindo os setores de saúde e educação, a busca por inovação tornou-se uma necessidade intrínseca para manter a relevância e a excelência. Inspirado pela visão do fundador, São Marcelino Champagnat, que fez da educação sua missão em Rosey, na França, o grupo criou o fundo Rosey Ventures.
Braço de Corporate Venture Capital (CVC) com o objetivo de formalizar e expandir a atuação do Grupo Marista na inovação, o Rosey será focado em Edtechs e Healthtechs. O fundo se posiciona como um catalisador de transformação, buscando não apenas startups com potencial de retorno financeiro, mas sim soluções que se alinhem à missão da instituição.
Para compreender essa movimentação, o CEO do Grupo Marista, Mauricio Zanforlin, detalhou o funcionamento da iniciativa e seus objetivos. "A vantagem de investirmos em uma startup é que estabelecemos uma relação mais visceral. Com isso, conseguimos direcionar as soluções da startup para que estejam alinhadas às nossas dores, a fim de alcançarmos uma proposta de valor superior para os nossos clientes", explica.

Investimento estratégico

Questionado sobre a decisão de criar um fundo de Corporate Venture Capital (CVC) em vez de apenas buscar parcerias comerciais, Zanforlin reforça que a escolha é pautada por um papel de investidor estratégico. "Entendemos a parceria como uma relação de cliente e fornecedor. A vantagem, ao realizarmos um investimento em uma startup, é que estabelecemos uma relação mais visceral", reitera. Ele complementa que um CVC permite uma estrutura de governança organizada para o relacionamento com as startups, beneficiando ambos os lados.
Essa conexão profunda não só potencializa a startup, mas também beneficia as operações do Grupo Marista. Zanforlin destaca que o CVC deve sempre ter um papel estratégico, indo além do retorno financeiro. "Somos um investidor que, além de financeiro, é um investidor estratégico, permitindo conectar a startup ao ambiente de nossas organizações. Isso potencializa a startup e, ao mesmo tempo, beneficia nossas próprias áreas de atuação." Essa abordagem também visa um retorno financeiro, que é reinvestido na própria instituição, fortalecendo sua missão.

Alinhamento com a missão e retorno

A missão da Rosey Ventures está intrinsecamente ligada à visão do Grupo Marista. O foco é em Edtechs e Healthtechs, as áreas de atuação da instituição. "À medida que investimos em startups, conseguimos fomentar nossa inovação e, com isso, ser mais competitivos", afirma o CEO.
Zanforlin também destaca que, como um fundo de investimento, há uma clara expectativa de retorno. No entanto, o lucro gerado pelo fundo tem um destino particular. "Esse retorno em nossa instituição é reinvestido nela mesma. Por sermos uma entidade filantrópica, não distribuímos dividendos, e todo o nosso resultado é reinvestido na própria instituição." Essa estrutura assegura que o capital gerado pela inovação retorne para a sociedade através das ações do grupo.

Desafios em educação e saúde e as startups que respondem a eles

O avanço tecnológico, especialmente com a inteligência artificial, impõe desafios e oportunidades nos dois setores. Na educação, Zanforlin aponta a necessidade de melhorar a qualidade de ensino, a formação de professores e a gestão de escolas. Ele menciona que a tecnologia pode ser uma ferramenta para recuperar o déficit educacional no Brasil, onde mais de 80% dos alunos da educação básica estão na rede pública.
O CEO ressalta que a consolidação que ocorreu no ensino superior ainda não se deu na educação básica, um setor muito pulverizado, onde a profissionalização da gestão é um desafio. Ele ainda menciona o conceito de adaptive learning e a personalização em escala, viáveis com a IA generativa, como grandes apostas.
Na saúde, os desafios vão desde o subfinanciamento do Sistema Único de Saúde (SUS) até a necessidade de maior eficiência operacional e a atenção crescente à saúde mental, um tema crítico para pacientes e colaboradores. As startups buscam endereçar essas questões, e a Rosey Ventures atua na busca por essas soluções.
O fundo conta com três startups em seu portfólio, herdadas de investimentos anteriores pela FTD Educação:
Estuda.com: plataforma de simulados e banco de questões para alunos do ensino básico.
Pontue: solução para correção de redações, que incorporou inteligência artificial para ler manuscritos e oferecer correções rápidas e precisas. Zanforlin destaca um teste cego em que a IA foi preferida em relação aos corretores humanos, comprovando o ganho em qualidade, rapidez e custo.
Diário Escola: sistema de gestão escolar (ERP) que cuida da comunicação com pais, cobranças e outras tarefas administrativas, auxiliando a profissionalizar a gestão das escolas.

O perfil ideal de startup e fundador

O fundo procura startups nas fases pré-seed, seed ou pré-Series A, com cheques que variam entre R$ 300 mil e R$ 5 milhões. Zanforlin explica que essa estratégia permite construir um portfólio diversificado e mitigar riscos. A Rosey Ventures também está aberta a co-investimentos, aproveitando a liderança de mercado do Grupo Marista para atrair novos parceiros.
Além do alinhamento estratégico com as áreas de atuação, o CEO destaca a busca por um "fit com os nossos valores". "Essa relação, esse fit é muito importante. Isso é algo que a gente vai identificar no founder. Ele tem que ter esse perfil", ressalta.
O fundo busca fundadores que sejam conhecedores de tecnologia e demonstrem versatilidade. Zanforlin alerta para a necessidade de buscar startups com "tecnologias muito consolidadas" e não apenas com prompts de IA de baixa barreira de entrada, que não geram uma vantagem competitiva sustentável. A experiência prévia em rodadas de investimento também é vista como um ponto positivo, pois indica uma governança já estabelecida. "Quando a startup já possui uma governança estabelecida, a relação com o investidor é mais fluida e não precisa ser criada do zero", comenta.

Apoio para além do capital

O Grupo Marista oferece um ecossistema de suporte que vai além do aporte financeiro. "Esse talvez seja o grande diferencial competitivo da Rosey Ventures", afirma Zanforlin. O apoio se dá em diversas frentes:
Ecossistema Hotmilk: O fundo se beneficia da expertise da Hotmilk, um dos principais ecossistemas de inovação do Brasil, que pode atuar na aceleração e incubação das startups.
Acesso ao crescimento: oferece uma vasta base de clientes (alunos, escolas, hospitais) que pode gerar um crescimento acelerado para as startups. "Isso representa uma geração significativa de valor. Foi o que aconteceu, por exemplo, com as startups nas quais investimos pela FTD", explica o CEO.
Campo de teste: startups têm a oportunidade de testar seus produtos e realizar provas de conceito (POCs) nas operações do grupo.
Suporte estratégico: profissionais experientes do Grupo Marista podem oferecer mentoria em áreas como estratégia de negócios, finanças, marketing e gestão de pessoas. Zanforlin cita o exemplo das startups já investidas que realizaram seus planejamentos estratégicos dentro das instalações do grupo, com a equipe interna facilitando o processo.
Com uma meta de realizar até três novos investimentos até março de 2026, a Rosey Ventures tem duas negociações em andamento, uma em educação e outra em saúde, que podem se tornar os primeiros aportes do fundo ainda este ano. A expectativa é alta, mas a abordagem é cautelosa, garantindo que cada investimento se alinhe à tese e aos valores da instituição.

Como startups podem buscar aproximação

O primeiro passo é enviar o deck institucional da startup, com informações claras sobre a solução, sua execução e seu diferencial. A partir daí, a equipe da Rosey Ventures realiza uma análise inicial para verificar a sinergia operacional.
"Nosso primeiro filtro sempre é a sinergia operacional. Recebemos muitas propostas de startups, mas o que realmente diferencia aquelas que avançam é a clareza sobre como sua solução se conecta ao que acreditamos", explica Guilherme Skaf Amorim, Head da Rosey Ventures. "Se essa conexão for identificada, a startup avança para a próxima etapa de avaliação, que pode levar a um possível investimento."
"Recebemos muitas propostas de startups, mas o que realmente diferencia aquelas que avançam é a clareza sobre como sua solução se conecta ao que acreditamos", conta Guilherme Skaf Amorim, head da Rosey Ventures. Crédito: divulgação.
"Recebemos muitas propostas de startups, mas o que realmente diferencia aquelas que avançam é a clareza sobre como sua solução se conecta ao que acreditamos", conta Guilherme Skaf Amorim, head da Rosey Ventures. Crédito: divulgação.
A Rosey Ventures reforça que não busca apenas aplicar recursos, mas sim construir relações de longo prazo que possam expandir a capacidade de inovação e gerar resultados consistentes para todo o ecossistema.
Para startups interessadas em se candidatar, a Rosey Ventures disponibilizou canais e um processo de avaliação inicial.
Canais de contato: