Infraestrutura e tecnologia
Rede social ambiental criada por empreendedor curitibano quer levar sustentabilidade para pequenos bairros
Alguns anos trabalhando na área de saneamento levaram Marcelo Crivano a desenvolver um certo desejo de criar um negócio próprio dedicado à sustentabilidade. A ideia era fundar um empreendimento capaz de suprir algumas carências básicas na infraestrutura das grandes cidades a partir de tecnologia de ponta. Dessa vontade nasceu a Smart Citizen, uma empresa desenvolvedora de software para soluções ambientais e precursora das smart cities — ou cidades inteligentes.
Para tirar as intenções do papel, um dos primeiros alvos foi a limpeza urbana. Diante disso, a Smart Citizen criou, em 2019, um projeto para melhorar o monitoramento e gestão de resíduos nas cidades.
O primeiro produto, ainda em forma de teste, procurava entender como funcionavam os trabalhos de garis, os varredores das cidades. A intenção era aposentar as pranchetas e digitalizar o dia a dia desses profissionais, mapeando suas rotas e mensurando os resultados das coletas por meio de fotos. O piloto aconteceu nas cidades de Curitiba e Maringá, com o objetivo de provar um modelo de negócio vantajoso para as prefeituras locais.
Na ponta, no entanto, o que a empresa percebeu foi um gargalo de produtividade causado por alguns percalços na rotina desses varredores. “Tinha uma grande improdutividade e que nada tinha a ver com os funcionários”, conta Caetano Zagonel, gerente de projetos da Smart Citizen e um dos desenvolvedores do produto. “O problema real era o tempo gasto até que os profissionais fossem direcionados aos pontos de encontro, depois o deslocamento e todo o processo logístico envolvendo o serviço de varrição. Isso tudo queimava o tempo deles e reduzia o que era estabelecido contratualmente”, diz.
A conclusão dos empreendedores foi que, para ter mais eficiência, o caminho era criar mais braços para esse serviço. Assim surgiu o serviço de Zeladoria Ambiental Digital da Smart Citizen, um sistema que busca incentivar o engajamento de moradores em limpeza e gestão de resíduos em pequenos bairros nos quais a coleta pública não chega com tanta eficácia.

Por esse serviço, qualquer pessoa pode ser remunerada ao se tornar um “zelador ambiental”, ou seja, líder local responsável pelo controle das ações ambientais em seus bairros — áreas tradicionalmente debilitadas e com até 3 quilômetros de extensão. Esse zelador fica a cargo de localizar descartes indevidos, engajar a população da região e incentivar as boas práticas ambientais entre os moradores. “A mudança de comportamento nas comunidades foi algo surpreendente. Os vizinhos passaram a reconhecer aquele que é o responsável pelo cuidado ambiental no entorno e respeitá-lo”, conta Zagonel.
O acompanhamento do trabalho do zelador e os dados gerados pelo aplicativo são controlados pelas prefeituras municipais. “É uma maneira desses órgãos terem mais visibilidade dos serviços e também de moradores gerarem renda extra”, explica. A primeira cidade a adotar o serviço é a capital Florianópolis, em Santa Catarina.
Os testes também serviram para mostrar um grande engajamento da população, fomentando até mesmo o empreendedorismo local. “Ouvimos de alguns moradores que o contato diário com os vizinhos impulsiona até mesmo pessoas que tinham pequenos negócios. Foi algo bem legal o que descobrimos durante a experiência piloto”.
Uma rede social para quem ama a natureza
Com base neste e outros resultados, a Smart Citizen decidiu ampliar seu portfólio de produtos e criar a plataforma AMA (Agentes do Meio Ambiente), uma espécie de rede social socioambiental que já conta com 5 mil usuários.
O AMA pode ser baixado em lojas de aplicativos de forma gratuita. É uma rede social local para vizinhos interagirem e por onde a empresa transmite conteúdos de educação ambiental, promove ações em prol do meio ambiente, faz pesquisas e estimula moradores a compartilharem suas experiências e boas práticas em troca de pontos. “A ideia é multiplicar comportamentos sustentáveis e dar voz a micro influenciadores que precisam ser vistos e conhecidos pelas comunidades”, explica.

Na rede social, empresas privadas também podem criar ações com pequenas recompensas em cashback para programas de economia circular e gestão de resíduos, e o saldo é guardado a longo prazo na carteira digital individual de cada usuário.
A ideia já teve seus primeiros reconhecimentos. A plataforma é uma das finalistas de um desafio global de sustentabilidade para cidades promovido pela ONU-Habitat. Ao todo, foram mais de 200 inscrições, e a empresa foi selecionada como uma das cinco finalistas de Curitiba — também concorrem soluções nas cidades de Bogotá, na Colômbia; Bristol, no Reino Unido; e Ssabagabo, na Uganda.
Os vencedores globais serão anunciados durante o mês de junho e receberão 100 mil euros. Além do prêmio em dinheiro, os vencedores terão oportunidade de planejar a solução junto à ONU, que será apoiadora dos ganhadores e vai auxiliar as soluções na prospecção de fundos dedicados a financiar a execução dos projetos.