Inovação
Brasil tem potencial para se tornar um líder global da transição energética, afirma presidente da CNI
"O Brasil tem capacidade e potencialidades para ser um dos líderes globais da transição energética e da descarbonização dos processos industriais", revelou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, na abertura do 10º Congresso Internacional de Inovação da Indústria na manhã desta quarta-feira (27). O evento, que é o maior do setor na América Latina, discute, nesta edição, o tema da ecoinovação na indústria. O congresso é realizado pela CNI e pelo Sebrae e acontece em São Paulo até esta quinta-feira (28).
De acordo com a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), a ecoinovação é aquela que reduz os impactos ambientais pela adoção de processos produtivos, sendo eles tecnológicos ou não. Segundo a CNI, essa é uma tendência mundial que está promovendo mudanças nos modelos de negócios das empresas e que se tornou fundamental para a construção de novos parâmetros de sustentabilidade e competitividade para o setor industrial no Brasil e no mundo.
As ecoinovações passam por questões como o investimento em fontes renováveis, como o hidrogênio verde, e o desenvolvimento de novos combustíveis, medicamentos, produtos e materiais a partir dos recursos da biodiversidade. Fatores como esses podem impulsionar o Brasil a ganhar competitividade frente a outros mercados, como foi apresentado na abertura do evento desta quarta-feira.
Para o presidente da CNI, todas essas possibilidades demandam programas criativos, parcerias entre governo e setor privado, além de planejamento de longo prazo.
“Indispensáveis para a descarbonização, as energias limpas e o uso sustentável dos recursos naturais poderão acelerar a adaptação da indústria e das demais atividades econômicas aos novos padrões comerciais e às metas de redução das emissões de gases de efeito estufa. Também ajudarão a afastar ameaças protecionistas e a pavimentar novos caminhos para o desenvolvimento industrial”, acrescentou.
Andrade destacou que os painéis do Congresso de Inovação contribuem para o avanço de uma agenda contemporânea, com foco na transformação digital, na emergência climática e nas turbulências geopolíticas. “Essas mudanças trazem sérios riscos para todo o mundo, sobretudo para os países em desenvolvimento. No entanto, podem abrir oportunidades extraordinárias, em especial, para o Brasil”.
A partir do investimento em inovação, ainda segundo Andrade, o Brasil pode ter clareza sobre as novas possibilidades para o aumento da competitividade e para a criação de modelos de negócios, produtos e serviços de alto valor agregado.
O papel do estado na neoindustrialização
Também presente no evento de abertura, a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, afirmou que a indústria tem um papel relevante no crescimento do país e lembrou que países industrializados alcançaram um patamar de crescimento mediante o papel do estado.
No âmbito da sustentabilidade, a ministra ressalta que a agenda do clima é transversal, urgente e prioridade do atual governo. “Com uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, o Brasil tem todas as condições de liderar a transição energética e o investimento em conhecimento científico e a inovação são fundamentais para isso”.
Ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. Crédito: Agência de Notícias da Indústria (CNI).
Para o presidente do Sebrae, Décio Lima, vive-se um momento singular, em que inovação e sustentabilidade se encontram para a construção de um mundo mais justo e sustentável, em que se vê o Brasil com otimismo.
O Brasil é um país resiliente, que mostra ao mundo o potencial criativo e condições para construir uma nova industrialização. Além de termos a Amazônia, temos um rico processo de criatividade como nenhum outro país. E a inovação aumenta a criatividade humana para construirmos um mundo melhor para todos. Mas devemos nos lembrar de que um mundo sustentável e de inovação precisa ser acompanhado por um processo de inclusão, construindo um mundo solidário para todos.frisou o executivo.
O Congresso de Inovação e a MEI
Desde 2005, o Congresso Internacional de Inovação da Indústria, uma iniciativa da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), estimula a cultura da inovação e impulsiona a indústria brasileira para acompanhar as rápidas transformações tecnológicas mundiais. A MEI, no mesmo sentido, mobiliza as empresas para o progresso tecnológico e para o aperfeiçoamento das políticas públicas de ciência e tecnologia.
Estou certo de que o Congresso Internacional de Inovação da Indústria e as ações da MEI e da CNI continuarão abrindo caminhos para que a inovação se consolide como a principal estratégia para o crescimento das empresas e para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.Disse Andrade.
Criada em 2008, a MEI se consolidou como um fórum de discussão sobre as tendências da inovação, hoje contando com a participação de mais de 500 líderes empresariais. “Para mim, a MEI constituiu uma das mais estimulantes e gratificantes experiências do meu período na Presidência da CNI. O êxito do movimento é resultado da participação voluntária e efetiva de um grupo de líderes empresariais comprometidos com a causa da inovação”, acrescentou o presidente.
Pedro Wongtschowski, coordenador da MEI, reforçou que o mundo vive mudanças globais desafiadoras, que exigem atenção para temas como descarbonização e energias renováveis. “Aumenta, a cada dia, a consciência mundial sobre as terríveis mudanças climáticas, com ondas terríveis de calor, nevascas e incêndios incontroláveis. O Brasil renovou os compromissos com o meio ambiente, mas chegou o momento de acelerar o passo. E a MEI está preparada para assumir com pulso firme a agenda da ecoinovação e da sustentabilidade. O Brasil não pode ficar inerte em meio a esses desafios”, afirmou.
A natureza pode e inspira a tecnologia
Cofundadora do Biomimicry Institute, a bióloga americana Janine Benyus abriu a agenda de palestras do Congresso de Inovação. Para ela, a natureza é fonte de inspiração para criar soluções sustentáveis para o dia a dia. Janine também é consultora de inovação e autora de seis livros, incluindo o "Biomimética: Inovação Inspirada pela Natureza". Foi em 2006 que ela criou em Montana, nos Estados Unidos, a organização sem fins lucrativos dedicada a estudar e promover a biomimética.
"A natureza sabe ser elegante", disse a conferencista que acredita que os seres humanos têm muito a aprender com organismos vivos mais antigos que os homo sapiens. “Os seres humanos habitam a terra há 200 mil anos, mas outros seres já estavam no planeta há 3,8 milhões de anos. Organismos mais velhos do que nós tiveram bilhões de anos para desenvolver inovações que cabem aqui na terra. Quando você entra em uma floresta, cada organismo que você vê é um laboratório de fabricação química, produzindo materiais incríveis com a energia do sol e processos químicos”, explica.
A bióloga americana Janine Benyus. Crédito: Agência de Notícias da Indústria (CNI).
Janine trouxe diversos exemplos de como a natureza pode e inspira a tecnologia. "Os ecossistemas são muito generosos", revela a bióloga. A palestrante apresentou diferentes referências a animais e vegetais que inspiraram inovações na arquitetura, no design, na química, na engenharia, no planejamento urbano e na mobilidade.
Janine trouxe diversos exemplos de como a natureza pode e inspira a tecnologia. "Os ecossistemas são muito generosos", revela a bióloga. A palestrante apresentou diferentes referências a animais e vegetais que inspiraram inovações na arquitetura, no design, na química, na engenharia, no planejamento urbano e na mobilidade.
“Se quisermos permanecer neste planeta como uma espécie bem-vinda e sermos regenerativos em todos os nossos esforços é exatamente isso que precisamos aprender. Felizmente, não precisamos inventar isso do zero. Um mundo regenerativo já foi inventado e estamos cercados por modelos viáveis de ecoinovação”, disse Janine à Agência de Notícias da Indústria.
Paradoxos de um mundo em transformação
Outro destaque do primeiro dia do Congresso Internacional de Inovação da Indústria foi a palestra de Carlos Lopes, economista nascido em Guiné-Bissau e professor da Escola de Governança Pública Nelson Mandela, na Universidade de Cape Town, na África do Sul. referência mundial em debates sobre desenvolvimento econômico, Lopes ocupou cargos de destaque, incluindo Secretário-Geral Adjunto da ONU e Diretor Político do então Secretário-Geral da instituição, Kofi Annan.
Para o economista, o mundo como conhecemos mudou e algumas ideias que guiavam o comércio internacional, como a teoria das vantagens comparativas, de David Ricardo, não respondem mais às perguntas atuais. “Era o que estávamos habituados e agora vamos ter de nos habituar a outro tipo de quadro de pensamentos e temos que mudar as nossas cabeças”, disse na palestra.
O economista Carlos Lopes. Crédito: Agência de Notícias da Indústria (CNI).| Sara De Santis
Alguns exemplos citados pelo professor de economia de que o mundo não funciona mais do mesmo jeito são as medidas de taxação do carbono. “Em princípio é para o bem, porque é uma forma de penalizar a sua intensidade por meio das importações que são taxadas de forma diferente, mas na realidade é um mecanismo que é introduzido para produzir protecionismo”, disse, apontando a contradição com a lógica de não-discriminação comercial promovida pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
Alguns exemplos citados pelo professor de economia de que o mundo não funciona mais do mesmo jeito são as medidas de taxação do carbono. “Em princípio é para o bem, porque é uma forma de penalizar a sua intensidade por meio das importações que são taxadas de forma diferente, mas na realidade é um mecanismo que é introduzido para produzir protecionismo”, disse, apontando a contradição com a lógica de não-discriminação comercial promovida pela Organização Mundial do Comércio (OMC).
A guerra na Ucrânia e a discussão que ela provocou sobre a relação de forças das grandes potências é outro exemplo. “Nós temos os grandes atores que estão revendo as suas opções fora de um quadro multilateral global. Está acabando o multilateralismo tal como nós o conhecemos atualmente", completou.
No mundo atual, há quatro principais megatendências apontadas pelo economista que não podem ser equacionadas de forma clara. São elas: demográfica, climática, energética e tecnológica. Essas tendências levam a quatro paradoxos: transição energética, política industrial, batalha de jurisdições e futuro do capitalismo.
Apesar de apontar diversas contradições e desafios do mundo atual, nem tudo está perdido na visão de Lopes. “A inovação, a produtividade, a competitividade vão passar por transformações muito profundas e os países e o planeta vivem com grande dificuldade períodos de transição profunda”, disse.
Mesmo sendo comum que cada geração pense que vive a maior crise da história da humanidade, o professor lembrou que o movimento é parte da construção da complexidade humana e que o fim do mundo como conhecemos pode significar novas oportunidades no mundo da inovação. “Águas calmas não fazem bons marinheiros. É preciso se preparar para águas turvas", disse Lopes no fim de sua palestra.
*O jornalista viajou a convite da CNI.