Low Price x Marketing de Conexão
O paradoxo do marketing de conexão: como vender mais caro a partir de vendas mais baratas
Em um universo em que conteúdos se parecem uns com os outros e o jogo dos algoritmos cria pressão por fama vazia, surge um paradoxo interessante: para vender caro, muitas vezes é preciso começar vendendo barato unindo os chamados produtos low ticket com o marketing de conexão.
Essa dica parte de duas das maiores especialistas em mercado digital. Segundo Ellen Salomão , estrategista digital e fundadora da Agência Vê, produtos de baixo custo, ou low ticket, podem garantir o fluxo de caixa em campanhas de divulgação de marca, cobrindo despesas de publicidade e abrindo espaço para vendas mais lucrativas no futuro.
De outro lado, Priscilla Zillo Sobral, também estrategista e CEO do Grupo Permaneo, destaca que o conceito de marketing de conexão só constrói valor a longo prazo quem cria vínculo real com sua base de clientes. E isso pode justamente começar com ofertas iniciais acessíveis.
Essa foi a mensagem central das palestras de ambas do Hotmart Fire 2025, evento que reuniu milhares de empreendedores e criadores de conteúdo em Belo Horizonte, entre os dias 28 e 30 de agosto.
Princípios do marketing de conexão
O marketing de conexão nasce como resposta ao desgaste do marketing digital tradicional. “O conteúdo virou commodity todo mundo passou a jogar o jogo do algoritmo, com uma busca pela fama vazia e pelas métricas de vaidade. Acabou que marketing virou uma palavra pejorativa. E, agora, é preciso mais, fazer escolhas com clareza”, destacou Priscila Zillo. Nessa linha, a executiva destaca os três princípios do marketing de conexão:
- Escolha quem servir: não tente falar com todo mundo, mas sim atingir um público, um nicho.
- Construir narrativas é mais importante do que construir um calendário de posts.
- Trate sua base como comunidade: não apenas leads, mas fãs.
Nessa linha, o segredo está em equilibrar branding e performance, ensina Priscila. A ideia é ser lembrado e relevante, mas vender com clareza. Isso significa nutrir a base com pesquisas frequentes, respeitar a jornada de compra (cada vez mais longa) e pensar no ciclo de vida do cliente: a cada problema resolvido, surge outro que pode gerar uma nova solução — e uma nova venda.
E é justamente na construção dessa jornada mais longa e na busca por ciclos de vida maiores de vendas que parte a proposta de estratégia low ticket.

O papel dos produtos na estratégia low ticket
Ellen Salomão trouxe uma tática prática: substituir as tradicionais “iscas grátis” por produtos de baixo custo, como minicursos, workshops, e-books ou desafios pagos, normalmente de valor simbólico. “Trocar a lista grátis pelo low ticket traz risco menor, e você gera fluxo de caixa e escala mais rápido”, explicou em palestra. Três funções fazem parte dessa estratégia low ticket:
- Transformar desconhecidos em clientes: quem já pagou tende a comprar novamente;
- Qualificar o público: filtra curiosos e atrai quem vê valor em seus produtos e serviços;
- Criar urgência e familiaridade: o produto deve resolver algo simples, mas relevante.
Além disso, o low ticket alimenta um funil pago: captura, evento e carrinho de compras. Assim, revela a expert, antes mesmo de um grande lançamento, o empreendedor já aquece crenças e entrega parte da transformação prometida.
Escala, experimentação e confiança
Para escalar a estratégia, Ellen defende uma filosofia de perpétuo, ou seja, de venda contínua:
- Ser criativo: buscar relevância em vez de perfeição;
- Testar páginas e ofertas constantemente em sites de vendas, e-mails marketing, entre outros canais que possibilitem a realização de testes para entendimento do público;
- Assim como recomenda Zillo, Salomão recomenda aprender a investir em tráfego segmentado, a chamada mídia paga, com recursos de inteligência artificial, como o Meta Advantage+;
- Se possível, oferecer order bumps, que em português nada mais são do que pequenos complementos no momento do checkout (compra final), com produtos de 30% a 50% do valor da aquisição principal.
Com isso, fica claro: produtos mais baratos financiam o tráfego e criam uma base de clientes satisfeitos. Da mesma forma, cria-se uma base aquecida, com clientes prontos para receber ofertas de maior valor. No caso de vendas online, isso significa cursos completos, mentorias ou programas premium. No caso de produtos offline, isso pode significar cursos presenciais ou livros físicos, por exemplo.
Conexão é o que sustenta a escada de valor
Se o low ticket é a porta de entrada, o marketing de conexão é a cola que mantém o cliente no jogo. E aqui, Priscilla trouxe um alerta: empresas que ignoram os ciclos do mercado podem seguir uma tendência triste: morrer precocemente “No Brasil, 60% das empresas fecham em até cinco anos”, lembrou.
Uma boa analogia feita por Zillo é a comparação da empresa e do mercado, respectivamente, com a Terra e o Sol: “Pense na rotação e translação. Toda empresa passa por fases, assim como o dia e a noite. A empresa gira em torno das suas próprias dificuldades, como a Terra. Mas também ao entorno do mercado, que é o Sol. Ou seja, a empresa não depende apenas de seus desafios, mas de situações externas. Todo mundo quer o verão o tempo inteiro, mas a certeza é que virão as quatro estações no negócio”.
Por isso, não basta vender uma vez: é preciso cuidar da base, criar experiências e estimular a comunidade. A lógica é simples: quem compra barato e é bem tratado estará mais disposto a investir em algo caro no futuro.
O resumo do paradoxo do marketing de conexão
O paradoxo do marketing de conexão é justamente esse:
- Começar vendendo barato para reduzir atrito e gerar confiança;
- Usar essa proximidade para nutrir e engajar;
- Oferecer produtos de maior valor quando o cliente já reconhece autoridade, já teve uma transformação inicial e já sente segurança na relação.
Assim, o barato não desvaloriza a marca. Pelo contrário: é a ponte para tornar possível cobrar mais caro depois.