Daniel Scandian
MadeiraMadeira: como se tornar uma startup unicórnio
Aproveitar o bom momento do e-commerce e se tornar uma startup unicórnio é o objetivo de todas (ou quase todas) as empresas atualmente, no entanto, para alcançar uma avaliação de mercado acima de US$ 1 bilhão, o valor considerado ideal para receber esse título, são necessárias algumas estratégias dentro de uma nova economia que, no geral, possui uma base tecnológica.
Com o protagonismo que a comunidade de startups unicórnio vem ganhando nos últimos anos com essa construção de uma rede de apoio capaz de gerar novas oportunidades e acelerar o desenvolvimento econômico, o Brasil se tornou um ótimo celeiro para esse tipo de empreendimento. Em entrevista ao podcast Papo Raiz, o empresário e CEO da MadeiraMadeira, Daniel Scandian, falou sobre o tema ao expor parte da trajetória da empresa curitibana que recebeu o selo de startup unicórnio após receber um aporte de 190 milhões de dólares liderado pelo conglomerado japonês SoftBank, no início de 2021.
A MadeiraMadeira foi fundada em 2009 por Daniel Scandian, Marcelo Scandian e Robson Privado, e hoje é a maior plataforma de vendas online de móveis e decoração da América Latina. Inicialmente, a startup era mais voltada ao comércio de materiais de construção e contava com diversas mercadorias feitas de madeira, daí o nome da empresa. Com a janela de oportunidades que os sócios foram enxergando ao passar dos anos, a MadeiraMadeira foi se reinventando com o intuito de proporcionar uma melhor experiência aos clientes de todo o Brasil e hoje já conta com mais de 1.000 colaboradores.
Mas, para prosperar no mercado online e alcançar o patamar de startup unicórnio, a MadeiraMadeira teve que enfrentar alguns desafios desde o início de sua criação, envolvendo principalmente o setor financeiro, mas que assumir os riscos e ter a consciência de que as coisas melhorariam foram pontos essenciais para a empresa se manter firme e em constante inovação, como contou Daniel Scandian.
Como foi o início da empresa antes de ser startup unicórnio?
Uma empresa nascida após o fim de outra empresa. Foi assim que surgiu a MadeiraMadeira, segundo Daniel Scandian. O empresário relatou que antes da startup unicórnio existir, ele e a família estavam trabalhando na fábrica de pisos fundada por seu pai que estava investindo no mercado americano e acabou sendo atingida por uma crise econômica que estourou nos Estados Unidos. Após essa crise, a empresa precisou ser fechada e, então, com o pouco dinheiro que ele e o irmão conseguiram vendendo os equipamentos que sobraram, viram a oportunidade de criar um novo negócio, que mais tarde se chamaria MadeiraMadeira.
“Nós não tínhamos muito capital para começar uma empresa, então, a MadeiraMadeira acabou nascendo de uma crise. Não foi nada planejado, mas a gente tinha muita vontade e nos inspiramos em nosso pai que foi muito empreendedor, então montamos um modelo interessante com relação ao fluxo de caixa que foi o que fez com que a empresa tivesse um diferencial, porque conseguíamos pagar o fornecedor com mais prazo e assim conseguir antecipar o cartão de crédito. Essa pedalada foi o suficiente para conseguir crescer a companhia sem precisar de mais investimento”, disse Scandian.
Além dos problemas em não conseguir abrir contas em banco devido ao fato de terem participação na empresa familiar que havia quebrado, Daniel Scandian e seu irmão focaram em vender produtos de materiais de construção e, apesar de não terem um estoque online, subiam todo o catálogo dos fornecedores no site, deixando para adquirir as mercadorias só depois que um consumidor finalizava a compra. “A gente tinha que convencer os fornecedores a trabalhar no modelo sem estoque, vendendo para uma loja 100% online”, explicou.
Ele ainda lembrou a forma como lidava com os fornecedores para que conseguisse se inserir no mercado e conquistar novas oportunidades. “Às vezes eu fazia quatro ou cinco reuniões com fabricante para me deixarem vender e convencia as pessoas a abrir uma linha de crédito pra mim e o que eu fazia para abrir mais crédito era atrair mais fornecedores, então, quanto mais fornecedores a gente tinha mais eu diminuía o risco, mas foi bem difícil no inicio”, contou o CEO da MadeiraMadeira.
Qual é a condição para que uma empresa seja considerada um unicórnio?
Necessidade, inovação dentro do mercado e ter resiliência, essas foram as principais características que marcaram o processo de crescimento da MadeiraMadeira, não deixando também que Daniel Scandian e os outros fundadores desistissem do negócio, especialmente, em um cenário competitivo como o do empreendedorismo.
“A gente abriu a empresa e colocou ali o resto do dinheiro que tínhamos e que não era muito. Basicamente não tínhamos muita opção, estávamos naquele negócio e tínhamos que fazer acontecer. A gente tinha muito entusiasmo e as coisas foram acontecendo devagar até que tomou uma proporção que todo mundo começou a acreditar”, afirmou o empresário.
Para ele, o esforço da equipe até a MadeiraMadeira ter um valor de mercado que superou a marca de US$ 1 bilhão foi outro ponto fundamental para que a empresa conquistasse o lugar que ocupa hoje no mundo dos negócios e se tornasse referência para muitas outras startups que querem receber o título de startup unicórnio. “Eu sempre falo que no início é muito mais esforço do que talento, então a gente conseguiu conquistar o talento durante o percurso”, destacou Scandian.
O que fazer para a empresa se tornar uma startup unicórnio?
Para Daniel Scandian, o pensamento inovador, investimento em tecnologias, boa liderança e o foco no cliente são os principais pilares para que um empreendimento conquiste o título de startup unicórnio. Ele ressaltou que essas características foram essenciais para o desenvolvimento dos serviços ofertados pela MadeiraMadeira, bem como para a cultura da empresa. “A gente está sempre em alerta máximo e nunca achamos que algo é o suficiente. As pessoas e nossa cultura são os diferenciais da MadeiraMadeira, pois os colaboradores estão aqui porque gostam de desafios, então, nossa cultura é muito forte na hora de entregar”, afirmou.
Em paralelo a esses fatores-chave, Scandian ressaltou que ter uma boa quantia em caixa também é importante para conseguir criar novos ecossistemas e plataformas que atendam consumidores, principalmente, quando surgir uma maior competitividade do mercado ou a clientela se fortalecer. Ele ainda afirmou que é sempre bom aumentar as categorias e canais de venda, mas tendo uma infraestrutura adequada para que isso aconteça.
“Hoje eu gosto de investir muito na infraestrutura das coisas, porque elas são muito mais inteligentes do que, às vezes, você gastar dinheiro em marketing e crescimento, porque a infraestrutura vai ser muito mais saudável e faz muito mais sentido a longo prazo e também é um investimento que acaba durando”, disse o CEO da MadeiraMadeira.
Por que ter investidores é tão importante para startup?
Arrecadar dinheiro ou conquistar investidores é uma das tarefas mais árduas e também necessárias para financiar operações, expandir os negócios ou mesmo fazer alguma aquisição para atingir determinado objetivo comercial dentro das empresas que buscam tornar-se startup unicórnio. Sobre esse cenário, Daniel Scandian explicou que seguiu uma linha estratégica para que as coisas fossem fluindo da melhor forma na MadeiraMadeira.
“Quando a gente começou, tínhamos uma empresa que fazia nosso site e investia em marketing e tecnologia para poder tocar coisas que nós não sabíamos. E quando trouxemos os investidores, eu queria conviver com as pessoas mais inteligentes possíveis do mercado, porque sabia que ia aprender muito com isso e eu também estudava bastante sobre o setor”, contou.
Quais os principais erros e acertos desse tipo de negócio?
Para Scandian, contratar as pessoas erradas foi um dos erros mais frustrantes dele enquanto empresário, mas que também foi essencial para que ele e os demais sócios tivessem um conhecimento mais amplo sobre o mercado de empreendedorismo e aos poucos fossem modernizando suas soluções até garantir uma posição de vantagem no setor em que atuam e assim se tornarem-se uma startup unicórnio.
“Um dos melhores aprendizados foi com relação ao perfil das pessoas, o que funciona ou não, essas coisas que a gente mais conseguiu desenvolver. Eu consegui olhar os nossos erros como o lado cheio do copo e a gente aproveita muito quando a gente erra, pois o erro é uma das coisas mais importante e a melhor forma de aprender e fazer melhor”, disse ele.
Como a startup se prepara para o futuro?
Enquanto startup unicórnio, a MadeiraMadeira sempre enxergou no mercado de Venture Capital boas expectativas de crescimento e, agora, olhando para o futuro, Daniel Scandian assegurou que a empresa tem uma visão muito mais clara, que é ser o maior player de produtos de serviço e para casa do Brasil e depois expandir isso para a América Latina. Ele afirmou ainda que o propósito desde sempre foi fazer com que as pessoas montem suas casas de uma forma diferente e acessível a partir de uma produtividade e escala bem alinhadas.
“A gente vai fazer com que os consumidores ganhem, os acionistas ganhem e vamos elevar a barra do mercado que é uma das coisas importantes para que os serviços e produtos sempre fiquem melhores. Estamos fazendo, inclusive, um maior investimento em desenvolvimento de produtos da América Latina, em imóveis do nosso segmento e estamos muito empolgados com isso. Cada vez que a gente vai tendo algumas conquistas vamos ganhando maior confiança de todos”, finalizou Scandian.
*Artigo produzido pelo Papo Raiz – uma conversa descontraída e divertida sobre empreendedorismo e assuntos em alta na sociedade.