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Debate mediado por Adriane Kiperman aborda as oportunidades e barreiras para o modelo de ensino híbrido.

Futuro híbrido?

Na educação, a inovação é mais metodológica do que tecnológica

Guilherme Haas, especial para o GazzConecta
17/06/2022 18:00
Com o fim do período crítico da pandemia de Covid-19 e o retorno gradual das atividades presenciais, a educação - do nível básico ao ensino superior - passa novamente por um momento de readequação: repondo aulas e recompondo grades curriculares, e ao mesmo tempo assimilando os impactos da transformação digital e a implementação de novas metodologias de aprendizagem.
Será que, com o fim da pandemia, voltaremos ao modelo tradicional de ensino? Ou a educação passará a ser híbrida? As novas tecnologias estão modificando a forma de construção de conhecimento, mas será que estamos preparados para realizar uma mudança cultural no ensino? Afinal, quais são os desafios e os gargalos na educação em modelo híbrido?
Com o intuito de apresentar suas soluções tecnológicas e metodológicas para o ensino no Brasil e promover o debate sobre os desafios da educação híbrida, a edtech +A Educação convidou o GazzConecta para um webinar com especialistas da área e uma visita presencial aos laboratórios virtuais e edtech rooms em sua sede na cidade de Porto Alegre.

O futuro da educação

Mediado pela diretora editorial da +A Educação, Adriane Kiperman, o debate “Afinal, a educação vai passar a ser híbrida? Barreiras e oportunidades para esse novo modelo” contou com a presença de Gustavo Hoffmann, membro da Universidade de Harvard; Lilian Bacich, diretora da Tríade Educacional e uma das pioneiras em pesquisa sobre ensino híbrido; Vidal Martins, vice-reitor da PUCPR; e Fagner Oliveira, diretor da Inovatech. Em comum, os palestrantes concordaram que não podemos voltar ao modelo tradicional de ensino e que as novas tecnologias são o meio - e não a finalidade - para novas formas de conhecimento.
Fagner Oliveira fala sobre o papel da tecnologia na educação.
Fagner Oliveira fala sobre o papel da tecnologia na educação.
Autora de livros sobre ensino híbrido e metodologias ativas para a educação, Lilian Bacich destacou que o principal desafio do híbrido é um alinhamento conceitual do que se espera desse modelo. Segundo a especialista, “apenas levar a tecnologia digital para a instituição não é o que vai fazer a diferença. Ela só vai realmente fazer diferença se tiver um uso que leva o aluno a construir conhecimento”.
Para Bacich, o uso da tecnologia digital disparou outros gargalos que as instituições não tinham pensado tanto quanto agora. Entre esses gargalos estão as dores dos professores, de todos os níveis e segmentos de ensino, no que se refere à coleta de evidências de avaliação, e o baixo engajamento dos alunos, acentuado pela pandemia. Para o vice-reitor da PUCPR, Vidal Martins, há problemas de engajamento cognitivo (sobre querer aprender), emocional (sobre o sentimento de pertencimento) e intelectual (de atitude e senso crítico).
Para enfrentar esses gargalos na educação, os palestrantes salientaram a urgência do desenvolvimento de competências socioemocionais dos alunos – as chamadas soft skills –, já que parte dos conhecimentos técnicos e das hard skills poderão se tornar obsoletas com o tempo ou substituídas por soluções tecnológicas como a inteligência artificial. É nesse contexto que as novas tecnologias devem ser integradas ao ensino: “A inovação é muito mais metodológica do que tecnológica”, frisou Lilian Bacich.
Para o especialista Gustavo Hoffmann, trabalhar em currículos e metodologias que desenvolvam competências socioemocionais é fundamental para que o indivíduo consiga mudar de carreira e exercer profissões que ainda não existem. “Estamos formando profissionais que vão trabalhar em sei lá o quê e terão até seis carreiras ao longo da vida”, provocou o palestrante. Para atender a essa necessidade, segundo Hoffmann, é preciso investir na formação dos professores para que eles possam entender as metodologias disponíveis, consigam ajudar a desenhar novos currículos e apliquem tecnologia que facilitem o processo de inovação das universidades.
Gustavo Hoffmann destaca os benefícios e os desafios da educação em modelo híbrido.
Gustavo Hoffmann destaca os benefícios e os desafios da educação em modelo híbrido.
Hoffmann exemplificou os benefícios da tecnologia digital no ensino ao lembrar que cada aluno tem seu próprio ritmo de aprendizado e que uma plataforma adaptativa permite que o estudante tenha acesso aos conteúdos quantas vezes quiser ou precisar. Nesse sentido, o conceito de sala de aula invertida, com menos exposição e mais aplicação durante os momentos presenciais, possibilita melhores resultados na construção de conhecimento.
Alinhado a esse pensamento, Fagner Oliveira, diretor da Inovatech, explicou que as soluções tecnológicas desenvolvidas na +A Educação vão ao encontro desse conceito. O laboratório virtual, por exemplo, permite ao aluno realizar várias vezes a mesma prática, o que poderia não ocorrer em uma atividade presencial em grupo. “O que temos feito aqui é juntar a tecnologia com o pensamento pedagógico dos professores – e a origem da +A Educação como editora permite a aproximação com os autores”, disse Fagner sobre a relação direta da empresa com professores.

Aprendendo na prática

Em visita aos laboratórios virtuais da +A Educação, o GazzConecta conheceu algumas das propostas de aplicação de tecnologia na educação e experimentou a inovação metodológica na prática. A visita foi acompanhada por Igor Sales, gerente da unidade de negócios da +A Educação e da Imersys, e Rafael Gregório, designer e artista 3D da empresa.
Uma das atividades realizadas na sede da edtech foi uma visita virtual à Usina Hidrelétrica de Itaipu. Com um headset de realidade virtual, foi realizada uma experiência imersiva e educacional, conhecendo “por dentro” a estrutura e o funcionamento da hidrelétrica. O tour pela usina evidencia como a tecnologia pode ser aplicada, por exemplo, em aulas de engenharia, com a possibilidade de “levar” os alunos para obras e construções às quais não teria acesso.
A edtech desenvolve também simuladores virtuais de análise clínica, visando o aprimoramento no processo de aprendizagem de estudantes de medicina e outras áreas da saúde. Nesses ambientes virtuais, o aluno pode estudar o corpo humano em profundidade, com manipulação de órgãos modelados em 3D, aplicação de realidade aumentada, simulação de enfermidades e etapas de anamnese.
“O estudante tem acesso a um ambiente virtual que simula um ambulatório hospitalar ou um consultório médico, dependendo do caso. O acesso se dá através de um equipamento de realidade virtual, que permite interação realista com o ambiente, equipamentos e pacientes”, explicou Igor Sales.
Igor Sales, ao lado de Adriane Kiperman, apresenta um consultório médico virtual.
Igor Sales, ao lado de Adriane Kiperman, apresenta um consultório médico virtual.
Na visita ao laboratório, foram apresentados dois desses ambientes virtuais destinados aos alunos de medicina. No primeiro deles, é possível estudar o corpo humano em um modelo virtual que apresenta órgãos, nervos e tecidos com uma precisão milimétrica garantida pela curadoria de médicos e professores da área. Nesse ambiente virtual, os alunos podem simular enfermidades e analisar órgãos em detalhes (e até por dentro) através de realidade aumentada.
Um segundo simulador virtual apresentado pela +A Educação é focado nas etapas que compõem o processo de anamnese. “Nele, o estudante será desafiado a atender um paciente virtual com sintomas de um caso real, passando por todas as etapas necessárias para encontrar o diagnóstico preciso de cada paciente. Ou seja, o estudante fará a anamnese, que é a entrevista em que um médico coleta detalhes relevantes sobre histórico, estilo de vida, sintomas e percepções do paciente, e na sequência fará parte do exame clínico em si, no qual o estudante precisará executar com precisão os mais diferentes exames para cada caso”, contou Sales.
Na experiência nesse simulador virtual, o GazzConecta “atendeu” um paciente com cardiopatia e sintomas de enfarte, como falta de ar, dor no peito e ritmo cardíaco acelerado. Em alguns minutos no ambiente virtual, foram realizados os procedimentos de anamnese e coletamos os primeiros dados sobre sua condição de saúde. E em pouco tempo foi possível compreender como a experiência virtual - com metodologia e didática - se torna uma aliada na construção do conhecimento.
Rafael Gregório, artista 3D da +A Educação, explora o corpo humano em ambiente virtual.
Rafael Gregório, artista 3D da +A Educação, explora o corpo humano em ambiente virtual.
“O objetivo é suprir uma necessidade da maior parte dos cursos de saúde, que é colocar o estudante para praticar de forma segura e precisa práticas do dia a dia da profissão, que em geral são praticadas apenas em anos finais, ou superficialmente nos anos iniciais”, disse Sales sobre o simulador virtual de análise clínica.
Segundo o gerente da unidade de negócios da +A Educação, o simulador virtual de anamnese e análise clínica será lançado no terceiro trimestre deste ano e há instituições interessadas no produto. “É uma necessidade do mercado ainda não explorada mundialmente, e as tecnologias que compõem o metaverso estão permitindo viabilizar este tipo de recurso para instituições em qualquer parte do mundo”, sinalizou Sales sobre o potencial da tecnologia para o futuro da educação.
Por fim, a própria jornada de conhecimento realizada pelo evento da +A Educação espelha a proposta metodológica para a educação híbrida, aplicando a tecnologia para atender às necessidades da área e potencializar o processo de aprendizagem.