Futuro híbrido?
Na educação, a inovação é mais metodológica do que tecnológica
Com o fim do período crítico da pandemia de Covid-19 e o retorno gradual das atividades presenciais, a educação - do nível básico ao ensino superior - passa novamente por um momento de readequação: repondo aulas e recompondo grades curriculares, e ao mesmo tempo assimilando os impactos da transformação digital e a implementação de novas metodologias de aprendizagem.
Será que, com o fim da pandemia, voltaremos ao modelo tradicional de ensino? Ou a educação passará a ser híbrida? As novas tecnologias estão modificando a forma de construção de conhecimento, mas será que estamos preparados para realizar uma mudança cultural no ensino? Afinal, quais são os desafios e os gargalos na educação em modelo híbrido?
Com o intuito de apresentar suas soluções tecnológicas e metodológicas para o ensino no Brasil e promover o debate sobre os desafios da educação híbrida, a edtech +A Educação convidou o GazzConecta para um webinar com especialistas da área e uma visita presencial aos laboratórios virtuais e edtech rooms em sua sede na cidade de Porto Alegre.
O futuro da educação
Mediado pela diretora editorial da +A Educação, Adriane Kiperman, o debate “Afinal, a educação vai passar a ser híbrida? Barreiras e oportunidades para esse novo modelo” contou com a presença de Gustavo Hoffmann, membro da Universidade de Harvard; Lilian Bacich, diretora da Tríade Educacional e uma das pioneiras em pesquisa sobre ensino híbrido; Vidal Martins, vice-reitor da PUCPR; e Fagner Oliveira, diretor da Inovatech. Em comum, os palestrantes concordaram que não podemos voltar ao modelo tradicional de ensino e que as novas tecnologias são o meio - e não a finalidade - para novas formas de conhecimento.
Autora de livros sobre ensino híbrido e metodologias ativas para a educação, Lilian Bacich destacou que o principal desafio do híbrido é um alinhamento conceitual do que se espera desse modelo. Segundo a especialista, “apenas levar a tecnologia digital para a instituição não é o que vai fazer a diferença. Ela só vai realmente fazer diferença se tiver um uso que leva o aluno a construir conhecimento”.
Para Bacich, o uso da tecnologia digital disparou outros gargalos que as instituições não tinham pensado tanto quanto agora. Entre esses gargalos estão as dores dos professores, de todos os níveis e segmentos de ensino, no que se refere à coleta de evidências de avaliação, e o baixo engajamento dos alunos, acentuado pela pandemia. Para o vice-reitor da PUCPR, Vidal Martins, há problemas de engajamento cognitivo (sobre querer aprender), emocional (sobre o sentimento de pertencimento) e intelectual (de atitude e senso crítico).
Para enfrentar esses gargalos na educação, os palestrantes salientaram a urgência do desenvolvimento de competências socioemocionais dos alunos – as chamadas soft skills –, já que parte dos conhecimentos técnicos e das hard skills poderão se tornar obsoletas com o tempo ou substituídas por soluções tecnológicas como a inteligência artificial. É nesse contexto que as novas tecnologias devem ser integradas ao ensino: “A inovação é muito mais metodológica do que tecnológica”, frisou Lilian Bacich.
Para o especialista Gustavo Hoffmann, trabalhar em currículos e metodologias que desenvolvam competências socioemocionais é fundamental para que o indivíduo consiga mudar de carreira e exercer profissões que ainda não existem. “Estamos formando profissionais que vão trabalhar em sei lá o quê e terão até seis carreiras ao longo da vida”, provocou o palestrante. Para atender a essa necessidade, segundo Hoffmann, é preciso investir na formação dos professores para que eles possam entender as metodologias disponíveis, consigam ajudar a desenhar novos currículos e apliquem tecnologia que facilitem o processo de inovação das universidades.
Hoffmann exemplificou os benefícios da tecnologia digital no ensino ao lembrar que cada aluno tem seu próprio ritmo de aprendizado e que uma plataforma adaptativa permite que o estudante tenha acesso aos conteúdos quantas vezes quiser ou precisar. Nesse sentido, o conceito de sala de aula invertida, com menos exposição e mais aplicação durante os momentos presenciais, possibilita melhores resultados na construção de conhecimento.
Alinhado a esse pensamento, Fagner Oliveira, diretor da Inovatech, explicou que as soluções tecnológicas desenvolvidas na +A Educação vão ao encontro desse conceito. O laboratório virtual, por exemplo, permite ao aluno realizar várias vezes a mesma prática, o que poderia não ocorrer em uma atividade presencial em grupo. “O que temos feito aqui é juntar a tecnologia com o pensamento pedagógico dos professores – e a origem da +A Educação como editora permite a aproximação com os autores”, disse Fagner sobre a relação direta da empresa com professores.
Aprendendo na prática
Em visita aos laboratórios virtuais da +A Educação, o GazzConecta conheceu algumas das propostas de aplicação de tecnologia na educação e experimentou a inovação metodológica na prática. A visita foi acompanhada por Igor Sales, gerente da unidade de negócios da +A Educação e da Imersys, e Rafael Gregório, designer e artista 3D da empresa.
Uma das atividades realizadas na sede da edtech foi uma visita virtual à Usina Hidrelétrica de Itaipu. Com um headset de realidade virtual, foi realizada uma experiência imersiva e educacional, conhecendo “por dentro” a estrutura e o funcionamento da hidrelétrica. O tour pela usina evidencia como a tecnologia pode ser aplicada, por exemplo, em aulas de engenharia, com a possibilidade de “levar” os alunos para obras e construções às quais não teria acesso.
A edtech desenvolve também simuladores virtuais de análise clínica, visando o aprimoramento no processo de aprendizagem de estudantes de medicina e outras áreas da saúde. Nesses ambientes virtuais, o aluno pode estudar o corpo humano em profundidade, com manipulação de órgãos modelados em 3D, aplicação de realidade aumentada, simulação de enfermidades e etapas de anamnese.
“O estudante tem acesso a um ambiente virtual que simula um ambulatório hospitalar ou um consultório médico, dependendo do caso. O acesso se dá através de um equipamento de realidade virtual, que permite interação realista com o ambiente, equipamentos e pacientes”, explicou Igor Sales.
Na visita ao laboratório, foram apresentados dois desses ambientes virtuais destinados aos alunos de medicina. No primeiro deles, é possível estudar o corpo humano em um modelo virtual que apresenta órgãos, nervos e tecidos com uma precisão milimétrica garantida pela curadoria de médicos e professores da área. Nesse ambiente virtual, os alunos podem simular enfermidades e analisar órgãos em detalhes (e até por dentro) através de realidade aumentada.
Um segundo simulador virtual apresentado pela +A Educação é focado nas etapas que compõem o processo de anamnese. “Nele, o estudante será desafiado a atender um paciente virtual com sintomas de um caso real, passando por todas as etapas necessárias para encontrar o diagnóstico preciso de cada paciente. Ou seja, o estudante fará a anamnese, que é a entrevista em que um médico coleta detalhes relevantes sobre histórico, estilo de vida, sintomas e percepções do paciente, e na sequência fará parte do exame clínico em si, no qual o estudante precisará executar com precisão os mais diferentes exames para cada caso”, contou Sales.
Na experiência nesse simulador virtual, o GazzConecta “atendeu” um paciente com cardiopatia e sintomas de enfarte, como falta de ar, dor no peito e ritmo cardíaco acelerado. Em alguns minutos no ambiente virtual, foram realizados os procedimentos de anamnese e coletamos os primeiros dados sobre sua condição de saúde. E em pouco tempo foi possível compreender como a experiência virtual - com metodologia e didática - se torna uma aliada na construção do conhecimento.
“O objetivo é suprir uma necessidade da maior parte dos cursos de saúde, que é colocar o estudante para praticar de forma segura e precisa práticas do dia a dia da profissão, que em geral são praticadas apenas em anos finais, ou superficialmente nos anos iniciais”, disse Sales sobre o simulador virtual de análise clínica.
Segundo o gerente da unidade de negócios da +A Educação, o simulador virtual de anamnese e análise clínica será lançado no terceiro trimestre deste ano e há instituições interessadas no produto. “É uma necessidade do mercado ainda não explorada mundialmente, e as tecnologias que compõem o metaverso estão permitindo viabilizar este tipo de recurso para instituições em qualquer parte do mundo”, sinalizou Sales sobre o potencial da tecnologia para o futuro da educação.
Por fim, a própria jornada de conhecimento realizada pelo evento da +A Educação espelha a proposta metodológica para a educação híbrida, aplicando a tecnologia para atender às necessidades da área e potencializar o processo de aprendizagem.