Mobilidade Urbana

Grilo Mobilidade dá seus “pulos” para levar mobilidade limpa a grandes cidades

Maria Clara Dias, especial para o GazzConecta
05/07/2023 19:29
Como boa parte das startups, a gaúcha Grilo Mobilidade nasceu para solucionar uma dor específica de mercado. Há três anos, a empresa de Porto Alegre vem tentando transformar o caótico transporte nas cidades sob três rodas, isto é, com a ajuda de triciclos elétricos desenvolvidos com a finalidade de levar para cima e para baixo pessoas e mercadorias.
A startup nasceu em 2020 sob o apelo sustentável e em função do desejo dos três sócios-fundadores em criar um negócio de impacto e com potencial de disputar o contexto das grandes metrópoles. Para isso, desenvolve um serviço de transporte de cargas e passageiros que se apoia no uso de triciclos elétricos e com zero emissão de carbono.
O plano de fundo para o embrião do negócio surgiu em 2019, apoiado pelo “boom” dos patinetes elétricos. À época, o meio de transporte popular causava discussões acaloradas sobre onde eles poderiam circular, como adequar a estrutura de calçadas para recebê-los e outras regulamentações. “No fim das contas, todos queriam atuar nos trajetos curtos e  vimos que havia uma grande discussão sobre qual era o melhor jeito de se locomover nessas distâncias”, lembra Carlos Novaes, fundador e CEO da Grilo.
Paralelo a isso, havia uma crescente discussão sobre a importância de meios de transporte mais limpos e capazes de colaborar para a desobstrução dos centros urbanos, especialmente do ponto de vista da poluição. “Pensamos em reimaginar a mobilidade de um jeito que respeitasse a saúde das pessoas e o meio ambiente. A eletricidade era o caminho”, diz Novaes.
 Triciclos elétricos desenvolvidos pela Grilo para o transporte de pessoas e mercadorias. Crédito: Tiago Trindade.
Triciclos elétricos desenvolvidos pela Grilo para o transporte de pessoas e mercadorias. Crédito: Tiago Trindade.
Junto a Novaes, um engenheiro civil e administrador por formação e com passagens por grandes multinacionais de tecnologia e comunicação, estão os empreendedores Leonor Moura, Rodrigo Johannpeter e João Vitor Tavares, que lançaram a Grilo após, aproximadamente, um ano de pesquisas de mercado.

Os “pulos” da Grilo

O foco da Grilo está na última milha, curto trajeto que se dá entre o último ponto disponibilizado pelo transporte público e o destino final de um passageiro ou de entrega de uma mercadoria. Esses trajetos são geralmente feitos a pé, por vans ou motocicletas.
“Somos uma complementaridade da mobilidade urbana. Afinal, são distâncias muito curtas para um veículo de quatro rodas e dificilmente aceitas por motoristas de aplicativos, mas muito longas para se fazer a pé”, explica Novaes.
Em julho de 2020, a Grilo colocou em circulação sua primeira frota de triciclos de cabine fechada, com um propósito puramente social. Em meio à uma das fases mais agudas da pandemia de Covid-19, lançar um aplicativo de mobilidade enquanto a população se mantinha em isolamento parecia uma ideia descabida.
Por isso, a startup começou a atuar em uma pequena área de 5 quilômetros quadrados — o equivalente a um bairro e mais algumas margens adjacentes de bairros próximos de Porto Alegre — com objetivo de atender, gratuitamente, pessoas que precisavam se deslocar em busca de atendimentos médicos ou compra de medicamentos.
João Vítor Tavares, Leonor Moura, Rodrigo Johannpeter e Carlos Novaes, sócios da Grilo. Crédito: Tiago Trindade.
João Vítor Tavares, Leonor Moura, Rodrigo Johannpeter e Carlos Novaes, sócios da Grilo. Crédito: Tiago Trindade.
Além disso, transportavam passageiros rumo a mutirões de vacinação e também itens para doações em parceria com ONGs e instituições sociais. “A questão social faz parte da nossa cultura. Foram mais de 20 ações sociais, desde coisas mais simples às mais complexas, apenas naquele período”, diz.
Passado o período pandêmico, a Grilo expandiu seus esforços com o intuito de criar novas linhas de receita para além do transporte de passageiros. Em Porto Alegre, por exemplo, a startup passou a atender também grandes empresas, tornando-se o braço logístico e de entregas “verdes”. Alguns exemplos são as parcerias com a rede de farmácias Panvel e o supermercado online Zmart.
Atualmente, o modelo de negócio da Grilo está baseado em uma lógica de hubs físicos, onde os veículos ficam disponíveis para retirada e devolução. Por lá, há áreas para descanso e lazer dos condutores e recarga dos triciclos. São, ao todo, dois hubs  —  um em Porto Alegre e o outro em São Paulo.
A chegada a São Paulo aconteceu há apenas três meses, motivada pelos complexos desafios ligados à mobilidade urbana na cidade. “É ali que está o núcleo de empresas e pessoas no país. Pensamos que fazia sentido o investimento para trazer a Grilo ao coração do país”, conta o fundador.
Na capital paulista, a Grilo começou atuando também com o transporte de passageiros em curtas distâncias e por aplicativo. Uma decisão recente da prefeitura da cidade que suspendeu a empresa nesse nicho de atuação, contudo, resultou em uma mudança de planos. Agora, a Grilo atua 100% voltada ao B2B no município. “Tínhamos apenas uma semana em operação e muito investimento, de capital financeiro e intelectual. Parar não era uma opção”, diz Novaes.

Rumo à Agenda 2030

A Grilo Mobilidade, como empresa de impacto, está diretamente ligada aos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) da ONU, uma espécie de cartela que determina as grandes metas almejadas para a próxima década, do ponto de vista social e ambiental.
Alguns deles, segundo Novaes, estão ligados ao avanço das cidades e comunidades sustentáveis, a ODS número 11. Para este objetivo, a Grilo se compromete a auxiliar no acesso a sistemas de transporte seguros, acessíveis, sustentáveis e a preço acessível para todos até 2030. A Grilo também se relaciona a outros dois objetivos: indústria, inovação e infraestrutura (ODS 9), e ação contra a mudança global do clima (ODS 13), já que, ao longo dos cinco anos de existência, a Grilo já deixou de emitir um total de 400 toneladas de CO², equivalente ao plantio de aproximadamente 3.600 árvores, segundo estimativas da própria empresa.
De acordo com Novaes, há hoje três questões em que o Brasil precisa alavancar para avançar na pauta da eletromobilidade. A primeira, diz respeito à lei da liberdade econômica já que, na avaliação do empreendedor, o fomento econômico a novas empresas irá aquecer o mercado de mobilidade elétrica no país. “É algo que traz segurança jurídica às startups. Precisamos de mais empreendedores e mais gente tomando risco”, diz.
Em última instância, ele avalia que o país precisa encarar os efeitos das mudanças climáticas e do aquecimento global. “É o que trará o Brasil para o cenário global das discussões do assunto, incluindo temas como renda, profissionalização e empregos “verdes”, que fazem parte da nova economia. Na Grilo, os condutores dos triciclos já são profissionais do futuro, treinados e capacitados por nós para a economia sustentável”, diz.

Futuro da Grilo

Com mais capital financeiro à disposição e menos queima de caixa para se consolidar em centros urbanos de destaque como São Paulo, a Grilo pretende iniciar sua expansão para outras cidades, com destaque para as capitais das regiões Sul e Sudeste e também cidades turísticas. “Nossa missão será a de continuar construindo a imagem da Grilo como empresa que leva a sério os critérios de sustentabilidade para além de um PowerPoint. Queremos ser reconhecidos por manter nossos valores em todo o Brasil", conclui.

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