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Lorena Teixeira criadora da Neociclo, uma empresa de tecnologia que se dedica a facilitar a legalização de itens alimentícios produzidos por agricultores familiares e pequenas agroindústrias no Paraná. Crédito: Divulgação.

Neociclo

Ex-funcionária pública, ela criou uma startup que fomenta o agro do Paraná, acelerando a legalização de pequenos produtores

Maria Clara Dias
Maria Clara Dias
12/01/2024 11:45
A jornada enfrentada por um alimento até chegar, de fato, às nossas mesas costuma incluir um emaranhado de etapas que envolvem desde a colheita até o armazenamento e transporte. Mas, afora a cadeia logística dos produtos e seus longos e tempestuosos caminhos até as gôndolas dos supermercados e hortifrutis, há também um complexo processo de legalização que começa ainda no campo.
Foi pensando nisso que a empreendedora Lorena Teixeira criou a Neociclo, uma empresa de tecnologia que se dedica a facilitar a legalização de itens alimentícios produzidos por agricultores familiares e pequenas agroindústrias no Paraná.
A empreendedora conta que a aproximação e interesse pelo tema surgiu durante sua primeira experiência trabalhando em um órgão público - ela foi secretária de administração e finanças do município de Agudos do Sul, uma pequena cidade de 12 mil habitantes. Nesse período, percebeu muitas demandas relacionadas ao agronegócio, especialmente vindas de pequenos produtores que queriam expandir seus negócios para além da pequena cidade, mas encaravam processos burocráticos e confusões no caminho.
A busca de pequenos produtores que recorriam ao governo em busca de meios de facilitar o processo de legalização e expansão para outros municípios inspirou a criação de um serviço de inspeção sanitária na secretaria, um projeto coordenado por Lorena.
No mesmo período, conheceu seu futuro sócio, Marcus Fusco, um médico veterinário com experiência como técnico em processos de legalização. “Foi um passo importante, que nos mostrou como funcionava toda a jornada de legalização e nos deu a base para criar nosso negócio”, diz.

Como funciona a tecnologia

De olho nos desafios envolvendo a cadeia de produção de alimentos por esses pequenos empreendedores, os dois criaram um protótipo do que viria a ser a Neociclo em 2021. A primeira versão nada mais era do que um software que reunia todas as leis envolvendo a inspeção de produtos, respeitando as diretrizes de cada município.
Três anos depois, a Neociclo evoluiu para uma plataforma completa, responsável por levar para o ambiente digital todo o monitoramento de cadeias produtivas. O processo inclui diferentes etapas, como uma consulta prévia das documentações exigidas por cada município - e que devem ser entregues pelos produtores para conseguir obter diferentes licenças. A empresa também atua de maneira consultiva, coletando e armazenando informações sobre as produções e tornando esses dados acessíveis.
Segundo Marcus Fusco, sócio da Neociclo, a startup atua em três pilares: o primeiro deles, a facilitação da gestão pública, auxiliando fiscais em seu dia a dia de trabalho, como o acesso a documentos. Já no pilar dos produtores, a Neociclo auxilia no processo de legalização e, em última instância, na comercialização de produtos, servindo de “vitrine” para agricultores.
“O produtor pode mostrar que aquela produção existe, e sua capacidade produtiva. Assim, quando ele disponibiliza informações sobre o andamento do processo de legalização, algo que é obrigatório por lei, ele passa a ser visto”, explica.

Propósito social

Na visão dos fundadores, as burocracias e lentidão na avaliação de documentação por parte do setor público serve de entrave para que as legalização de agroindústrias - e principalmente produtores familiares e de pequeno porte - avancem. Segundo ela, após o processo de legalização, esses empreendedores aumentaram seus negócios em mais de quatro vezes. “Começamos a entender o potencial de crescimento e de desenvolvimento econômico desse tipo de serviço”, conta.
“Sempre soube que a inovação deve vir com algum propósito. No caso da Neociclo, nosso propósito é a segurança alimentar. É trabalhar inovação, mas por meio de um alimento seguro para todos”, explica a fundadora.
Os empreendedores investem muito, mas apenas os esforços deles não são suficientes. Eles precisam do poder público, responsável por dar o aval para que eles possam crescer. Então nossa missão segue essa lógica: se um produto é legalizado, ele está nas prateleiras, faturando e movimentando a economia local
, diz.
“O serviço de inspeção, quando trabalhado de maneira inovadora e inclusiva, transforma a realidade local dos municípios”, complementa Marcus.
A Neociclo já recebeu seu primeiro reconhecimento por sua inclinação social e desenvolvimento econômico de pequenos empreendedores da região metropolitana de Curitiba. Lorena foi reconhecida como a empreendedora curitibana do ano de 2023, na categoria “Iniciativa de Impacto Socioambiental" em uma premiação promovida pela Prefeitura de Curitiba e pelo Vale do Pinhão, por meio da Agência Curitiba de Desenvolvimento.
“A região metropolitana nem sempre tem esse espaço, e nem sempre tem oportunidade de fala e de reconhecimento. Como mulher jovem e empreendedora, fiquei honrada com a premiação. Assim como eu, existem muitas mulheres fazendo negócios inovadores por aqui. Quando temos espaço para mostrar que há inovação, isso é uma grande coisa”, reconhece a empreendedora.

Plataforma mais moderna e próximas aos produtores

Atualmente, a Neociclo possui 15 clientes, municípios que compraram a licença do software para agregar tecnologia às suas estruturas físicas de inspeção em seus órgãos públicos.
Agora, para continuar crescendo, a startup pretende estreitar seus laços com os produtores. Neste ano, a empresa vai passar a atender diretamente produtores, que poderão usar a plataforma para controlar suas produções e acelerar seu processo de legalização. O diferencial estará no baixo custo: o agricultor não pagará pelo uso do software caso o município em que resida já seja cliente da Neociclo. “Continuaremos sendo uma empresa de impacto, esse é nosso propósito”, diz Lorena.
Para este ano, a startup também prevê o lançamento de seu aplicativo, uma alternativa para produtores e fiscais que precisam alimentar a plataforma em tempo real nos campos, locais de difícil acesso à internet.
Com esses dados atualizados, produtores também poderão dar novos fins para o excedente produtivo, geralmente descartado. “Desde que começamos a trabalhar com esse mapa de produção, temos visto como esses produtores perdem uma boa parte de suas produções. O que queremos, agora, com esse novo viés tecnológico e social, é permitir que um produtor doe o excedente para bancos de alimentos municipais ou, ainda, vendê-los a um outro preço de tabela, mais em conta”, explica a fundadora.

E vem aí o GazzSummit

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