Como a inovação impulsiona o agro e sustenta a cadeia produtiva é tema do primeiro dia do GazzSummit

Nesta quarta-feira (26), a Ligga Arena, em Curitiba, sediou o GazzSummit Agro e Foodtechs. Iniciativa do GazzConecta, principal plataforma de inovação, tecnologia e empreendedorismo do Paraná, o evento aconteceu em conjunto com o Smart City Expo Curitiba e reuniu dezenas de participantes em uma imersão com mais de 15 palestrantes e cerca de sete horas de conteúdo especializado, compartilhado por empresas e gestores de grandes players nacionais do agronegócio.

“O evento deu um salto, impulsionado pela nossa origem, pelo que queremos entregar para o setor e pela sensibilidade da nossa equipe em perceber o potencial das conexões. Estamos aqui para falar sobre conectividade e quebrar as barreiras entre campo e cidade, unindo-os ao varejo”, destaca Ana Amélia Filizola, diretora da unidade de jornais do GRPCOM. Beto Marcelino, sócio-fundador e diretor de relações governamentais do iCities, organizador do Smart City Expo Curitiba, complementou afirmando que o GazzSummit contribui para colocar o Paraná na linha de frente da qualidade produtiva e demonstra a força do mercado estadual no Brasil.

Os números do setor demonstram a grandeza do agronegócio em nível nacional e evidenciam o potencial de crescimento ainda a ser explorado. Para 2025, a previsão é de uma produção de 328 milhões de toneladas de grãos, número que deverá alcançar 400 milhões de toneladas em 2030, segundo Dilvo Grolli, diretor-presidente da Coopavel Cooperativa Agroindustrial, diretor-presidente da CREDICOOPAVEL e conselheiro da COTRIGUAÇU Cooperativa Central.

“Nos últimos 35 anos, o Brasil aumentou sua produção de grãos em 468%, enquanto a área explorada nesse mesmo período cresceu 115%. Essa diferença chama-se produtividade, impulsionada pelo empreendedorismo do produtor rural. Nosso potencial é ainda maior”, destaca.

A programação deste primeiro dia de evento teve como foco o agronegócio. Treze palestrantes se revezaram no palco para apresentar análises, dados e discutir os cenários atual e futuro do setor em seus diversos segmentos, com ênfase em tecnologia e sustentabilidade.

A primeira palestra da manhã, sob o tema “Agro inteligente, cidades sustentáveis: a nova era da conexão campo-cidade”, contou com a participação de Paula Packer, chefe-geral da Embrapa Meio Ambiente, presidente do conselho gestor do AgNest e membro da Academia Brasileira de Ciência Agronômica; Mirella Lisboa, head AgroStart Latam da BASF; e Rodrigo Maluf, sócio-líder de fusões e aquisições (M&A) na EY Brasil e de estratégia e transações para agronegócios no Cone Sul. A mediação foi conduzida por Zaki Akel, fundador e CEO da Academic Ventures, parceiro regional da ESPM no Paraná e ex-reitor da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

“O agro tem uma grande preocupação com a sustentabilidade. Ele tem sido frequentemente criticado, mas há muito tempo tem feito sua lição de casa. Os cases que vimos aqui mostram exatamente isso: o desenvolvimento de inovações, a criação de fundos e as parcerias com institutos de pesquisa e universidades, que trazem aportes importantes de tecnologia e ciência aplicada. Tudo isso é potencializado pelo desenvolvimento das startups e aplicado em toda a cadeia”, avaliou Akel.

Os palestrantes destacaram a tecnificação da agricultura brasileira e a virada digital em busca de maior eficiência e produtividade no campo. Nesse processo, grandes empresas e instituições têm trabalhado em parceria com agricultores e startups, atuando como pontes e campos de testes para soluções e ferramentas validadas que chegam aos cultivos. “O despertar digital já aconteceu. O desafio agora é demonstrar [que esse investimento] dá certo!”, reforçou Mirella, lembrando que esse tipo de iniciativa representa uma relação ganha-ganha, pois valida ferramentas e soluções que aumentam a produtividade do setor, ao mesmo tempo em que contribuem para o ganho de escala das startups.

Na sequência, foi apresentado o tema “Energia verde, conectividade e impacto: o Paraná na vanguarda sustentável”. O painel contou com a participação de Miguel Segundo, sócio-fundador e CEO da Gedisa Energia, e do secretário de Inovação, Modernização e Transformação Digital do Paraná, Alex Canziani, com mediação de Cris Alessi, consultora de inovação e transformação digital, diretora de projetos da Fundação da Universidade Federal do Paraná (FUNPAR) e conselheira do GazzSummit Agro e Foodtechs.

Na abertura do painel, Canziani ressaltou que o Paraná é o segundo estado mais inovador do Brasil, além de ter duas cidades listadas no ranking mundial de comunidades inteligentes, elaborado pelo ICF (Fórum de Comunidades Inteligentes). Segundo o secretário, o estado caminha para se tornar 100% conectado, a partir do trabalho que vem sendo desenvolvido pelo governo estadual, em parceria com grandes empresas e pequenos provedores de internet.

Para que essa conexão seja viável, o investimento no abastecimento de energia é indispensável, com as fontes renováveis sendo a principal aposta. De acordo com Miguel Segundo, 16% dos produtores rurais do estado têm acesso à energia renovável, mas há espaço e potencial para que esse número cresça. “O grande desafio é a comunicação, as pessoas conhecerem as possibilidades de utilizar energia renovável, as modalidades disponíveis e tomarem a decisão de participar. O produtor que usa energia renovável não só contribui para as questões ambientais, mas também economiza. Esses recursos podem ser reinvestidos na modernização da produção, o que impacta diretamente na produtividade”, acrescenta o CEO da Gedisa Energia.

O painel “O caminho dos investimentos no agronegócio” fechou a programação da manhã, trazendo como palestrantes o sócio-diretor da gestora de investimentos Quartzo Capital, Pedro Ferroni, e o sócio-fundador da Urso Consultoria Empresarial e da Urso Capital, Ricardo Urso, sob a mediação de Luciano Döll, cofundador e CEO da inbix, plataforma de inovação corporativa e conselheiro do GazzSummit Agro e Foodtechs.

Na pauta, os desafios impostos pelo cenário de restrição de crédito e pela alta de juros, que impactam o apetite por investimentos. “É um momento muito delicado, mas também de boas oportunidades para quem está buscando empresas. O Brasil está vivendo um ápice de recuperação judicial, com empresas que, ainda nesta situação, possuem ativos relevantes e estão dispostas a entrar em negociações para as quais antes não estariam disponíveis. Eu também gosto de olhar da porta para dentro, para o investimento interno e a capacidade de gestão da própria empresa, que deve investir em áreas que a levarão do ponto A ao ponto B, como crescer e reduzir impostos, por exemplo”, comenta Urso.

O caso da Coopavel abriu a programação da tarde, com a apresentação de seu presidente, Dilvo Grolli. Na sequência, Rafael Malacco, gerente de novos negócios da Syngenta Digital Brasil, apresentou aplicações práticas de tecnologias digitais que incluem soluções e ferramentas para auxiliar no controle de pragas, monitoramento das lavouras e eliminação de retrabalhos no campo, contribuindo para maior eficiência no setor.

Os benefícios da conectividade na agroindústria também foram tema do painel “Panorama do agro: estratégias, desafios e oportunidades no setor”. Nele, os palestrantes Paulo Máximo, diretor de planejamento da CNH, Giovani Ferreira, CEO do Canal Rural, e Santiago Franco, CEO da Cibra Fertilizantes, sob mediação de Gisah Akel, cofundadora e COO da Academic Ventures e Partner Regional da ESPM no Paraná, comentaram sobre como a conectividade digital e as conexões formadas entre empresas do segmento, entre empresas e produtores, e entre os próprios produtores, contribuem para a saúde do ecossistema de inovação no campo.

Para ilustrar a questão, eles apresentaram cases como a parceria da CNH com a PUCPR, para a formação de estudantes que aplicarão seus conhecimentos nas fazendas onde atuam, e o investimento na criação de redes pessoais e digitais, como o Jarilo, rede social voltada à comunidade do agronegócio, lançada pela Cibra Fertilizantes.

“Concebemos o Jarilo para ser mais do que simplesmente uma plataforma digital do agro. Sempre pensamos em como influenciar a transformação cultural do setor. O Jarilo é uma rede social que utiliza inteligência artificial para favorecer a conexão e resolver problemas e desafios diários das pessoas do campo. Além disso, ela traz a possibilidade de eliminarmos as bolhas regionais e conectarmos produtores de todo o Brasil”, explica Rafael França, diretor de agilidade e inovação da Cibra.

A rede social foi desenvolvida a partir de um programa de inovação interna mantido pela empresa e reflete o posicionamento das lideranças em relação ao ecossistema de inovação e às novas tecnologias. “O caminho é inovar. O processo de inovação consiste em testar muitas coisas, investir tempo, dinheiro, envolver pessoas, sabendo que a maioria das soluções desenvolvidas serão abandonadas em pouco tempo, mas estamos atrás daquele 1% que vai fazer a diferença. Precisamos liderar pelo exemplo, ser early adopters de novas tecnologias e ter programas específicos para o fomento da cultura da inovação”, acrescenta Santiago Franco, CEO da Cibra, ao lembrar do caminho que levou ao desenvolvimento do Jarilo.

O partner & head de equities da Ceres Investimentos, Claudio Nessralla, fechou a programação do dia, abordando temas relacionados à sustentabilidade, aos desafios logísticos da produção agrícola brasileira e à dificuldade do país em comunicar os avanços e conquistas do agro para além das fronteiras.

Para ele, há dois horizontes a serem trabalhados nesse sentido. O primeiro deles é o exercício doméstico para o entendimento de que os ambientes rurais e urbanos não são isolados, mas sim um conjunto.

“O segundo ponto é investirmos em ações in loco nos mercados consumidores mais desenvolvidos, como Japão e Coreia do Sul, para demonstrar a segurança e rastreabilidade do alimento. Ou seja, precisamos de uma campanha de marketing, de comunicação e de relação institucional para levarmos a realidade e os planos da agroindústria brasileira para esses mercados consumidores, algo que fazemos muito pouco”, lembra.

Com apresentação da Gedisa Energia e patrocínio da ESPM, Jarilo e Urso Consultoria Empresarial, o GazzSummit Agro e Foodtechs se consolida como um dos principais fóruns de inovação no agronegócio e no mercado de alimentos do Sul do Brasil. O evento oferece um panorama abrangente da cadeia produtiva, desde o campo até a mesa do consumidor.

No primeiro dia, palestras e painéis discutiram as tendências, desafios e oportunidades que moldarão o agronegócio nos próximos anos, destacando caminhos para um setor mais inovador, sustentável e competitivo.

Já o segundo dia, que acontece nesta quinta-feira (27), foca no mercado de alimentos, abrangendo desde a indústria até os supermercados, passando pelo foodservice e delivery. Um dos destaques é o painel “Escolhas que transformam: o varejo na era da sustentabilidade e tecnologia”, que reúne três grandes nomes do setor supermercadista paranaense: Joanir Zonta, fundador da Rede Condor; Carlos Beal, sócio-fundador do Festval; e Everton Muffato, diretor do Grupo Muffato.