Crescimento
Com maior digitalização, logtechs registram alta de 132% em fretes durante crise
Se, de um lado, a pandemia do novo coronavírus congelou a economia, por outro acelerou processos de digitalização e aumentou a demanda de diversos segmentos. Empresas de logística que utilizam a tecnologia para otimizar seus processos — as chamadas logtechs — mostram aumento na procura pelos serviços além de captação recente de investimentos que contribui para a expansão de seus números.
Um exemplo é a startup paranaense Fretefy, responsável por digitalizar parte do processo de transporte, realizando a ponte entre empresas que precisam entregar suas cargas e caminhoneiros autônomos, diminuindo o número de viagens vazias que são custosas para transportadores. A expectativa para 2020 era que suas operações fossem expandidas em 10 vezes com a captação de R$ 5 milhões realizada em março.
Porém, segundo Marilúcia Pertille, COO da Fretefy, o objetivo do início do ano não será atingido. Mesmo no cenário de incertezas a startup mostra bons resultados. “A ideia de crescimento de 10 vezes que tínhamos apoiado como objetivo para esse ano sem dúvida ficou mais complicada por causa da pandemia, mas acreditamos que vamos crescer pelo menos sete vezes até dezembro”, prevê.
Os números mostram uma ascensão e procura por digitalização. Quatro meses após o investimento, a Fretefy cresceu 132% no número de cargas transacionadas através de seu sistema. Marilúcia salienta que o motivo do aumento é a maior necessidade de qualidade no transporte, com mais segurança para as equipes de logística que podem acompanhar as cargas remotamente.
“Os transportadores não estão mais procurando nosso serviço; quem está comprando mais é a indústria, para poder exigir um nível elevado dos transportadores através da integração que a plataforma permite,” completa a COO.
Expectativa e futuro
Cotada para ser um dos unicórnios de 2020 a logtech Cargo X também registrou crescimento. No início da pandemia no Brasil, houve uma alta repentina de 40% na procura pelos serviços da startup, seguida por uma queda de 50% no número de cargas em comparação com o primeiro trimestre deste ano. Já entre maio e julho, houve um aumento de 91% na procura pelos serviços.
Na visão de Federico Vega, CEO da Cargo X, a alta procura por fretes no início da pandemia foi causada por uma tentativa de antecipação de viagens, além do temor do desabastecimento. Passado um período em que o mercado esteve menos aquecido, agora a economia tem voltado gradativamente com uma necessidade de adaptação de alguns processos.
“Estávamos crescendo muito rápido antes da crise, cerca de 20% ao mês. Durante a pandemia, postos de parada de caminhoneiros ficaram fechados e a única ferramenta que o caminhoneiro tinha era a internet para se comunicar”. E completa: “todo mundo falava que ia se digitalizar, mas quem comandou a digitalização das empresas não foi o CEO, foi a Covid-19. A pandemia acelerou a onda que começou em 2014”.
O CEO indica também que nos próximos meses a tendência é que cada vez mais os transportes sejam realizados por caminhões. Na sua visão, o transporte aéreo vai ficar mais caro por conta do menor número de pessoas circulando e viajando, hábito fortalecido pelo home office. O Brasil não tem uma malha ferroviária que sustente a demanda do país, causando um aumento na procura por transportes rodoviários, aponta Federico.
A Cargo X recebeu dois aportes recentes, totalizando um investimento de R$ 445 milhões desde abril do ano passado. Segundo os dados da empresa, 30% da meta de crescimento depois dos aportes já foi concluída. O crescimento só não foi maior pela desaceleração no mercado nos primeiros meses de 2020. Uma das ações da startup com os investimentos foi oferecer capital de giro para pequenas transportadoras que foram afetadas pela pandemia.
Novas oportunidades
A alta demanda por serviços de transporte fomenta também outros mercados, como o de peças e serviços de manutenção. É o caso da startup paulista SOS Truck, que oferece uma cotação online para motoristas autônomos e também gestores de frotas. A plataforma permite realizar a cotação de peças e serviços de acordo com a localização do caminhoneiro, além de servir como um guia, indicando estabelecimentos como postos de gasolina e auto peças que estão abertas.
Lançado em novembro de 2019 o aplicativo é gratuito e funciona como um representante comercial de lojas de peças. O motorista faz o cadastro e insere o modelo de seu caminhão na plataforma, quando precisa de peças ou serviços como postos de gasolina e assistências especializadas, através de geolocalização o sistema informa quais os locais em um raio de cem quilômetros. Ao todo são 1,2 mil estabelecimentos parceiros em São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Segundo Alessandro Poletto, um dos sócios e diretor comercial da S.O.S Truck, entre as frentes para retomar o crescimento da startup está uma série de campanhas para oferecer kits de higiene e cuidados médicos aos caminhoneiros. “Em março o aplicativo recebia cerca de novos 100 caminhoneiros por semana, e com a pandemia caiu o número de adesões à plataforma. A meta até o final do ano é de 10 mil downloads”, salienta. O aplicativo reúne, em sete meses de atuação, 2,5 mil usuários ativos.