Cidades inteligentes
Assaí: como uma cidade do interior do Paraná se tornou uma das principais smart cities do mundo
Aliança com grandes empresas, aposta em capital humano e construção de valor coletivo. Esses são dois dos principais elementos responsáveis por transformar uma pequena cidade do interior do Paraná em um dos casos mais bem-sucedidos de aplicação de tecnologia para cidades inteligentes em todo o mundo. O município de Assaí, com seus pouco mais de 15 mil habitantes, é hoje um exemplo bem acabado de integração tecnológica e é uma das Smart Cities em ascensão no cenário nacional.
Ao lado de Curitiba e Ponta Grossa, o município paranaense é um dos poucos a integrar a Smart21, seleta lista das comunidades mais inteligentes do mundo elaborada pela iniciativa canadense Intelligent Community Forum (ICF).
O que tem em Assaí?
Grande colônia japonesa, Assaí teve boa parte de sua atividade econômica impulsionada pelas exportações de algodão nas últimas duas décadas. A lógica também deu origem a uma complexa cadeia envolvendo a matéria-prima, com uma oferta crescente de empregos na área têxtil e um fluxo migratório constante para a região.
O contexto foi transformado, porém, com a inserção de novas culturas e competição com grandes players do setor têxtil, especialmente da China. A cidade encarou o êxodo de moradores dispostos a migrar para municípios vizinhos — e até mesmo outros estados — em busca de oportunidades. “Foi quando percebemos que as novas gerações estavam ficando sem oportunidade. Esses jovens buscavam soluções para continuar contribuindo com a cidade e estar perto de suas famílias”, conta Igor Oliveira, secretário de ciência, tecnologia e inovação de Assaí em entrevista ao podcast do GazzConecta durante o Smart City Expo.
Dos estudantes ao poder público
Segundo Oliveira, que é professor da UFRJ e trabalha há 20 anos com liderança pública, o ponto de virada para a transformação cultural e inovativa do município de Assaí se deu ainda em 2012, ano em que a prefeitura da cidade deu início aos esforços para levar a primeira escola técnica para a região. Em 2014, com a inauguração desta primeira unidade, uma nova configuração tomou conta do cenário educacional da cidade, conta o secretário. “Ali começou uma revolução. Os alunos começaram a trabalhar com co-criação, ideação, prototipação”, diz.
A ausência de políticas públicas, porém, restringia o alcance dos projetos de inovação desenvolvidos pelos estudantes. Tendo isso em vista, o poder público decidiu formalizar as tratativas de inovação na cidade ao criar a secretaria de ciência e inovação. Logo depois, uma parceria entre a prefeitura e o Sebrae deu origem a um hackathon com o objetivo de contratar um secretário designado para cuidar do órgão público. O processo seletivo — pelo qual passou Oliveira — é o primeiro a ser promovido com o intuito de contratar um funcionário público no país. “É o primeiro de que tenho conhecimento, e foi isso que me atraiu. É um processo em que ganham todos”, afirma.
O segredo da inovação
Ao refletir sobre os elementos que levaram a cidade de Assaí ao patamar inovativo atual, o secretário é categórico ao afirmar que há uma percepção de que a inovação precisa chegar até o público final. Para que seja colocada em prática, afirma, a inovação precisa estar além do discurso do poder público ou empreendedores, mas à disposição de todos. “Assaí não quer ser uma cidade inteligente, mas sim uma cidade melhor com todos os elementos que o cidadão precisa”, diz.
Governança
Ele afirma que no quesito governança, por exemplo, a cidade é destaque no que se refere à uma gestão focada em valorizações de talentos locais e aplicação de tecnologia e uso de dados para otimizar a gestão municipal. “Temos diferentes tipos de governança. Uma delas é a colaborativa. Não governar para, mas governar “com” e “ao lado de”, afirma.
Apoio corporativo
Na cidade, segundo o secretário, há a compreensão de que nenhum avanço é possível sem o suporte à validação do mercado. Por essa razão, o apoio de cerca de 93 multinacionais ao ecossistema local é um dos pilares para o avanço da cidade e seu reconhecimento entre as principais Smart Cities do mundo. Essas empresas, afirma Oliveira, têm na cidade um espaço (também físico) para testagens, validações e uso de talentos.
Gestão antecipatória
Com a captação de dados de empresas e demais instituições que se dispõem a testar suas inovações na cidade, Assaí tem se empenhado na criação dos chamados “data lakes”, reservatórios de dados coletados a partir de todas essas testagens.
O processo permite a identificação de anomalias de forma antecipada, criando indicadores que auxiliam a gestão pública a identificar problemas a serem solucionados e oportunidades de curto, médio e longo prazo.
Não podemos prever o futuro, mas podemos desenhar cenários de futuros possíveis, considerando aonde queremos chegar”, avalia. “Quando trazemos esses indicadores, podemos mostrar ao cidadão que talvez não tenhamos a solução para o problema que ele pontuou naquele momento, mas que aquilo está na nossa agenda estratégica. Essa gestão antecipatória deveria ser um modelo para todos, diz o secretário.
Aposta em capital humano
Atualmente, a principal dor do município de Assaí está na retenção de talentos, afirma Oliveira. Segundo o secretário, um trabalho minucioso de formação e capacitação profissional vem sendo realizado nos últimos anos, o que fez com que Assaí fosse incluída em um seleto grupo de cidades na liderança de um movimento voltado para a ampliação do acesso de cidadãos ao ambiente digital no mundo. Ao lado da cidade paranaense estão também Nova York, Barcelona e Helsinque. Contudo, isso ainda esbarra no abandono desses jovens talentos formados por ali para municípios vizinhos, especialmente para trabalhar com o agronegócio.
Tendo isso em vista, a cidade busca trabalhar a partir de sua robusta base de dados para mapear talentos em diferentes frentes para além das salas de aula, considerando, inclusive, empreendedores, pessoas fora do mercado de trabalho e o público idoso. “É um trabalho que precisa ser orquestrado”, diz.
Além da análise contundente de dados, a cidade se vale da parceria com as 93 multinacionais a partir de um programa de incentivo à contratação de recém-formados. Para isso, criou um centro de empregabilidade remota que oferece computadores e demais equipamentos de trabalho para que esses talentos possam trabalhar para essas empresas. “Tudo o que pedimos em troca para essas empresas é que contratem e mantenham nosso talento por ali”, explica. “É um modelo que nos conduziu aonde estamos hoje e que conquistamos em apenas dois anos. Somos uma pequena governança completamente orientada à formação de talentos e esses talentos vão revolucionar essa cidade”, diz.
E vem aí o GazzSummit Agrotechs
O GazzSummit Agrotechs é uma iniciativa pioneira do GazzConecta para debater o cenário de inovação em um dos setores mais relevantes do país. O evento será realizado no dia 15 de agosto de 2024 com o propósito de conectar e promover conhecimento para geração de novos negócios, discussão de problemas e desafios, além de propor soluções para o setor.
O GazzSummit promove a disseminação de tecnologias e práticas de inovação que possam levar a cadeia produtiva ainda mais longe. Uma programação intensa de 12 horas de conteúdo, e mais de 25 palestrantes, espera os participantes que poderão interagir com players importantes do ecossistema como grandes empresas, cooperativas, produtores, entidades públicas, startups e inovadores. Garanta já a sua vaga.