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Juliana Binatti, Daniela Binatti, Marcelo Parise e Ricardo Josua, sócios da Pismo. Crédito: Divulgação.

Pismo

Como duas desenvolvedoras de software criaram uma fintech de US$ 1 bilhão

Maria Clara Dias
Maria Clara Dias
17/10/2023 14:47
A fintech Pismo é um exemplo que abrilhanta o cardápio de startups do Brasil ao evidenciar o potencial do país em criar tecnologias de escala global.
Fundada em 2016, a empresa de infraestrutura de pagamentos atende grandes players como Itaú, BTG Pactual e Citi e transaciona algo como US$ 40 bilhões em sua plataforma anualmente. Recentemente, também esteve envolvida na maior transação envolvendo uma fintech brasileira na história após compra pela Visa por US$ 1 bilhão, cerca de R$ 5 bilhões.
A ideia do negócio é de Daniela Binatti, uma desenvolvedora de software com anos de experiência no mercado financeiro. Habituada a linguagens de código e também com os pormenores dessa indústria em questão, Daniela reconheceu as ineficiências do sistema de pagamentos em curso na época.
Junto do marido e futuro sócio, Marcelo Parise, resolveu “tirar a prova” de algumas ideias com uma viagem ao Vale do Silício, um dos mais relevantes berços tecnológicos do mundo, para tatear o mercado e explorar oportunidades.
De volta ao Brasil, em 2015, a ideia já tinha seu formato inicial. A intenção era criar um sistema de processamento de pagamentos capaz de auxiliar bancos e outras instituições financeiras a abandonar estruturas físicas robustas, como data centers e mainframes, por meio da adoção de nuvem pública — e mesmo assim continuar sendo capazes de rodar sistemas pesados.
Com um sistema rodando em nuvem, o uso de equipamentos robustos para dar conta de momentos específicos do calendário com grande volume transacional, vide os casos de Natal e Black Friday, passava a ser dispensável.
“Com uma solução em nuvem pública, é possível alocar a infraestrutura necessária para momentos de intenso processamento, mas o restante do ano fica equilibrado”, explica Juliana Binatti, cofundadora e COP da Pismo.
Além de otimizar infraestruturas usualmente custosas às empresas, destaca Juliana, a Pismo criou uma plataforma na qual é possível testar novos produtos sem necessariamente afetar o funcionamento da tecnologia para os usuários finais. 
Também é sobre agilidade e poder, de fato, validar recursos sem colocar em risco a operação para todos os clientes em virtude de um ou outro lançamento.
Juliana Binatti, cofundadora e COP da Pismo.
Do lado tecnológico, é possível afirmar que a Pismo permite a conectividade entre qualquer conta bancária e empresas de pagamentos (como as bandeiras Visa e Mastercard), desde que haja algum saldo financeiro nela.
A Pismo também conecta essas contas aos métodos de pagamentos, como o FastPay, nos Estados Unidos, e o Pix, no Brasil. “Na prática, é algo que funciona para tudo e todos, desde que haja uma conta com algum saldo financeiro e a necessidade de transacionar isso”, explica.
A Pismo também faz a emissão de cartão de crédito, cartões pré-pagos, conta corrente e conta digital, serviços de corporate banking, empréstimos e outros. Por trás de todos os serviços está o uso de provedores de nuvem pública como AWS e Google Cloud Platform.

Mais que sócios, parentes

Juliana, também desenvolvedora de software, é irmã caçula de Daniela. Ao lado da irmã e cunhado, juntou-se ao time de fundadores da Pismo ao comprar a ideia trazida pelo casal ao Brasil. No grupo de fundadores também está Ricardo Josua, executivo com larga experiência administrativa.
Juliana é, hoje, responsável pela área de produto da Pismo, uma função que exige constantes adaptações e melhorias de olho na experiência do usuário final. 
A proximidade com a área de produtos veio após experiência de mais de duas décadas no lado técnico da programação, passando pela indústria química e farmacêutica - e, por fim, na de pagamentos.
“Estar inserida nesse contexto de tecnologia 'back-end' trouxe uma familiaridade sobre os detalhes desse mercado, então migrar para a área de produto foi algo natural”, lembra.
O time da Pismo fica completo, em expertises e habilidades, com o olhar administrativo de Ricardo e olhar tecnológico de Daniela e Marcelo, ainda que um esteja focado em arquitetura e desenho de solução e outro na gestão dos desenvolvedores, que cuidam da elaboração dos códigos por trás da plataforma.
Além do parentesco, os fundadores têm em comum a jornada duradoura em uma companhia de processamento de cartões de crédito antes da Pismo — o que trouxe um panorama bem fiel das dores do setor de serviços financeiros e das limitações técnicas das soluções existentes na época.
Dos bastidores, Juliana reconhece que a sinergia entre os perfis dos fundadores é, talvez, o ingrediente secreto para a jornada bem-sucedida da startup.
Não somos familiares que decidiram abrir o negócio. Vai além disso”, diz. “Somos familiares que já trabalhavam juntos há 12 anos e decidiram, então, abrir uma empresa. Tudo se complementava, principalmente as habilidades.
Juliana Binatti, cofundadora e COP da Pismo.

Um futuro como unicórnio

Depois de alguns anos turbulentos no início da jornada —  a Pismo chegou perto de quebrar em 2019 —, o negócio prosperou. Uma das razões para isso está na validação da tecnologia por grandes representantes do mercado.
O primeiro deles foi o banco Itaú, primeiro grande cliente da fintech. A Pismo passou a ser provedora de tecnologia de processamento de pagamentos para o banco após uma aproximação por meio do Cubo Itaú, hub de inovação no qual a Pismo estava incubada na época.
Depois disso vieram outros clientes de grande porte. Entre eles, o BTG Pactual, que atualmente transaciona todos os pagamentos de seus cartões de varejo com a Pismo.
Com o tempo e com a adesão dos grandes bancos, a Pismo também se tornou alvo de fintechs e bancos digitais, como a N26, Cora e Cumbuca.
Atualmente, a fintech conta com mais de 470 funcionários espalhados pelos quatro cantos do mundo. Os times estão em São Paulo, onde está o escritório da empresa, e também nos Estados Unidos, Reino Unido, Índia e Cingapura.
O número expressivo é resultado de uma jornada de crescimento apoiada em consecutivas rodadas de investimentos. Queridinha de investidores, a Pismo já atraiu fundos como Falabella Ventures, Headline, SoftBank Latin America e Redpoint Eventures.
Em julho deste ano, a empresa tornou-se o mais novo unicórnio do Brasil ao virar alvo de aquisição pela Visa, numa transação de US$ 1 bilhão ainda sob validação dos órgãos reguladores.
“Estamos ansiosos pela resposta final e animados pela possibilidade de trabalhar com a Visa”, antecipa Juliana.

Protagonismo feminino

O legado da Pismo, segundo Juliana, vai bem além das tecnologias refinadas em nuvem. Com metade da equipe fundadora composta por mulheres, a Pismo é, também, um caso bem-sucedido de empresa de inovação feminina no universo das fintechs, majoritariamente dominado por homens.
“Ser mulher na indústria financeira e também em tecnologia, reconheço, é algo raro”, diz a executiva, que se lembra das fricções que enfrentou ao longo da carreira para estabelecer seu lugar de destaque no mercado.
“Sempre me senti uma pessoa de tecnologia e isso jamais foi um problema, mas com o passar dos anos, percebi a resistência do mercado à essa minha ascensão à medida em que ocupava posições de gestão”, conta.
Na Pismo, os desafios enfrentados pelas próprias fundadoras se traduzem numa busca por diversidade de gênero. Segundo Juliana, o objetivo da fintech é atrair cada vez mais mulheres ao time, um trabalho já um curso pelo time de recursos humanos.
Em outra frente, a intenção é, também, fomentar o empreendedorismo a partir do exemplo. “A mensagem que queremos passar, quando falamos em empreendedorismo, é a de acreditar no projeto. Quero dizer a todas as mulheres: vão lá e façam. Tirem as ideias do papel”, diz.

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