Ação Inovadora
Plataforma de inteligência artificial reduz mortes de doentes crônicos por Covid-19
Desde que a Covid-19 começou a se espalhar pelo mundo, autoridades e profissionais da saúde vêm adotando uma série de estratégias para tentar, entre outras coisas, reduzir a taxa de mortalidade da doença. Em Penedo, município alagoano com 63,8 mil habitantes* que fica na divisa com Sergipe, foi uma decisão de aproximadamente um ano antes da pandemia que rendeu bons frutos nesse sentido: a adoção de uma plataforma de gestão de cuidados voltada para pacientes crônicos.
Desenvolvida pela empresa de tecnologia curitibana Nagis Health, a plataforma monitora o estado de saúde de pacientes, usando inteligência artificial para sugerir protocolos a serem seguidos e orientar os profissionais sobre quando tomar ações relacionadas aos cuidados com a saúde do paciente. No caso de Penedo, onde é usada exclusivamente para o atendimento a pessoas com doenças crônicas, o objetivo é melhorar assistência dada a estes pacientes, reduzindo o risco à saúde deles e os gastos gerados pelos frequentes atendimentos a eles.
“Os crônicos representam hoje 4% da população, mas gastam 50% ou mais de tudo o que a saúde consome e representam um terço da fila do SUS”, explica o presidente da empresa, Wagner Marques. Conforme Marques, que antes de fundar a Nagis Health trabalhou desenvolvendo tecnologias de análise de risco e sistemas para operadoras de saúde, este grupo também tem oscilações frequentes em seu estado de saúde, o que dificulta a aplicação e gestão de protocolos.
Em Penedo, a plataforma passou a ser utilizada no segundo semestre de 2018, a partir da regulamentação da Lei da Inovação e da criação de uma startup público-privada, a PSG Medical, que desenvolveu um projeto-piloto para o município - o qual, mais tarde, virou um programa chamado Redenção.
Inicialmente, três profissionais assumiram a função de gerente de cuidados e passaram a auxiliar as equipes de saúde da família a oferecerem o tratamento diferenciado aos pacientes crônicos atendidos pelo município. Hoje, são mais de dez gerentes de cuidados. De acordo com Marques, isso resultou em uma redução de aproximadamente 90% nos atendimentos de urgência a esses pacientes e 60% nas internações nesse grupo até maio de 2020.
Quando a pandemia chegou - e com ela, um risco maior à vida de quem convive com doenças crônicas -, isso contribuiu para evitar mortes. “Fizemos um estudo até junho e verificamos que passou de 500% a redução do número de mortes em Penedo em relação ao restante do Nordeste. Foi aí que observamos a importância do trabalho que vínhamos desenvolvendo”, diz Marques. Conforme a pesquisa, Penedo tinha uma taxa de 5,7 mortes por 100 mil habitantes, enquanto Alagoas registrava um índice de 30,7 e o Nordeste, de 34,5.
Números mais recentes divulgados pelo governo de Alagoas mostram que a situação registrada em Penedo continua melhor do que em outros locais: com 15 mortes em decorrência da Covid-19 registradas até a primeira semana de outubro, a cidade tem um índice de 23,5 óbitos por 100 mil habitantes. Assim, o município é o vigésimo em número de mortes do Alagoas (sem contar os quatro que não registraram óbitos).
Para se ter uma ideia, a taxa do estado é de 63 mortes por 100 mil habitantes e a da capital, Maceió, é de 95,6. Já municípios de porte semelhante a Penedo no estado, como São Miguel dos Campos (61 mil habitantes) e União dos Palmares (65 mil habitantes), têm índices de 57,1 e 62,5 óbitos por 100 mil habitantes, respectivamente.
*Estimativa do IBGE para 2020.