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Crédito para pequenas e médias empresas impulsionou investimento federal no primeiro semestre de 2020.

Ação Inovadora

Indústria paranaense busca na inovação alternativas para o futuro

Fernando Henrique de Oliveira, especial para o GazzConecta
29/09/2020 12:06
Os números da produção industrial do Paraná no fim do primeiro semestre deste ano indicavam um ritmo de recuperação da atividade no estado. No entanto, a curva de crescimento não se confirmou em julho, segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Esperávamos um crescimento maior nesse início de segundo semestre, uma vez que outros setores da economia, como comércio e serviços, tiveram resultados positivos, mas essa expectativa não se confirmou”, aponta Evanio Felippe, economista da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep).
Porém, na opinião do especialista,
a queda de 0,3% em julho não representa, exatamente, uma nova retração da
atividade industrial, como aconteceu nos meses de abril e maio deste ano. “O
dado aponta mais para uma estagnação do que para uma retração. Se olharmos para
cada segmento individualmente, alguns mantiveram os índices de crescimento, mas
setores como automóveis e máquinas e equipamentos intensificaram suas perdas, o
que impactou o número geral da produção no estado”, explica.
Para o economista, a retração no consumo das famílias e as incertezas em relação ao futuro são os fatores que mais pensam sobre os setores automotivo e de bens de capital. No entanto, conforme as medidas de afrouxamento do isolamento social vão sendo colocadas, a retomada de outros setores da economia leva a uma resposta positiva da indústria.
“Claro que este movimento será
diferente para cada segmento. É muito difícil prever com qual velocidade e em
quanto tempo poderemos ter uma retomada desses setores. No caso da indústria
automotiva, além da insegurança do consumidor, as exportações, que já indicavam
uma tendência de queda por fatores econômicos, caíram ainda mais com a
pandemia, afetando toda a cadeia produtiva, o que sugere que o caminho da
recuperação será mais longo”, comenta.

Investimento e caminhos para inovação

O cenário de incertezas também afeta diretamente os investimentos da indústria. A queda de produção do segmento de máquinas e equipamentos (bens de capitais) é um reflexo desse movimento. Entretanto, cada setor precisa ser analisado de maneira independente. Aqueles que se mantiveram estáveis ou seguem apresentando índices de crescimento na pandemia, como alimentação e construção civil, estão mais otimistas segundo o economista.
“Não estamos acompanhando
anúncios de grandes investimentos por parte da indústria neste ano. Claro que
há exceções, mas os principais aportes são do poder público. O governo do
estado, inclusive, anunciou recentemente o investimento de R$ 4 bilhões em
obras de infraestrutura, o que vai aquecer ainda mais o setor de construção
civil, que já vinha liderando a oferta de empregos no Paraná”, avalia Felippe.
Com ou sem grandes investimentos, o que a pandemia de coronavírus evidenciou é a necessidade, tanto da indústria, como do comércio, de diversificar os seus canais de venda. No caso específico da atividade industrial, adaptações de processos de produção e novos ou melhores produtos são algumas alternativas que o industrial tem para inovar neste período – e no futuro. Isso pode ou não envolver investimento em novas ou melhores tecnologias.
“Aportes financeiros são importantes para a inovação, mas isso não significa que inovar seja algo caro. A mudança de cultura de uma empresa já pode ser um passo importante para a inovação. A parceria com outras empresas, startups e entidades pode ser outro caminho que não necessita, de imediato, um grande investimento em tecnologia, por exemplo. O importante é pensar que a realidade não se dá só por números, mas na ordem prática. Isso significa buscar soluções que, realmente, tragam resultados”, aponta Augusto Cesar Machado, pesquisador e líder de projetos do Observatório da Indústria do Sistema Fiep.
À frente da Bússola da Inovação, uma iniciativa pioneira no Brasil que identifica o status de iniciativas inovadoras da indústria paranaense desde 2010, Machado comenta que muitas empresas desconhecem editais de captação de recursos, como os do Senai, Fundação Araucária e de outras entidades regionais e nacionais. “O conceito de inovação aberta mesmo, que envolve a colaboração entre empresas ou startups, ou de empresas com universidades e institutos especializados, ainda não é tão explorado pelas empresas. Ou seja, ainda temos muito que fazer para fomentar a inovação. E isso começa pelo conhecimento”, sinaliza.

Status da inovação da indústria paranaense

Mais que identificar o status de inovação da indústria por meio de uma coleta de dados em sua plataforma virtual, a Bússola da Inovação fornece às empresas um diagnóstico personalizado com orientações e inovações para ajudar na tomada de decisão e melhorias nos processos de inovação. Ao completar a pesquisa, a plataforma gera, automaticamente, um documento que indica pontos fortes, fracos e o que pode ser melhorado em cada indústria. “O industrial só consegue administrar aquilo que ele consegue medir e, pelo diagnóstico, ele tem orientações estratégicas para potencializar o cenário da inovação em sua empresa", diz Machado.
A plataforma também
disponibiliza, a cada dois anos, um perfil com os resultados da inovação do
estado. O último foi publicado em 2019, com dados de 906 empresas participantes
da pesquisa. O desenvolvimento de novos produtos e a melhoria de bens e
serviços foram as principais estratégias de inovação adotadas pelas empresas,
cada uma delas com 57% de ações realizadas. A melhoria de processos produtivos
e a melhoria de práticas de gestão ficaram empatadas em segundo lugar, com 49%
de iniciativas realizadas. O desenvolvimento de novos processos completa a
lista de resultados, com 41% de ações.
Uma mesma indústria pode ter
realizado mais de um tipo de iniciativa de inovação. Por isso a soma do
percentual por categoria ultrapassa os 100%. 
Dentre os segmentos da atividade industrial do Paraná, os que mais
apresentaram ações de inovação foram os de tecnologia da informação (17%),
alimentos e bebidas (12%), construção civil (10%), bens de capital (9%),
indústria têxtil (9%) e madeiras e móveis (9%). De todas as empresas
participantes, 81% são de micro e pequeno porte e 19%, de médio e grande porte.
De acordo com Machado, segundo
dados de 2018 do IBGE, a indústria do Paraná é composta por 97% de micro e
pequenas empresas e 3% de médias e grandes. Quanto menor a indústria, maior a
necessidade de criar formas de aprendizado para a inovação. Foi por isso que,
desde 2016, a Bússola tem oferecido, em paralelo à coleta de dados, workshops e
treinamentos em diferentes cidades do estado a fim de levar mais informações
para o industrial.
“Além do diagnóstico gerado pela plataforma, a Bússola já beneficiou mais de 3 mil indústrias, levando conhecimento e informação para os empreendedores do estado. Dessa forma, acreditamos estar incentivando a cultura de inovação no Paraná, um processo que também passa pela transformação digital, algo que está além da tecnologia. Para inovar, é preciso pensamento estratégico, e isso significa que é preciso saber como e onde inovar, desenvolver habilidades que possam tornar esse processo viável e com resultados efetivos. Usar tecnologia sem saber como empregá-la e sem benefícios reais não significa inovação”, comenta Machado.

Indústria 4.0

Para o pesquisador, o futuro da
indústria passa pela transformação digital preconizada pela quarta revolução
industrial. Este processo já é uma realidade e, cada vez mais, ele demanda
saberes mais complexos. “É um processo de inserção tecnológica que leva ao
desenvolvimento de competências que vão além da simples operação de sistemas. A
inteligência artificial (AI) e a internet das coisas (IoT) são exemplos de como
a tecnologia será capaz de mudar a realidade e como nos relacionamos com ela,
exigindo de nós novas ou melhores habilidades”.
O conceito de indústria 4.0 envolve processos que integram o mundo físico ao digital em sistemas chamados cyber-físicos. Armazenamento de dados em nuvens, processos de automação por voz e máquinas que operam conectadas à internet ou reproduzem o raciocínio e comportamentos humanos são alguns exemplos de como a quarta revolução industrial já está presente em alguns aspectos da vida cotidiana, e muito aplicada à realidade industrial.
Máquinas que operam conectadas
umas às outras, comunicando-se e transmitindo dados entre si. Esta poderia ser
uma definição para a chamada internet das coisas, ou Internet of Things (IoT),
em inglês. Um dos exemplos mais conhecidos é a Alexa, da Amazon, um sistema
inteligente que conecta diferentes aparelhos domésticos acionados por comando
de voz. “Alexa, ligue a tv” ou “Alexa, tocar playlist de rock” são duas de
muitas possibilidades possíveis, acionadas pelo sistema.
Na indústria, processos automatizados que interligam uma máquina a outra, gerando dados e possibilitando maior eficiência operacional já são uma realidade em muitas atividades. Aos poucos, esses processos digitais estão simplificando as operações e eliminando gastos com infraestrutura, por exemplo. No caso da Furukawa Electric LatAm, com sede em Curitiba, a IoT tem simplificado e automatizado a coleta de dados em tempo real da produção, com máquinas que geram informações importantes para controle e eficiência produtiva.

Internet das Coisas aplicada à indústria

Uma das empresas líderes em
telecomunicações no Brasil e América Latina, a Furukawa Electric LatAm produz
soluções de conectividade e redes de comunicação, incluindo cabos, conectores e
fibra ótica. Pertencente ao grupo japonês Furukawa Electric, a empresa está
presente no Brasil desde 1974, com mais duas fábricas nacionais, além de
Curitiba, e também na Argentina, Colômbia e México.
De acordo com o gerente de
desenvolvimento de software e equipamentos da Furukawa Electric LatAm, Sérgio
Scarpin, a introdução de sistemas operando com IoT foi uma iniciativa da área
de automação da empresa. A inclusão desses sistemas envolveu uma rede de apoio com
startups parceiras e incubadas, além de entidades como a Fiep, para complementar
a engenharia de fábrica como forma de iniciar o desenvolvimento de processos em
IoT em suas próprias plantas. Atualmente, a comercializa uma linha de produtos
de rede para suportar as aplicações de IoT na indústria de modo geral.
“Colocamos sensores de controle e
fizemos adaptações com IoT em nossa linha de produção. Isso aumentou nosso
conhecimento sobre a eficiência energética e operacional das nossas fábricas.
Por meio desses sistemas, conseguimos monitorar a produção em todas as suas
etapas, com informações em tempo real. Para as linhas de produtos em
telecomunicações por fibra, nosso principal segmento, desenvolvemos sensores e
uma plataforma de software em nuvem para a infraestrutura das redes. Desta
forma, nós e o cliente temos como monitorar qualquer ocorrência, podendo agir
de maneira mais rápida quando há a necessidade de reparos ou mesmo antes que um
problema possa afetar o usuário final”, explica.
Um exemplo disso são as caixas
terminais de operadoras de internet, de onde saem as conexões para os assinantes.
A Furukawa atende a muitas empresas deste segmento. E é muito comum que danos
ocorram a esses dispositivos, seja por questões climáticas, acidentes ou mesmo
furtos. “Uma caixa terminal fixada em um poste pode sofrer algum desses
incidentes. Com os sensores e um software em nuvem, temos como monitorar essas
situações, evitando saber do problema só depois do usuário reclamar com a
operadora”, comenta Scarpin.
A introdução do IoT na Furukawa
Electric LatAm é parte de processo de inovação que a empresa busca constantemente
para ofertar produtos e serviços que gerem mais resultados com investimentos
menores por parte de seus clientes. “Estamos sempre evoluindo os sistemas de
conectividade para que eles sejam cada vez mais eficientes. Equipamentos com
tecnologias similares às usadas em redes de fibra ótica para residências podem
ser aplicados a redes corporativas, principalmente aquelas com grandes estruturas,
como uma grande planta industrial, por exemplo, substituindo as redes de cobre,
mais limitadas, e diminuindo a necessidade de salas ou outras infraestruturas
de energia e climatização. A utilização da fibra ótica permite sistemas mais
simples, o que diminui os custos de operação e manutenção”, conta.

Inovação aberta

Para Scarpin, o investimento em
inovação é fundamental para a manutenção do negócio. Oferecer a melhor solução
em produtos e serviços exige investimento e pesquisa para que a empresa
continue relevante e competitiva no mercado. No caso da Furukawa e de outras
empresas do setor de telecomunicações, a evolução do mercado de IoT aponta para
uma tendência de novos sistemas e serviços cada vez mais customizados para
diferentes setores, com soluções interligadas em nuvem o tempo todo.
“Você só consegue chegar a soluções
assim por meio de parcerias. A colaboração com startups tem sido muito
importante para o desenvolvimento de soluções cada vez mais personalizadas para
atender demandas de mercado. Isso tem contribuído para a formatação de produtos
melhores e mais eficientes para o mercado”, revela.
Em seus 57 anos, a Cocamar sabe
bem a importância das parcerias para criar soluções cada vez melhores para o
mercado. Uma das maiores cooperativas agrícolas do Brasil, a empresa que nasceu
em Maringá reúne mais de 15 mil produtores associados no Paraná, São Paulo e
Mato Grosso do Sul, com unidades fabris nos três estados, nas quais produz
óleos de soja, milho, girassol e canola, além de café torrado e moído, sucos e
néctares de frutas, bebidas à base de soja, farinha de trigo e outros produtos,
como fios de algodão e fios ecológicos.
Neste ano, a Cocamar recebeu
safras recordes de soja e milho, parte delas destinadas para a exportação. A
expectativa de faturamento até o final de 2020 é de R$ 6 bilhões, cerca de 29%
a mais que no ano de 2019, mesmo com a pandemia. O resultado da indústria colabora
para os resultados positivos do segmento de alimentação no estado neste ano.
Desde 2017, a Cocamar tem investido
em pesquisa e desenvolvimento de novas práticas produtivas alinhadas aos
conceitos de indústria 4.0. Parcerias com entidades como o Senai, universidades,
startups e aceleradoras foram uma das maneiras encontradas para chegar a
projetos que, hoje, estão em desenvolvimento na indústria. De acordo com Paula Rebelo,
gerente de TI e gestão da Cocamar, várias iniciativas estão sendo executadas pela
empresa em áreas como Inteligência Artificial, Internet das Coisas e melhoria
de processos.
“O caminho de inovação aberta trouxe iniciativas importantes para a Cocamar, com projetos realizados dentro da indústria e também com foco no cooperado. Atuamos em parceria com aceleradoras de statups, como a Evoa, de Maringá, e outras instituições. Também somos um dos mantenedores do hub de Inteligência Artificial do Senai de Londrina, com o qual estamos desenvolvendo um projeto de diagnóstico de grãos que envolve também o produtor”, conta.

Inovação como pilar de desenvolvimento

Segundo Alair Zago, superintendente
administrativo e financeiro da Cocamar, a história da cooperativa está ligada à
inovação, principalmente de processos que trouxessem mais valor para a
produção. Desde 2015, a atenção da empresa está no desenvolvimento de soluções
que beneficiem a produção, os associados e a produção. “A Cocamar sempre investiu
em inovação, um dos pilares da empresa nos últimos anos. Pensando em futuro,
estamos buscando soluções digitais que contribuam para uma agricultura de
precisão, beneficiando o cooperado”, comenta.
O monitoramento de culturas agrícolas
por drones e satélites já é uma realidade na cooperativa. Este processo gera
informações mais precisas que colaboram para o plantio, evolução da cultura e
colheita. Em relação à utilização da IA, algumas iniciativas como o projeto
Agrônomo Digital está permitindo a análise de imagens por meio de um software
que faz um pré-diagnóstico dos grãos para indicar soluções para a cultura,
antes da colheita da safra. Outro projeto permite que apenas plantas com
problemas sejam pulverizadas por meio de um diagnóstico elaborado com a
utilização da Inteligência Artificial.
“Este processo tende a mudar a
visão tradicional da agricultura, com a pulverização apenas nas plantas que necessitam
e não em toda a cultura. Isso permite uma ação mais pontual na utilização de
agrotóxicos, também reduzindo custos e gerando mais eficiência produtiva”,
explica Zago.
A empresa também investe em
monitoramento de safras armazenadas por meio de sensores, utilizando a Internet
das Coisas para avaliar condições de estocagem. Outro projeto de IoT, em
parceria com a fabricante de equipamentos agrícolas John Deere do Brasil, está
levando tecnologia para conectar equipamentos agrícolas por meio de módulos
inteligentes que garantem mais eficiência produtiva, sem desperdício,
principalmente em relação à pulverização. A tecnologia, que está sendo
desenvolvida para novos equipamentos, já permitiu a criação de um piloto
automático para máquinas mais antigas para torna-las mais inteligentes.
A Cocamar é a primeira
cooperativa do mundo a formar uma parceria com a líder americana de máquinas e
equipamentos agrícolas. Todos os projetos, no entanto, ainda estão em fase inicial,
segundo Zago. “Estamos dando os primeiros passos em processos que serão
diferenciais no futuro. Se quisermos continuar competitivos, temos de investir
em inovação para trazer soluções melhores para conquistar o mercado”, pondera.
De acordo com Zago, o primeiro
passo para a inovação é o conhecimento. Para isso, ele avalia que não é preciso
fazer grandes investimentos. “Conhecimento é democrático e todo o setor agrícola
está preocupado em encontrar soluções sempre melhores. Uma vantagem que temos
no Paraná em relação a outros estados é que, aqui, nossas cooperativas são
muito organizadas e bem estruturadas. Mas a inovação não é um processo rápido.
Ela exige, sim, investimentos e pesquisas, tentativas e erros, e traz muitos
desafios. Estamos caminhando para resolver alguns deles, mas há muito o que
fazer”, revela.
Um desses desafios está na conectividade com o campo, um longo caminho a ser percorrido ainda, segundo Zago. Para ele, chegar a 100% de conexão é uma tarefa difícil, que envolve o desenvolvimento de tecnologias por meio de parcerias e investimentos. Reservas financeiras são um dos aspectos da cultura da inovação. Sem ela, o empreendedor pode perder oportunidades no futuro. No caso da Cocamar, a empresa destina, anualmente, entre R$ 5 mi e R$ 10 mi para projetos de inovação.