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O projeto da ABRH-PR, idealizado pela diretoria da entidade, surge como uma ferramenta de transformação focada em histórias reais. Crédito: Divulgação.

Diversidade: Vida, Vozes e Trabalho

ABRH-PR lança podcast para inspirar mudanças no mercado de trabalho; equidade racial é tema do primeiro episódio

Bruno Raphael Müller
Bruno Raphael Müller
16/09/2025 15:59
Em uma iniciativa que busca traduzir a teoria em prática, a Associação Brasileira de Recursos Humanos do Paraná (ABRH-PR) estreou seu novo podcast, “Diversidade: Vida, Vozes e Trabalho”. O projeto, idealizado pela diretoria voluntária de diversidade da entidade, sob a liderança de Cláudia Malschitky, surge como uma ferramenta de transformação, focada em histórias reais e em ações concretas. A proposta central é ir além do discurso para demonstrar que a inclusão é um trabalho árduo, mas com resultados notáveis.
A série, que terá seus episódios disponibilizados no canal do GazzConecta no YouTube, foi concebida para um público vasto e estratégico: profissionais de RH, lideranças, estudantes e todos que veem no capital humano o motor de uma organização. 
O objetivo do podcast, conforme explica Cláudia, é se tornar um espaço de informações e conexões sobre diversidade, com foco inicial em três pilares essenciais: mulheres, população LGBTQIA+ e equidade racial. Essa abordagem não apenas sensibiliza, mas também capacita, fornecendo exemplos práticos e inspiradores. 

Racismo estrutural: a causa e o negócio

Já no episódio de estreia, o podcast mergulhou em um dos temas mais complexos e urgentes da diversidade: o racismo estrutural no ambiente corporativo. Para o debate, foi convidada Roberta Kisy, vice-coordenadora da Reafro/PR, que trouxe uma perspectiva pessoal e analítica sobre a questão. Sua fala revelou uma lacuna no mercado de trabalho: a ausência de pessoas negras, especialmente em posições de liderança e gestão.
O conceito de racismo estrutural foi minuciosamente explicado por Roberta, que o definiu como um fenômeno enraizado na própria sociedade, presente nas escolas, nas empresas e nas relações cotidianas. Um dos maiores entraves, segundo ela, é o viés inconsciente, um tipo de preconceito que se manifesta de forma automática, muitas vezes sem a pessoa perceber. 
"É um pensamento que sai automático", explicou. “Esse viés é tão onipresente que até mesmo pessoas negras podem internalizá-lo, não se percebem nesse lugar de invisibilidade, de subordinação, de bastidores, porque está ‘tudo bem’ e é inconsciente". Para desvendá-lo, é preciso um olhar estatístico, que mostra a desigualdade nas oportunidades e nos cargos de liderança.
O diálogo, mediado por Érica Paes, diretora de pessoas e cultura da Multiloja, avançou para a discussão sobre a eficácia de ações afirmativas, o que, no mercado de trabalho, podem ser resumidas a políticas e práticas adotadas com o objetivo de promover a igualdade de oportunidades para grupos historicamente marginalizados ou sub-representados.
A finalidade é corrigir a exclusão social e a discriminação, garantindo que profissionais de grupos como a população negra, pessoas com deficiência e mulheres, por exemplo, tenham acesso justo a processos de seleção, cargos e ascensão profissional. Em vez de apenas se basearem apenas no mérito individual, essas medidas buscam remover barreiras e criar um ambiente de trabalho mais diverso e equitativo.
A conversa também trouxe uma distinção fundamental entre os conceitos de diversidade e inclusão. "A diversidade é um fato. O Brasil é diverso, só não vê quem quer", afirmou Roberta. "A inclusão é um ato concreto, cotidiano, consciente e aberto às oportunidades", completou. 
O podcast reforça a ideia de que a diversidade não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas um imperativo de negócio. “A diversidade não é causa, diversidade é negócio”, disse Cláudia. 
“Empresas com equipes diversas promovem a pluralidade de pensamento, geram mais inovação e compreendem melhor seus clientes, ganhando vantagem competitiva”, ponderou Cláudia. Roberta complementou: "As empresas que têm essa visão global já estão na frente e elas, além disso, diminuem seus impostos, elas são reconhecidas e têm lucratividade. É negócio".

Papel de comitês e consultorias

O episódio não se limitou a expor os problemas, mas também apontou soluções práticas. A falta de comprometimento de algumas empresas que têm um discurso bonito, mas pouca ação, foi criticada. A criação de comitês de diversidade dentro das empresas foi apresentada como uma ferramenta vital. 
"Um comitê vai trazer a linguagem, comunicação e a intenção de afirmativas para dentro da empresa como um recurso de produtividade", explicou Roberta. Esses grupos, compostos por membros de diferentes perfis, têm a missão de identificar gargalos e implementar ações internas. 
Érica Paes também destacou a importância de contar com o apoio de consultores especializados. Para ela, a expertise de profissionais experientes evita que as empresas percam tempo e garante a efetividade das ações concretas na área.
Quais as ações necessárias para, de fato, uma empresa abraçar a diversidade foi a provocação final do episódio, que pode ser conferido na íntegra abaixo. Assista, compartilhe e participe desta discussão importante.
Confira o episódio de estreia do podcast “Diversidade: Vida, Vozes e Trabalho” com Roberta Kisy sobre equidade racial.